GRUPO ESPÍRITA AGOSTINHO E TEREZA DE JESUS

O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; Como filosofia, compreende todas as consequências morais que faz brotar dessas mesmas relações. Podemos defini-lo assim: Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bom como de suas relações com o mundo corporal.

E ainda, o Espiritismo é uma ciência nova que vem revelar aos homens, por meios de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele nos mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém ao contrário, como uma das forças vivas sem cessar atuantes da natureza, como fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e , por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo refere-se em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que Ele disse permaneceu obscuro ou falsamente interpretado.

O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil.

Allan Kardec


Páginas

terça-feira, 30 de abril de 2024

Quem somos






     O Grupo Espírita tem por finalidade o estudo e a prática da Doutrina Espírita, segundo os ensinos codificados por Allan Kardec.
   Contamos com 2 reuniões públicas por semana (2ª e 6ª) com palestra e passes (temporariamente suspensas). 
   O G.E.A.T.J foi fundado em 27 de julho de 1926 e está situado na Rua Francisco, 31 - Praça Seca - Rio de Janeiro - Cep: 21320-190 - Tel. 99712-3850 
 geagostinhoeterezadejesus@gmail.com

Seja bem-vindo ao Grupo Espírita Agostinho Tereza de Jesus !

Reuniões, Campanhas, Doações e Eventos.

2ª Feira
Reunião Pública com Palestra e Passes -  (Das 19:45 às 21:15 H.)

3ª Feira
Atendimento Fraterno (aconselhamento e orientação particular) - (Das 19:45 às 21:15 H.)


6ª Feira
Reunião Pública com Palestra e Passes - (Das 19:45 às 21:15 H.)

OBS - ATIVIDADES TEMPORARIAMENTE SUSPENSAS
 
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CAMPANHAS E DOAÇÕES

    Roupas e calçados (adulto / infantil); Acessórios;  Materiais para manutenção das instalações; Livros espíritas;   Alimentos     não perecíveis; Óleo usado em frituras; Material de limpeza;             Utilidades em geral, etc.
     Se desejar , faça parte do quadro de associados, ou podendo colaborar eventualmente com a manutenção e conservação das instalações e desenvolvimento das atividades. 

DOE-SE AO VOLUNTARIADO

     Faça parte do quadro de trabalhadores do GEATJ. Ajudando nas atividades, e aumentando essa corrente de Amor e Caridade.

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BRECHÓ BENEFICENTE

- 05, 06, 08, 10, 11, 12, 13, 15,

17 e 18 de Maio.

- Roupas e Calçados (Adulto e Infantil)

 - Acessórios

- Utilidades

- Tecidos

 

- Horário – Das 9h às 18h.



 

 




 

Juventude




                            “Quando esse ou aquele companheiro se nos distancia, deixando-nos a sós na Seara do Bem, habitualmente a nossa reação inicial é de choque e desagrado.

     Recordamos para logo os votos em comum, as atividades partilhadas, as esperanças e os sonhos das horas primeiras...

     Entretanto, embora devamos resguardar intacto o amor por eles, não é o sentimento negativo de amargor ou censura que a vida espera de nós outros, nessas circunstâncias.

     É preciso entendê-los e acatá-los, antes de tudo. Lembrá-los no bem que nos fizeram, nas luzes que acenderam. E, ante a ausência, considerar as possíveis razões que a ditaram.                                 

     Esse se viu defrontado por obstáculos que não logrou vencer; aquele entrou a experimentar a enfermidade complexa; outro não achou em si a força necessária para garantir a própria esperança, e outro ainda passou imperceptivelmente a faixas de obsessão oculta. E se integramos determinada equipe de trabalho, como condenar os companheiros doentes ou acidentados em serviço?

     Claro que, em se verificando isso, nos cabe o dever de entregá-los a organizações capazes de restaurá-los, e continuar trabalhando, substituindo-os, quanto nos seja possível, na empresa em andamento.                           

     Diante dos amigos que nos deixam nas frentes da luta edificante, procuremos honrá-los e abençoá-los com os nossos melhores pensamentos de carinho e de gratidão. E reconhecendo, acima de tudo, que nos achamos todos submetidos à Sabedoria e à Misericórdia do Senhor, compete-nos a obrigação de compreender-nos e auxiliar-nos, uns aos outros, em quaisquer circunstâncias, na certeza de que, se o Senhor nos permite a mudança de atividade quando assim desejamos - e já nos achamos credenciados para colaborar com ele, nas construções do Evangelho -, isso se verifica a fim de que aprendamos, na escola da experiência, a servi-lo na Obra de Redenção e Aperfeiçoamento do Mundo, sempre mais, e melhor.”

     

Rumo Certo – 17.

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Senhor Jesus!

Por nossa própria imprevidência,

Embora a evolução que nos reveste,

O sofrimento áspero, profundo,

Invade, canto a canto, os distritos do mundo

E espalha o pranto e sombra ante o esplendor celeste.


Avança a Terra pelo espaço afora,

Carregando conquistas

Que lhe garantem plena exaltação.

Máquinas jamais vistas

Efetuam serviços colossais;

Satélites, além, na rota em que se vão,

Oferecem notícias e sinais.

Computadores poupam energias

Ou se fazem vigias

De caminhos e forças siderais.

E o homem, desde os céus ao subsolo,

Leva o próprio domínio polo a polo.

 

Entretanto, Senhor!

Em todos os lugares,

Há quem se desconforte,

No imenso festival de riqueza e cultura,

Transportando consigo a vocação da morte,

De coração cansado, ante a vida insegura.

Destacamos, Jesus, os que caem de tédio,

Que gastaram o tempo e o corpo sem proveito,

E são hoje doentes quase sem remédio

Na angústia sem razão que lhes oprime o peito.

Falamos dos que morrem na saudade,

Dos corações queridos que partiram

Para a imortalidade,

E tateiam chorando, ante a Vida Maior,

Vasos de cinza e pedra em derredor

Das lágrimas que vertem...

Falamos dos drogados,

Dos que largaram de servir,

Dos que se dizem desesperançados

Ante a luz do porvir;

Dos que afirmam que a fé

Hoje se guarda apenas em museus,

E proclamam, gritando desenfreados,

Que a ciência na Terra é a derrota de Deus.


É por isto, Senhor, que nós Te suplicamos :

Não nos deixes temer o vozeirão das trevas ;

Da Infinita Bondade a que Te elevas,

Concede-nos a força da humildade

De modo a trabalharmos, dia-a-dia,

Em Teu reino de luz e de verdade.

Ajuda-nos, Senhor,

A esquecer-nos, a fim de acompanhar-Te,

Cooperando Contigo em qualquer parte.

Acolhe-nos no amor com que nos guardas,

Na condição de servos teus.

Porque, apesar de sermos pequeninos,

Encontramos, Senhor, em Teus ensinos,

A presença de Deus.

 

Maria Dolores

 

Amanhece – 4.







                 

Revista Espírita - Realização Espiritual



                             “Quando apareceram os primeiros fenômenos espíritas, algumas pessoas pensaram que essa descoberta – se podemos aplicar-lhe esse nome – ia desfechar um golpe fatal no magnetismo e que com ele ocorreria o mesmo que aconteceu com as demais invenções: a mais aperfeiçoada faz esquecer a precedente. Tal erro não tardou em dissipar-se e prontamente se reconheceu o parentesco dessas duas ciências. Ambas, com efeito, baseadas sobre a existência e a manifestação da alma, longe de se combaterem, podem e devem prestar-se um mútuo apoio: completam-se e se explicam uma pela outra. Seus respectivos adeptos, entretanto, diferem sobre alguns pontos: certos magnetistas¹ não admitem ainda a existência ou, pelo menos, a manifestação dos Espíritos; acreditam poder tudo explicar tão só pela ação do fluido magnético, opinião que nos limitamos a constatar, reservando-nos discuti-la mais tarde. Nós mesmos a partilhávamos, no início; mas, como tantos outros, tivemos que nos render à evidência dos fatos. Os adeptos do Espiritismo, ao contrário, são todos partidários do magnetismo; admitem sua ação e nos fenômenos sonambúlicos reconhecem uma manifestação da alma. Essa oposição, aliás, se enfraquece a cada dia, e é fácil prever que não está longe o tempo em que toda distinção terá cessado. Essa divergência de opinião nada tem que deva surpreender. Nos primórdios de uma ciência ainda tão nova é muito natural que cada um, encarando as coisas do seu ponto de vista, haja formado  uma ideia diferente. As ciências mais positivas tiveram sempre, e têm ainda suas seitas, sustentando com ardor teorias contrárias; os sábios ergueram escolas contra escolas, bandeira contra bandeira e, muito frequentemente para sua dignidade, sua polêmica, tornada irritante e agressiva pelo amor-próprio ferido, saiu dos limites de uma sábia discussão. Esperamos que os partidários do magnetismo e do Espiritismo, mais bem inspirados, não deem ao mundo o escândalo de discussões tão pouco edificantes e sempre fatais à propagação da verdade, seja qual for o lado em que ela esteja. Podemos ter nossa opinião, sustentá-la, discuti-la; mas o meio de nos esclarecermos não é nos estraçalhando, procedimento sempre pouco digno de homens sérios e que se torna ignóbil se o interesse pessoal está em jogo.  

   ¹ Magnetizador é o que pratica o magnetismo; magnetista se diz de alguém que lhe adote os princípios. Pode-se ser magnetista sem ser magnetizador; mas não se pode ser magnetizador sem ser magnetista                              

     O magnetismo preparou o caminho do Espiritismo, e o rápido progresso desta última doutrina se deve, incontestavelmente, à vulgarização das ideias sobre a primeira. Dos fenômenos magnéticos, do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas não há mais que um passo; tal é sua conexão que, por assim dizer, torna-se impossível falar de um sem falar do outro. Se tivéssemos que ficar fora da ciência magnética, nosso quadro seria incompleto e poderíamos ser comparados a um professor de física que se abstivesse de falar da luz. Todavia, como entre nós o magnetismo já possui órgãos especiais justamente acreditados, seria supérfluo insistirmos sobre um assunto que é tratado com tanta superioridade de talento e de experiência; a ele, pois, não nos referiremos senão acessoriamente, mas de maneira suficiente para mostrar as relações íntimas entre essas duas ciências que, a bem da verdade, não passam de uma.                          

     Devíamos aos nossos leitores essa profissão de fé, que terminamos prestando uma justa homenagem aos homens de convicção que, afrontando o ridículo, os sarcasmos e os dissabores devotaram-se corajosamente à defesa de uma causa toda humanitária. Qualquer que seja a opinião dos contemporâneos sobre o seu proveito pessoal, opinião que de uma forma ou de outra é sempre o reflexo das paixões vivazes, a posteridade far-lhes-á justiça; ela colocará os nomes do barão Du Potet, diretor do Journal Du Magnétisme, do Sr. Millet, diretor da Union magnétique, ao lado de seus ilustres predecessores, o marquês de Puységur e o sábio Deleuze. Graças aos seus perseverantes esforços o magnetismo, popularizado, fincou o pé na ciência oficial, onde dele já se fala aos cochichos. Esse vocábulo já passou à língua comum; já não afugenta mais e, quando alguém se diz magnetizador, não lhe riem mais no rosto.”

    

Revista Espírita 03/1858 - Magnetismo e Espiritismo.

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          Desejando colher valores educativos que fluíam naturalmente da palestra, perguntei, curioso:

     – Desempenhando tantos deveres, a senhora ainda tem atribuições fora de casa?

     – Sim; vivemos numa cidade de transição; no entanto, as finalidades da colônia residem no trabalho e no aprendizado. As almas femininas, aqui, assumem numerosas obrigações, preparando-se para voltar ao planeta ou para ascender a esferas mais altas.

     – Mas a organização doméstica, em "Nosso Lar", é idêntica à da Terra?

     A interlocutora esboçou uma facies muito significativa e acrescentou:

     – O lar terrestre é que, de há muito, se esforça por copiar nosso instituto doméstico; mas os cônjuges por lá, com raras exceções, estão ainda a moldar o terreno dos sentimentos, invadido pelas ervas amargosas da vaidade pessoal e povoado de monstros do ciúme e do egoísmo. Quando regressei do planeta, pela última vez, trazia, como é natural, profundas ilusões. Coincidiu, porém, que, na minha crise de orgulho ferido, fui levada a ouvir um grande instrutor, no Ministério do Esclarecimento. Desde esse dia, nova corrente de ideias me penetrou o espírito.

     – Não poderia dizer-me algo das lições recebidas? – indaguei com interesse.

     – O orientador, muito versado em matemática – prosseguiu ela -, fez-nos sentir que o lar é como se fora um ângulo reto nas linhas do plano da evolução divina. A reta vertical é o sentimento feminino, envolvido nas inspirações criadoras da vida. A reta  horizontal é o sentimento masculino, em marcha de realizações no campo do progresso comum. O lar é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável. É templo, onde as criaturas devem unir-se espiritual antes que corporalmente. Há na Terra, agora, grande número de estudiosos das questões sociais, que aventam várias medidas e clamam pela regeneração da vida doméstica. Alguns chegam a asseverar que a instituição da família humana está ameaçada. Importa considerar, entretanto, que, a rigor, o lar é conquista sublime que os homens vão realizando vagarosamente. Onde, nas esferas do globo, o verdadeiro instituto doméstico, baseado na harmonia justa, com os direitos e deveres legitimamente partilhados? Na maioria, os casais terrestres passam as horas sagradas do dia vivendo a indiferença ou o egoísmo feroz. Quando o marido permanece calmo, a mulher parece desesperada; quando a esposa se cala, humilde, o companheiro tiraniza. Nem a consorte se decide a animar o esposo, na linha horizontal de seus trabalhos temporais, nem o marido se resolve a segui-la no voo divino de ternura e sentimento, rumo aos planos superiores da Criação. Dissimulam em sociedade e, na vida íntima, um faz viagens mentais de longa distância, quando o outro comenta o serviço que lhe seja peculiar. Se a mulher fala nos filhinhos, o marido excursiona através dos negócios; se o companheiro examina qualquer dificuldade do trabalho, que lhe diz respeito, a mente da esposa volta ao gabinete da modista. É claro que, em tais circunstâncias, o ângulo divino não está devidamente traçado. Duas linhas divergentes tentam, em vão, formar o vértice sublime, a fim de construírem um degrau na escada grandiosa da vida eterna.

     Esses conceitos calavam-me fundo e, sumamente impressionado, observei:

     – Senhora Laura, essas definições suscitam um mundo de pensamentos novos. Ah! se conhecêssemos tudo isso lá na Terra!...

     – Questão de experiência, meu amigo - replicou a nobre matrona -, o homem e a mulher aprenderão no sofrimento e na luta. Por enquanto, raros conhecem que o lar é instituição essencialmente divina e que se deve viver, dentro de suas portas, com todo o coração e com toda a alma. Enquanto as criaturas vulgares atravessam a florida região do noivado, procuram-se mobilizando os máximos recursos do espírito, e daí o dizer-se que todos os seres são belos quando estão verdadeiramente amando. O assunto mais trivial assume singular encanto nas palestras mais fúteis. O homem e a mulher comparecem aí, na integração de suas forças sublimes. Mas logo que recebem a bênção nupcial, a maioria atravessa os véus do desejo e cai nos braços dos velhos monstros que tiranizam corações. Não há concessões recíprocas. Não há tolerância e, por vezes, nem mesmo fraternidade. E apaga-se a beleza luminosa do amor, quando os cônjuges perdem a camaradagem e o gosto de conversar. Daí em diante, os mais educados respeitam-se; os mais rudes mal se suportam. Não se entendem. Perguntas e respostas são formuladas em vocábulos breves. Por mais que se unam os corpos, vivem as mentes separadas, operando em rumos opostos.                                   

     – Tudo isso é a pura verdade! - aduzi comovido.

     – Que fazer, porém, meu amigo? - replicou a bondosa senhora - na fase atual evolutiva do planeta, existem na esfera carnal raríssimas uniões de almas gêmeas, reduzidos matrimônios de almas irmãs ou afins, e esmagadora porcentagem de ligações de resgate. O maior número de casais humanos é constituído de verdadeiros forçados, sob algemas.

     Procurando retomar o fio das considerações sugeridas por minha pergunta inicial, continuou a genitora de Lísias:

     – As almas femininas não podem permanecer inativas aqui. É preciso aprender a ser mãe, esposa, missionária, irmã. A tarefa da mulher, no lar, não pode circunscrever-se a umas tantas lágrimas de piedade ociosa e a muitos anos de servidão. É claro que o movimento coevo do feminismo desesperado constituí abominável ação contra as verdadeiras atribuições do espírito feminino. A mulher não pode ir ao duelo com os homens, através de escritórios e gabinetes, onde se reserva atividade justa ao espírito masculino. Nossa colônia, porém, ensina que existem nobres serviços de extensão do lar, para as mulheres. A enfermagem, o ensino, a indústria do fio, a informação, os serviços de paciência, representam atividades assaz expressivas. O homem deve aprender a carrear para o ambiente doméstico a riqueza de suas experiências, e a mulher precisa conduzir a doçura do lar para os labores ásperos do homem. Dentro de casa, a inspiração; fora dela, a atividade. Uma não viverá sem a outra. Como sustentar-se o rio sem a fonte, e como espalhar-se a água da fonte sem o leito do rio?

    Não pude deixar de sorrir, ouvindo a interrogação. A mãe de Lísias, depois de longo intervalo, continuou:

     – Quando o Ministério do Auxílio me confia crianças ao lar, minhas horas de serviço são contadas em dobro, o que lhe pode dar ideia da importância do serviço maternal no plano terreno. Entretanto, quando isso não acontece, tenho meus deveres diuturnos nos trabalhos de enfermagem, com a semana de quarenta e oito horas de tarefa. Todos trabalham em nossa casa. A não ser minha neta convalescente, não temos qualquer pessoa da família em zonas de repouso. Oito horas de atividade no interesse coletivo, diariamente, é programa fácil a todos. Sentir-me-ia envergonhada se não o executasse também.

     Interrompeu-se a interlocutora por alguns momentos, enquanto me perdia em vastas considerações...”

 

 

Nosso Lar - 20.

O Que é o Espiritismo - LE






                       Padre. — Concordo que, nas questões gerais, o Espiritismo é conforme às grandes verdades do Cristianismo; dar-se-á, porém, o mesmo em relação aos dogmas?

     Não contradiz ele alguns princípios que a Igreja nos ensina?               

     Allan Kardec — O Espiritismo é, antes de tudo, uma ciência, não cogita de questões dogmáticas. Esta ciência tem consequências morais como todas as ciências filosóficas; essas consequências são boas ou más?

     Pode-se julgá-las pelos princípios gerais que acabo de expor.

     Algumas pessoas se iludem sobre o verdadeiro caráter do Espiritismo. A questão é de grande importância e merece alguns desenvolvimentos. Façamos primeiro um termo de comparação: a eletricidade, estando na Natureza, existiu em todo tempo e produziu sempre os efeitos que hoje observamos e muitos outros que ainda não conhecemos. Na ignorância da sua verdadeira causa, os homens explicavam esses efeitos de um modo mais ou menos extravagante. A descoberta da eletricidade e de suas propriedades veio lançar por terra um punhado de teorias absurdas, espargindo a luz por sobre mais de um mistério da Natureza. O que fizeram a eletricidade e as ciências físicas para certos fenômenos, o Espiritismo o fez para outros de ordem diferente.                                     

     O Espiritismo funda-se na existência de um mundo invisível, formado pelos seres incorpóreos que povoam o espaço e que não são mais que as almas daqueles que viveram na Terra, ou em outros globos, nos quais deixaram seus invólucros materiais. São os seres a que chamamos Espíritos, seres que nos cercam e incessantemente exercem sobre os homens, sem que estes o percebam, uma grande influência, e desempenham papel muito ativo no mundo moral, e mesmo, até certo ponto, no físico.

     O Espiritismo está, pois, em a Natureza e podemos dizer que, numa certa ordem de ideias, é ele uma potência, como a eletricidade o é sob outro ponto de vista, e como ainda a gravitação é uma outra. Os fenômenos, de que o mundo invisível é a fonte, produziram-se em todos os tempos; eis aí por que a história de todos os povos faz deles menção. Somente, em sua ignorância, como se deu com a eletricidade, os homens os atribuíam a causas mais ou menos racionais, e deram, nesse ponto de vista, livre curso à sua imaginação.                                  

     Mais bem observado depois que se vulgarizou, o Espiritismo vem derramar luz sobre grande número de questões, até hoje insolúveis ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não de uma religião; e a prova disso é que ele conta entre os seus aderentes homens de todas as crenças, que por esse fato não renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos que não deixam de praticar todos os deveres do seu culto, quando a Igreja os não repele; protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e mesmo budistas e bramanistas.

     Ele repousa, por conseguinte, em princípios independentes das questões dogmáticas. Suas consequências morais são todas no sentido do Cristianismo, porque de todas as doutrinas é esta a mais esclarecida e pura; razão pela qual, de todas as seitas religiosas do mundo, os cristãos são os mais aptos para compreendê-lo em sua verdadeira essência.

     Podemos exprobrá-lo por isso?

     Cada um pode formar de suas opiniões uma religião e interpretar à vontade as religiões conhecidas; mas daí a constituir nova Igreja, a distância é grande.”

O Que é o Espiritismo - 59.

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     “Qual a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes problemas? É fora de dúvida que, ou as almas são iguais ao nascerem, ou são desiguais. Se são iguais, por que, entre elas, tão grande diversidade de aptidões? Dir-se-á que isso depende do organismo. Mas, então, achamo-nos em presença da mais monstruosa e imoral das doutrinas. O homem seria simples máquina, joguete da matéria; deixaria de ter a responsabilidade de seus atos, pois que poderia  atribuir tudo às suas imperfeições físicas. Se as almas são desiguais, é que Deus as criou assim. Nesse caso, porém, por que a inata superioridade concedida a algumas? Corresponderá essa parcialidade à justiça de Deus e ao amor que Ele consagra igualmente a todas as suas criaturas?                         

     Admitamos, ao contrário, uma série de progressivas existências anteriores para cada alma e tudo se explica. Ao nascerem, trazem os homens a intuição do que aprenderam antes: São mais ou menos adiantados, conforme o número de existências que contem, conforme já estejam mais ou menos afastados do ponto de partida. Dá-se aí exatamente o que se observa numa reunião de indivíduos de todas as idades, onde cada um terá desenvolvimento proporcionado ao número de anos que tenha vivido. As existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para a do corpo. Reuni, em certo dia, um milheiro de indivíduos de um a oitenta anos; suponde que um véu encubra todos os dias precedentes ao em que os reunistes e que, em consequência, acreditais que todos nasceram na mesma ocasião. Perguntareis naturalmente como é que uns são grandes e outros pequenos, uns velhos e jovens outros, instruídos uns, outros ainda ignorantes. Se, porém, dissipando-se a nuvem que lhes oculta o passado, vierdes a saber que todos hão vivido mais ou menos tempo, tudo se vos tornará explicado. Deus, em sua justiça, não pode ter criado almas desigualmente perfeitas. Com a pluralidade das existências, a desigualdade que notamos nada mais apresenta em oposição à mais rigorosa equidade: é que apenas vemos o presente e não o passado. A este raciocínio serve de base algum sistema, alguma suposição gratuita? Não.  Partimos de um fato patente, incontestável: a desigualdade das aptidões e do desenvolvimento intelectual e moral e verificamos que nenhuma das teorias correntes o explica, ao passo que uma outra teoria lhe dá explicação simples, natural e lógica. Será racional preferir-se as que não explicam àquela que explica?                              

     À vista da sexta interrogação acima, dirão naturalmente que o hotentote é de raça inferior. Perguntaremos, então, se o hotentote é ou não um homem. Se é, por que a ele e à sua raça privou Deus dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é, por que tentar fazê-lo cristão? A Doutrina Espírita tem mais amplitude do que tudo isto. Segundo ela, não há muitas espécies de homens, há tão somente homens cujos espíritos estão mais ou menos atrasados, porém todos suscetíveis de progredir. Não é este princípio mais conforme à justiça de Deus?

     Vimos de apreciar a alma com relação ao seu passado e ao seu presente. Se a considerarmos, tendo em vista o seu futuro, esbarraremos nas mesmas dificuldades.             

     1ª Se a nossa existência atual é que, só ela, decidirá da nossa sorte vindoura, quais, na vida futura, as posições respectivas do selvagem e do homem civilizado? Estarão no mesmo nível, ou se acharão distanciados um do outro, no tocante à soma de felicidade eterna que lhes caiba?

     2ª O homem que trabalhou toda a sua vida por melhorar-se, virá a ocupar a mesma categoria de outro que se conservou em grau inferior de adiantamento, não por culpa sua, mas porque não teve tempo, nem possibilidade de se tornar melhor?                               

     3ª O que praticou o mal, por não ter podido instruir-se, será culpado de um estado de coisas cuja existência em nada dependeu dele?

     4ª Trabalha-se continuamente por esclarecer, moralizar, civilizar os homens. Mas, em contraposição a um que fica esclarecido, milhões de outros morrem todos os dias antes que a luz lhes tenha chegado. Qual a sorte destes últimos? Serão tratados como réprobos? No caso contrário, que fizeram para ocupar categoria idêntica à dos outros?

     5ª Que sorte aguarda os que morrem na infância, quando ainda não puderam fazer nem o bem, nem o mal? Se vão para o meio dos eleitos, por que esse favor, sem que coisa alguma hajam feito para merecê-lo? Em virtude de que privilégio eles se veem isentos das tribulações da vida?                   

     Haverá alguma doutrina capaz de resolver esses problemas? Admitam-se as existências consecutivas e tudo se explicará conformemente à justiça de Deus. O que se não pôde fazer numa existência faz-se em outra. Assim é que ninguém escapa à lei do progresso, que cada um será recompensado segundo o seu merecimento real e que ninguém fica excluído da felicidade suprema, a que todos podem aspirar, quaisquer que sejam os obstáculos com que topem no caminho.”

 


O Livro dos Espíritos - 222.   

LM - ESE - CI - AG - OP





                                “São provocados os fenômenos de que acabamos de falar. Sucede, porém, às vezes, produzirem-se espontaneamente, sem intervenção da vontade, até mesmo contra a vontade, pois que frequentemente se tornam muito importunos. Além disso, para excluir a suposição de que possam ser efeito de imaginação sobreexcitada pelas ideias espíritas, há a circunstância de que se produzem entre pessoas que nunca ouviram falar disso e exatamente quando menos por semelhante coisa esperavam.

     Tais fenômenos, a que se poderia dar o nome de Espiritismo prático natural, são muito importantes, por não permitirem a suspeita de conivência. Por isso mesmo, recomendamos, às pessoas que se ocupam com os fatos espíritas, que registrem todos os desse gênero, que lhes cheguem ao conhecimento, mas, sobretudo, que lhes verifiquem cuidadosamente a realidade, mediante pormenorizado  estudo das circunstâncias, a fim de adquirirem a certeza de que não são joguetes de uma ilusão, ou de uma mistificação.                                        

     De todas as manifestações espíritas, as mais simples e mais frequentes são os ruídos e as pancadas. Neste caso, principalmente, é que se deve temer a ilusão, porquanto uma infinidade de causas naturais pode produzi-los: o vento que sibila ou que agita um objeto, um corpo que se move por si mesmo sem que ninguém perceba, um efeito acústico, um animal escondido, um inseto, etc., até mesmo a malícia dos brincalhões de mau gosto. Aliás, os ruídos espíritas apresentam um caráter especial, revelando intensidade e timbre muito variado, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem sejam confundidos com os estalidos da madeira, com as crepitações do fogo, ou com o tique-taque monótono do relógio. São pancadas secas, ora surdas, fracas e leves, ora claras, distintas, às vezes retumbantes, que mudam de lugar e se repetem sem nenhuma regularidade mecânica. De todos os meios de verificação, o mais eficaz, o que não pode deixar dúvida quanto à origem do fenômeno, é a obediência deste à vontade de quem o observa. Se as pancadas se fizerem ouvir num lugar determinado, se responderem, pelo seu número, ou pela sua intensidade, ao pensamento, não se lhes pode deixar de reconhecer uma causa inteligente. Todavia, a falta de obediência nem sempre constitui prova em contrário.”

 O Livro dos Médiuns - 82 e 83 .


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                 “Sou o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados. Não busqueis alhures a força e a consolação, pois que o mundo é impotente para dá-las. Deus dirige um supremo apelo aos vossos corações, por meio do Espiritismo. Escutai-o. Extirpados sejam de vossas almas doloridas a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade. São monstros que sugam o vosso mais puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais. Que, no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua lei divina. Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do  Senhor; invocai-o do fundo de vossos corações. Ele, então, vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer estas boas palavras: Eis-me aqui; venho até vós, porque me chamastes.”

 

O Espírito de Verdade

O Evangelho Segundo o Espiritismo 6 - 7.

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          “Jovem de 25 anos, falecida subitamente no lar, sem sofrimentos, sem causa previamente conhecida. Rica e um tanto frívola, a leviandade de caráter predispunha-a mais para as futilidades da vida do que para as coisas sérias. Não obstante, possuía um coração bondoso e era dócil, afetuosa e caritativa.

     Evocada três dias após a morte por pessoas conhecidas, exprimia-se assim:

     “Não sei onde estou... que turbação me cerca! Chamaste-me, e eu vim. Não compreendo por que não estou em minha casa; lamentam a minha ausência quando presente estou, sem poder fazer-me reconhecida. Meu corpo não mais me pertence, e no entanto eu lhe sinto a algidez... Quero deixá-lo e mais a ele me prendo, sempre... Sou como que duas personalidades... Oh! quando chegarei a compreender o que comigo se passa? É necessário que vá lá ainda... meu outro ‘eu’, que lhe sucederá na minha ausência?

Adeus.”                      

     O sentimento da dualidade que não está ainda destruído por uma completa separação, é aqui evidente. Caráter volúvel, permitindo-lhe a posição e a fortuna a satisfação de todos os caprichos, deveria igualmente favorecer as tendências de leviandade. Não admira, pois, tenha sido lento o seu desprendimento, a ponto de, três dias após a morte, sentir-se ainda ligada ao invólucro corporal. Mas, como não possuísse vícios sérios e fosse de boa índole, essa situação nada tinha de penosa e não deveria prolongar-se por muito tempo. Evocada novamente depois de alguns dias, as suas ideias estavam já muito modificadas. Eis o que disse:    

     “Obrigada por haverdes orado por mim. Reconheço a bondade de Deus, que me subtraiu aos sofrimentos e apreensões consequentes ao desligamento do meu Espírito. À minha pobre mãe será dificílimo resignar-se; entretanto será confortada, e o que a seus olhos constitui sensível desgraça, era fatal e indispensável para que as coisas do Céu se lhe tornassem no que devem ser: tudo. Estarei ao seu lado até o fim da sua provação terrestre, ajudando-a a suportá-la.

     “Não sou infeliz, porém, muito tenho ainda a fazer para aproximar-me da situação dos bem-aventurados. Pedirei a Deus me conceda voltar a essa Terra para reparação do tempo que aí perdi nesta última existência.

     ‘A fé vos ampare, meus amigos; confiai na eficácia da prece, mormente quando partida do coração. Deus é bom.’

     — P. Levastes muito tempo a reconhecer-vos?

     — R. Compreendi a morte no mesmo dia que por mim orastes.

     — P. Era doloroso o estado de perturbação?

     — R. Não, eu não sofria, acreditava sonhar e aguardava o despertar. Minha vida não foi isenta de dores, mas todo ser encarnado nesse mundo deve sofrer. Resignando-me à vontade de Deus, a minha resignação foi por Ele levada em conta. Grata vos sou pelas preces que me auxiliaram no reconhecimento de mim mesma. Obrigada; voltarei sempre com prazer. Adeus.”

 

Hélène

O Céu e o Inferno (2ª) - 3.


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    “Mas, objetam, se a Bíblia é uma revelação divina, então Deus se enganou. Se não é uma revelação divina, carece de autoridade e a religião desmorona, à falta de base.

     Uma de duas: ou a Ciência está em erro, ou tem razão. Se tem razão, não pode fazer seja verdadeira uma opinião que lhe é contrária. Não há revelação que se possa sobrepor à autoridade dos fatos.

    Incontestavelmente, não é possível que Deus, sendo todo verdade, induza os homens em erro, nem ciente, nem inscientemente, pois, do contrário, não seria Deus. Logo, se os fatos contradizem as palavras que lhe são atribuídas, o que se deve logicamente concluir é que ele não as pronunciou, ou que tais palavras foram entendidas em sentido oposto ao que lhes é próprio.    

     Se, com semelhantes contradições, a religião sofre dano, a culpa não é da Ciência, que não pode fazer que o que é deixe de ser; mas, dos homens, por haverem, prematuramente, estabelecido dogmas absolutos, de cujo prevalecimento hão feito questão de vida ou de morte, sobre hipóteses suscetíveis de serem desmentidas pela experiência.

     Há coisas com cujo sacrifício temos de resignar-nos, bom ou mau grado, quando não consigamos evitá-lo. Desde que o mundo marcha, sem que a vontade de alguns possa detê-lo, o mais sensato é que o acompanhemos e nos acomodemos com o novo estado de coisas, em vez de nos agarrarmos ao passado que se esboroa, com o risco de sermos arrastados na queda.                               

     Por guardar respeito aos Textos Sagrados, dever-se-ia obrigar a Ciência a calar-se? Fora tão impossível isso, como impedir que a Terra gire. As religiões, sejam quais forem, jamais ganharam coisa alguma em sustentar erros manifestos. A Ciência tem por missão descobrir as leis da Natureza. Ora, sendo essas leis obra de Deus, não podem ser contrárias a religiões que se baseiem na verdade. Lançar anátema ao progresso, por atentatório à religião, é lançá-lo à própria obra de Deus. É ao demais, trabalho inútil, porquanto nem todos os anátemas do mundo seriam capazes de obstar a que a Ciência avance e a que a verdade abra caminho. Se a Religião se nega a avançar com a Ciência, esta avançará sozinha.”

A Gênese 4 - 8 e 9.


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     “Tendo uma conversação com os Espíritos levado a falar do meu sucessor na direção do Espiritismo, formulei a questão seguinte:

     Pergunta — Entre os adeptos, muitos há que se preocupam com o que virá a ser do Espiritismo depois de mim e perguntam quem me substituirá quando eu partir, uma vez que não se vê aparecer ninguém, de modo notório, para lhe tomar as rédeas.                         

     Respondo que não nutro a pretensão de ser indispensável; que Deus é extremamente sábio para não fazer que uma doutrina destinada a regenerar o mundo assente sobre a vida de um homem; que, ao demais, sempre me avisaram que a minha tarefa é a de constituir a Doutrina e que para isso tempo necessário me será concedido. A do meu sucessor será, pois, mais fácil, porquanto já achará traçado o caminho, bastando que o siga. Entretanto, se os Espíritos julgassem oportuno dizer-me a respeito alguma coisa de mais positivo, eu muito grato lhes ficaria.

     Resposta — Tudo isso é rigorosamente exato — eis o que se nos permite dizer-te a mais.                        

     Tens razão em afirmar que não és indispensável; só o és ao ver dos homens, porque era necessário que o trabalho de organização se concentrasse nas mãos de um só, para que houvesse unidade; não o és, porém, aos olhos de Deus. Foste escolhido e por isso é que te vês só; mas, não és, como, aliás, bem o sabes, a única entidade capaz de  desempenhar essa missão. Se o seu desempenho se interrompesse por uma causa qualquer, não faltariam a Deus outros que te substituíssem. Assim, aconteça o que acontecer, o Espiritismo não periclitará.

     Enquanto o trabalho de elaboração não estiver concluído, é, pois, necessário sejas o único em evidência: fazia-se mister uma bandeira em torno da qual pudessem as gentes agrupar-se. Era preciso que te considerassem indispensável, para que a obra que te sair das mãos tenha mais autoridade no presente e no futuro; era preciso mesmo que temessem pelas consequências da tua partida.

     Se aquele que te há de substituir fosse designado de antemão, a obra, ainda não acabada, poderia sofrer entraves; formar-se-iam contra ti oposições suscitadas pelo ciúme; discuti-lo-iam, antes que ele desse provas de si; os inimigos da Doutrina procurariam barrar-lhe o caminho, resultando daí cismas e separações. Ele, portanto, se revelará, quando chegar o momento.                                      

     Sua tarefa será assim facilitada, porque, como dizes, o caminho estará todo traçado; se ele daí se afastasse, perder-se-ia a si próprio, como já se perderam os que hão querido atravessar-se na estrada. A referida tarefa, porém, será mais penosa noutro sentido, visto que ele terá de sustentar lutas mais rudes. A ti te incumbe o encargo da concepção, a ele o da execução, pelo que terá de ser homem de energia e de ação. Admira aqui a sabedoria de Deus na escolha de seus mandatários: tu possuis as qualidades que eram necessárias ao trabalho que tens de realizar, porém não possuis as que serão necessárias ao teu sucessor. Tu precisas da calma, da tranquilidade do escritor que amadurece as ideias no silêncio da meditação; ele precisará da força do capitão que comanda um navio segundo as regras da Ciência. Exonerado do trabalho de criação da obra sob cujo peso teu corpo sucumbirá, ele terá mais liberdade para aplicar todas as suas faculdades ao desenvolvimento e à consolidação do edifício.

     P. — Poderás dizer-me se a escolha do meu sucessor já está feita?

     R. — Está, sem o estar, dado que o homem, dispondo do livre-arbítrio, pode no último momento recuar diante da tarefa que ele próprio elegeu. É também indispensável que dê provas de si, de capacidade, de devotamento, de desinteresse e de abnegação. Se se deixasse levar apenas pela ambição e pelo desejo de primar, seria certamente posto de lado.

     P. — Frequentemente se há dito que muitos Espíritos encarnariam para ajudar o movimento.

     R. — Sem dúvida, muitos Espíritos terão essa missão, mas cada um na sua especialidade, para agir, pela sua posição, sobre tal ou tal parte na sociedade. Todos se revelarão por suas obras e nenhum por qualquer pretensão à supremacia.”

 

Obras Póstumas – Meu Sucessor.