GRUPO ESPÍRITA AGOSTINHO E TEREZA DE JESUS
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; Como filosofia, compreende todas as consequências morais que faz brotar dessas mesmas relações. Podemos defini-lo assim: Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bom como de suas relações com o mundo corporal.
E ainda, o Espiritismo é uma ciência nova que vem revelar aos homens, por meios de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele nos mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém ao contrário, como uma das forças vivas sem cessar atuantes da natureza, como fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e , por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo refere-se em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que Ele disse permaneceu obscuro ou falsamente interpretado.
O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil.
Allan Kardec
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terça-feira, 30 de abril de 2024
Quem somos
Reuniões, Campanhas, Doações e Eventos.
3ª Feira
OBS - ATIVIDADES TEMPORARIAMENTE SUSPENSAS
BRECHÓ BENEFICENTE
- 05, 06, 08, 10, 11, 12, 13, 15,
17 e 18 de Maio.
- Roupas e Calçados (Adulto e Infantil)
- Acessórios
- Utilidades
- Tecidos
-
Horário – Das 9h às 18h.
Juventude
“Quando esse ou aquele companheiro se nos distancia, deixando-nos a sós na Seara do Bem, habitualmente a nossa reação inicial é de choque e desagrado.
Recordamos para logo os votos em comum, as
atividades partilhadas, as esperanças e os sonhos das horas primeiras...
Entretanto, embora devamos resguardar
intacto o amor por eles, não é o sentimento negativo de amargor ou censura que
a vida espera de nós outros, nessas circunstâncias.
É preciso entendê-los e acatá-los, antes
de tudo. Lembrá-los no bem que nos fizeram, nas luzes que acenderam. E, ante a
ausência, considerar as possíveis razões que a ditaram.
Esse se viu defrontado por obstáculos que
não logrou vencer; aquele entrou a experimentar a enfermidade complexa; outro
não achou em si a força necessária para garantir a própria esperança, e outro
ainda passou imperceptivelmente a faixas de obsessão oculta. E se integramos
determinada equipe de trabalho, como condenar os companheiros doentes ou acidentados
em serviço?
Claro que, em se verificando isso, nos
cabe o dever de entregá-los a organizações capazes de restaurá-los, e continuar
trabalhando, substituindo-os, quanto nos seja possível, na empresa em
andamento.
Diante dos amigos que nos deixam nas frentes
da luta edificante, procuremos honrá-los e abençoá-los com os nossos melhores
pensamentos de carinho e de gratidão. E reconhecendo, acima de tudo, que nos
achamos todos submetidos à Sabedoria e à Misericórdia do Senhor, compete-nos a
obrigação de compreender-nos e auxiliar-nos, uns aos outros, em quaisquer
circunstâncias, na certeza de que, se o Senhor nos permite a mudança de
atividade quando assim desejamos - e já nos achamos credenciados para colaborar
com ele, nas construções do Evangelho -, isso se verifica a fim de que aprendamos,
na escola da experiência, a servi-lo na Obra de Redenção e Aperfeiçoamento do
Mundo, sempre mais, e melhor.”
Rumo Certo – 17.
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Senhor Jesus!
Por nossa própria
imprevidência,
Embora a evolução que nos
reveste,
O sofrimento áspero,
profundo,
Invade, canto a canto, os
distritos do mundo
E espalha o pranto e
sombra ante o esplendor celeste.
Avança a Terra pelo
espaço afora,
Carregando conquistas
Que lhe garantem plena
exaltação.
Máquinas jamais vistas
Efetuam serviços
colossais;
Satélites, além, na rota
em que se vão,
Oferecem notícias e
sinais.
Computadores poupam
energias
Ou se fazem vigias
De caminhos e forças
siderais.
E o homem, desde os céus
ao subsolo,
Leva o próprio domínio
polo a polo.
Entretanto, Senhor!
Em todos os lugares,
Há quem se desconforte,
No imenso festival de riqueza e cultura,
Transportando consigo a vocação da morte,
De coração cansado, ante
a vida insegura.
Destacamos, Jesus, os que
caem de tédio,
Que gastaram o tempo e o
corpo sem proveito,
E são hoje doentes quase
sem remédio
Na angústia sem razão que
lhes oprime o peito.
Falamos dos que morrem na
saudade,
Dos corações queridos que
partiram
Para a imortalidade,
E tateiam chorando, ante
a Vida Maior,
Vasos de cinza e pedra em
derredor
Das lágrimas que
vertem...
Falamos dos drogados,
Dos que largaram de
servir,
Dos que se dizem
desesperançados
Ante a luz do porvir;
Dos que afirmam que a fé
Hoje se guarda apenas em
museus,
E proclamam, gritando
desenfreados,
Que a ciência na Terra é
a derrota de Deus.
É por isto, Senhor, que
nós Te suplicamos :
Não nos deixes temer o
vozeirão das trevas ;
Da Infinita Bondade a que
Te elevas,
Concede-nos a força da
humildade
De modo a trabalharmos,
dia-a-dia,
Em Teu reino de luz e de
verdade.
Ajuda-nos, Senhor,
A esquecer-nos, a fim de
acompanhar-Te,
Cooperando Contigo em
qualquer parte.
Acolhe-nos no amor com
que nos guardas,
Na condição de servos
teus.
Porque, apesar de sermos
pequeninos,
Encontramos, Senhor, em
Teus ensinos,
A presença de Deus.
Maria Dolores
Amanhece – 4.
Revista Espírita - Realização Espiritual
“Quando apareceram os primeiros fenômenos espíritas, algumas pessoas pensaram que essa descoberta – se podemos aplicar-lhe esse nome – ia desfechar um golpe fatal no magnetismo e que com ele ocorreria o mesmo que aconteceu com as demais invenções: a mais aperfeiçoada faz esquecer a precedente. Tal erro não tardou em dissipar-se e prontamente se reconheceu o parentesco dessas duas ciências. Ambas, com efeito, baseadas sobre a existência e a manifestação da alma, longe de se combaterem, podem e devem prestar-se um mútuo apoio: completam-se e se explicam uma pela outra. Seus respectivos adeptos, entretanto, diferem sobre alguns pontos: certos magnetistas¹ não admitem ainda a existência ou, pelo menos, a manifestação dos Espíritos; acreditam poder tudo explicar tão só pela ação do fluido magnético, opinião que nos limitamos a constatar, reservando-nos discuti-la mais tarde. Nós mesmos a partilhávamos, no início; mas, como tantos outros, tivemos que nos render à evidência dos fatos. Os adeptos do Espiritismo, ao contrário, são todos partidários do magnetismo; admitem sua ação e nos fenômenos sonambúlicos reconhecem uma manifestação da alma. Essa oposição, aliás, se enfraquece a cada dia, e é fácil prever que não está longe o tempo em que toda distinção terá cessado. Essa divergência de opinião nada tem que deva surpreender. Nos primórdios de uma ciência ainda tão nova é muito natural que cada um, encarando as coisas do seu ponto de vista, haja formado uma ideia diferente. As ciências mais positivas tiveram sempre, e têm ainda suas seitas, sustentando com ardor teorias contrárias; os sábios ergueram escolas contra escolas, bandeira contra bandeira e, muito frequentemente para sua dignidade, sua polêmica, tornada irritante e agressiva pelo amor-próprio ferido, saiu dos limites de uma sábia discussão. Esperamos que os partidários do magnetismo e do Espiritismo, mais bem inspirados, não deem ao mundo o escândalo de discussões tão pouco edificantes e sempre fatais à propagação da verdade, seja qual for o lado em que ela esteja. Podemos ter nossa opinião, sustentá-la, discuti-la; mas o meio de nos esclarecermos não é nos estraçalhando, procedimento sempre pouco digno de homens sérios e que se torna ignóbil se o interesse pessoal está em jogo.
¹ Magnetizador é o que pratica o magnetismo; magnetista se diz de alguém
que lhe adote os princípios. Pode-se ser magnetista sem ser magnetizador; mas
não se pode ser magnetizador sem ser magnetista
O magnetismo preparou o caminho do
Espiritismo, e o rápido progresso desta última doutrina se deve,
incontestavelmente, à vulgarização das ideias sobre a primeira. Dos fenômenos magnéticos,
do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas não há mais que um
passo; tal é sua conexão que, por assim dizer, torna-se impossível falar de um
sem falar do outro. Se tivéssemos que ficar fora da ciência magnética, nosso
quadro seria incompleto e poderíamos ser comparados a um professor de física
que se abstivesse de falar da luz. Todavia, como entre nós o magnetismo já
possui órgãos especiais justamente acreditados, seria supérfluo insistirmos
sobre um assunto que é tratado com tanta superioridade de talento e de
experiência; a ele, pois, não nos referiremos senão acessoriamente, mas de
maneira suficiente para mostrar as relações íntimas entre essas duas ciências
que, a bem da verdade, não passam de uma.
Devíamos aos nossos leitores essa profissão de fé, que terminamos prestando uma justa homenagem aos homens de convicção que, afrontando o ridículo, os sarcasmos e os dissabores devotaram-se corajosamente à defesa de uma causa toda humanitária. Qualquer que seja a opinião dos contemporâneos sobre o seu proveito pessoal, opinião que de uma forma ou de outra é sempre o reflexo das paixões vivazes, a posteridade far-lhes-á justiça; ela colocará os nomes do barão Du Potet, diretor do Journal Du Magnétisme, do Sr. Millet, diretor da Union magnétique, ao lado de seus ilustres predecessores, o marquês de Puységur e o sábio Deleuze. Graças aos seus perseverantes esforços o magnetismo, popularizado, fincou o pé na ciência oficial, onde dele já se fala aos cochichos. Esse vocábulo já passou à língua comum; já não afugenta mais e, quando alguém se diz magnetizador, não lhe riem mais no rosto.”
Revista Espírita
03/1858 - Magnetismo
e Espiritismo.
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– Desempenhando tantos deveres, a senhora
ainda tem atribuições fora de casa?
– Sim; vivemos numa cidade de transição;
no entanto, as finalidades da colônia residem no trabalho e no aprendizado. As almas
femininas, aqui, assumem numerosas obrigações, preparando-se para voltar ao
planeta ou para ascender a esferas mais altas.
– Mas a organização doméstica, em
"Nosso Lar", é idêntica à da Terra?
A interlocutora esboçou uma facies muito
significativa e acrescentou:
– O lar terrestre é que, de há muito, se esforça por copiar nosso instituto doméstico; mas os cônjuges por lá, com raras exceções, estão ainda a moldar o terreno dos sentimentos, invadido pelas ervas amargosas da vaidade pessoal e povoado de monstros do ciúme e do egoísmo. Quando regressei do planeta, pela última vez, trazia, como é natural, profundas ilusões. Coincidiu, porém, que, na minha crise de orgulho ferido, fui levada a ouvir um grande instrutor, no Ministério do Esclarecimento. Desde esse dia, nova corrente de ideias me penetrou o espírito.
– Não poderia dizer-me algo das lições
recebidas? – indaguei com interesse.
– O orientador, muito versado em matemática – prosseguiu ela -, fez-nos sentir que o lar é como se fora um ângulo reto nas linhas do plano da evolução divina. A reta vertical é o sentimento feminino, envolvido nas inspirações criadoras da vida. A reta horizontal é o sentimento masculino, em marcha de realizações no campo do progresso comum. O lar é o sagrado vértice onde o homem e a mulher se encontram para o entendimento indispensável. É templo, onde as criaturas devem unir-se espiritual antes que corporalmente. Há na Terra, agora, grande número de estudiosos das questões sociais, que aventam várias medidas e clamam pela regeneração da vida doméstica. Alguns chegam a asseverar que a instituição da família humana está ameaçada. Importa considerar, entretanto, que, a rigor, o lar é conquista sublime que os homens vão realizando vagarosamente. Onde, nas esferas do globo, o verdadeiro instituto doméstico, baseado na harmonia justa, com os direitos e deveres legitimamente partilhados? Na maioria, os casais terrestres passam as horas sagradas do dia vivendo a indiferença ou o egoísmo feroz. Quando o marido permanece calmo, a mulher parece desesperada; quando a esposa se cala, humilde, o companheiro tiraniza. Nem a consorte se decide a animar o esposo, na linha horizontal de seus trabalhos temporais, nem o marido se resolve a segui-la no voo divino de ternura e sentimento, rumo aos planos superiores da Criação. Dissimulam em sociedade e, na vida íntima, um faz viagens mentais de longa distância, quando o outro comenta o serviço que lhe seja peculiar. Se a mulher fala nos filhinhos, o marido excursiona através dos negócios; se o companheiro examina qualquer dificuldade do trabalho, que lhe diz respeito, a mente da esposa volta ao gabinete da modista. É claro que, em tais circunstâncias, o ângulo divino não está devidamente traçado. Duas linhas divergentes tentam, em vão, formar o vértice sublime, a fim de construírem um degrau na escada grandiosa da vida eterna.
Esses conceitos calavam-me fundo e,
sumamente impressionado, observei:
– Senhora Laura, essas definições suscitam
um mundo de pensamentos novos. Ah! se conhecêssemos tudo isso lá na Terra!...
– Questão de experiência, meu amigo - replicou a nobre matrona -, o homem e a mulher aprenderão no sofrimento e na luta. Por enquanto, raros conhecem que o lar é instituição essencialmente divina e que se deve viver, dentro de suas portas, com todo o coração e com toda a alma. Enquanto as criaturas vulgares atravessam a florida região do noivado, procuram-se mobilizando os máximos recursos do espírito, e daí o dizer-se que todos os seres são belos quando estão verdadeiramente amando. O assunto mais trivial assume singular encanto nas palestras mais fúteis. O homem e a mulher comparecem aí, na integração de suas forças sublimes. Mas logo que recebem a bênção nupcial, a maioria atravessa os véus do desejo e cai nos braços dos velhos monstros que tiranizam corações. Não há concessões recíprocas. Não há tolerância e, por vezes, nem mesmo fraternidade. E apaga-se a beleza luminosa do amor, quando os cônjuges perdem a camaradagem e o gosto de conversar. Daí em diante, os mais educados respeitam-se; os mais rudes mal se suportam. Não se entendem. Perguntas e respostas são formuladas em vocábulos breves. Por mais que se unam os corpos, vivem as mentes separadas, operando em rumos opostos.
– Tudo isso é a pura verdade! - aduzi
comovido.
– Que fazer, porém, meu amigo? - replicou
a bondosa senhora - na fase atual evolutiva do planeta, existem na esfera
carnal raríssimas uniões de almas gêmeas, reduzidos matrimônios de almas irmãs
ou afins, e esmagadora porcentagem de ligações de resgate. O maior número de
casais humanos é constituído de verdadeiros forçados, sob algemas.
Procurando retomar o fio das considerações
sugeridas por minha pergunta inicial, continuou a genitora de Lísias:
– As almas femininas não podem permanecer
inativas aqui. É preciso aprender a ser mãe, esposa, missionária, irmã. A
tarefa da mulher, no lar, não pode circunscrever-se a umas tantas lágrimas de
piedade ociosa e a muitos anos de servidão. É claro que o movimento coevo do
feminismo desesperado constituí abominável ação contra as verdadeiras
atribuições do espírito feminino. A mulher não pode ir ao duelo com os homens,
através de escritórios e gabinetes, onde se reserva atividade justa ao espírito
masculino. Nossa colônia, porém, ensina que existem nobres serviços de extensão
do lar, para as mulheres. A enfermagem, o ensino, a indústria do fio, a
informação, os serviços de paciência, representam atividades assaz expressivas.
O homem deve aprender a carrear para o ambiente doméstico a riqueza de suas
experiências, e a mulher precisa conduzir a doçura do lar para os labores
ásperos do homem. Dentro de casa, a inspiração; fora dela, a atividade. Uma não
viverá sem a outra. Como sustentar-se o rio sem a fonte, e como espalhar-se a
água da fonte sem o leito do rio?
Não pude deixar de sorrir, ouvindo a
interrogação. A mãe de Lísias, depois de longo intervalo, continuou:
– Quando o Ministério do Auxílio me confia
crianças ao lar, minhas horas de serviço são contadas em dobro, o que lhe pode
dar ideia da importância do serviço maternal no plano terreno. Entretanto,
quando isso não acontece, tenho meus deveres diuturnos nos trabalhos de
enfermagem, com a semana de quarenta e oito horas de tarefa. Todos trabalham em
nossa casa. A não ser minha neta convalescente, não temos qualquer pessoa da
família em zonas de repouso. Oito horas de atividade no interesse coletivo, diariamente,
é programa fácil a todos. Sentir-me-ia envergonhada se não o executasse também.
Interrompeu-se a interlocutora por alguns
momentos, enquanto me perdia em vastas considerações...”
Nosso Lar - 20.
O Que é o Espiritismo - LE
“Padre. — Concordo que, nas questões gerais, o Espiritismo é conforme às grandes verdades do Cristianismo; dar-se-á, porém, o mesmo em relação aos dogmas?
Não contradiz ele alguns princípios que a
Igreja nos ensina?
Allan Kardec — O Espiritismo é,
antes de tudo, uma ciência, não cogita de questões dogmáticas. Esta ciência tem
consequências morais como todas as ciências filosóficas; essas consequências
são boas ou más?
Pode-se julgá-las pelos princípios gerais
que acabo de expor.
Algumas pessoas se iludem sobre o
verdadeiro caráter do Espiritismo. A questão é de grande importância e merece
alguns desenvolvimentos. Façamos primeiro um termo de comparação: a eletricidade,
estando na Natureza, existiu em todo tempo e produziu sempre os efeitos que
hoje observamos e muitos outros que ainda não conhecemos. Na ignorância da sua
verdadeira causa, os homens explicavam esses efeitos de um modo mais ou menos
extravagante. A descoberta da eletricidade e de suas propriedades veio lançar
por terra um punhado de teorias absurdas, espargindo a luz por sobre mais de um
mistério da Natureza. O que fizeram a eletricidade e as ciências físicas para certos
fenômenos, o Espiritismo o fez para outros de ordem diferente.
O Espiritismo funda-se na existência de um
mundo invisível, formado pelos seres incorpóreos que povoam o espaço e que não
são mais que as almas daqueles que viveram na Terra, ou em outros globos, nos
quais deixaram seus invólucros materiais. São os seres a que chamamos
Espíritos, seres que nos cercam e incessantemente exercem sobre os homens, sem
que estes o percebam, uma grande influência, e desempenham papel muito ativo no
mundo moral, e mesmo, até certo ponto, no físico.
O Espiritismo está, pois, em a Natureza e podemos dizer que, numa certa ordem de ideias, é ele uma potência, como a eletricidade o é sob outro ponto de vista, e como ainda a gravitação é uma outra. Os fenômenos, de que o mundo invisível é a fonte, produziram-se em todos os tempos; eis aí por que a história de todos os povos faz deles menção. Somente, em sua ignorância, como se deu com a eletricidade, os homens os atribuíam a causas mais ou menos racionais, e deram, nesse ponto de vista, livre curso à sua imaginação.
Mais bem observado depois que se vulgarizou, o Espiritismo vem derramar luz sobre grande número de questões, até hoje insolúveis ou mal compreendidas. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não de uma religião; e a prova disso é que ele conta entre os seus aderentes homens de todas as crenças, que por esse fato não renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos que não deixam de praticar todos os deveres do seu culto, quando a Igreja os não repele; protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e mesmo budistas e bramanistas.
Ele repousa, por conseguinte, em
princípios independentes das questões dogmáticas. Suas consequências morais são
todas no sentido do Cristianismo, porque de todas as doutrinas é esta a mais
esclarecida e pura; razão pela qual, de todas as seitas religiosas do mundo, os
cristãos são os mais aptos para compreendê-lo em sua verdadeira essência.
Podemos exprobrá-lo por isso?
Cada um pode formar de suas opiniões uma
religião e interpretar à vontade as religiões conhecidas; mas daí a constituir
nova Igreja, a distância é grande.”
O Que é o Espiritismo - 59.
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“Qual a filosofia ou a teosofia capaz de resolver estes problemas? É fora de dúvida que, ou as almas são iguais ao nascerem, ou são desiguais. Se são iguais, por que, entre elas, tão grande diversidade de aptidões? Dir-se-á que isso depende do organismo. Mas, então, achamo-nos em presença da mais monstruosa e imoral das doutrinas. O homem seria simples máquina, joguete da matéria; deixaria de ter a responsabilidade de seus atos, pois que poderia atribuir tudo às suas imperfeições físicas. Se as almas são desiguais, é que Deus as criou assim. Nesse caso, porém, por que a inata superioridade concedida a algumas? Corresponderá essa parcialidade à justiça de Deus e ao amor que Ele consagra igualmente a todas as suas criaturas?
Admitamos, ao contrário, uma série de progressivas existências anteriores para cada alma e tudo se explica. Ao nascerem, trazem os homens a intuição do que aprenderam antes: São mais ou menos adiantados, conforme o número de existências que contem, conforme já estejam mais ou menos afastados do ponto de partida. Dá-se aí exatamente o que se observa numa reunião de indivíduos de todas as idades, onde cada um terá desenvolvimento proporcionado ao número de anos que tenha vivido. As existências sucessivas serão, para a vida da alma, o que os anos são para a do corpo. Reuni, em certo dia, um milheiro de indivíduos de um a oitenta anos; suponde que um véu encubra todos os dias precedentes ao em que os reunistes e que, em consequência, acreditais que todos nasceram na mesma ocasião. Perguntareis naturalmente como é que uns são grandes e outros pequenos, uns velhos e jovens outros, instruídos uns, outros ainda ignorantes. Se, porém, dissipando-se a nuvem que lhes oculta o passado, vierdes a saber que todos hão vivido mais ou menos tempo, tudo se vos tornará explicado. Deus, em sua justiça, não pode ter criado almas desigualmente perfeitas. Com a pluralidade das existências, a desigualdade que notamos nada mais apresenta em oposição à mais rigorosa equidade: é que apenas vemos o presente e não o passado. A este raciocínio serve de base algum sistema, alguma suposição gratuita? Não. Partimos de um fato patente, incontestável: a desigualdade das aptidões e do desenvolvimento intelectual e moral e verificamos que nenhuma das teorias correntes o explica, ao passo que uma outra teoria lhe dá explicação simples, natural e lógica. Será racional preferir-se as que não explicam àquela que explica?
À vista da sexta interrogação acima, dirão
naturalmente que o hotentote é de raça inferior. Perguntaremos, então, se o
hotentote é ou não um homem. Se é, por que a ele e à sua raça privou Deus dos
privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é, por que tentar fazê-lo
cristão? A Doutrina Espírita tem mais amplitude do que tudo isto. Segundo ela,
não há muitas espécies de homens, há tão somente homens cujos espíritos estão
mais ou menos atrasados, porém todos suscetíveis de progredir. Não é este
princípio mais conforme à justiça de Deus?
Vimos de apreciar a alma com relação ao
seu passado e ao seu presente. Se a considerarmos, tendo em vista o seu futuro,
esbarraremos nas mesmas dificuldades.
1ª Se a nossa existência atual é que, só
ela, decidirá da nossa sorte vindoura, quais, na vida futura, as posições respectivas
do selvagem e do homem civilizado? Estarão no mesmo nível, ou se acharão
distanciados um do outro, no tocante à soma de felicidade eterna que lhes
caiba?
2ª O homem que trabalhou toda a sua vida
por melhorar-se, virá a ocupar a mesma categoria de outro que se conservou em
grau inferior de adiantamento, não por culpa sua, mas porque não teve tempo,
nem possibilidade de se tornar melhor?
3ª O que praticou o mal, por não ter
podido instruir-se, será culpado de um estado de coisas cuja existência em nada
dependeu dele?
4ª Trabalha-se continuamente por
esclarecer, moralizar, civilizar os homens. Mas, em contraposição a um que fica
esclarecido, milhões de outros morrem todos os dias antes que a luz lhes tenha
chegado. Qual a sorte destes últimos? Serão tratados como réprobos? No caso
contrário, que fizeram para ocupar categoria idêntica à dos outros?
5ª Que sorte aguarda os que morrem na
infância, quando ainda não puderam fazer nem o bem, nem o mal? Se vão para o
meio dos eleitos, por que esse favor, sem que coisa alguma hajam feito para
merecê-lo? Em virtude de que privilégio eles se veem isentos das tribulações da
vida?
Haverá alguma doutrina capaz de resolver
esses problemas? Admitam-se as existências consecutivas e tudo se explicará
conformemente à justiça de Deus. O que se não pôde fazer numa existência faz-se
em outra. Assim é que ninguém escapa à lei do progresso, que cada um será recompensado
segundo o seu merecimento real e que ninguém fica excluído da felicidade
suprema, a que todos podem aspirar, quaisquer que sejam os obstáculos com que topem
no caminho.”
LM - ESE - CI - AG - OP
“São provocados os fenômenos
de que acabamos de falar. Sucede, porém, às vezes, produzirem-se
espontaneamente, sem intervenção da vontade, até mesmo contra a vontade, pois
que frequentemente se tornam muito importunos. Além disso, para excluir a
suposição de que possam ser efeito de imaginação sobreexcitada pelas ideias
espíritas, há a circunstância de que se produzem entre pessoas que nunca
ouviram falar disso e exatamente quando menos por semelhante coisa esperavam.
Tais fenômenos, a que se poderia dar o
nome de Espiritismo prático natural, são muito importantes, por não permitirem a
suspeita de conivência. Por isso mesmo, recomendamos, às pessoas que se ocupam
com os fatos espíritas, que registrem todos os desse gênero, que lhes cheguem
ao conhecimento, mas, sobretudo, que lhes verifiquem cuidadosamente a
realidade, mediante pormenorizado estudo
das circunstâncias, a fim de adquirirem a certeza de que não são joguetes de
uma ilusão, ou de uma mistificação.
De todas as manifestações espíritas, as
mais simples e mais frequentes são os ruídos e as pancadas. Neste caso, principalmente,
é que se deve temer a ilusão, porquanto uma infinidade de causas naturais pode
produzi-los: o vento que sibila ou que agita um objeto, um corpo que se move por
si mesmo sem que ninguém perceba, um efeito acústico, um animal escondido, um
inseto, etc., até mesmo a malícia dos brincalhões de mau gosto. Aliás, os
ruídos espíritas apresentam um caráter especial, revelando intensidade e
timbre muito variado, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem
sejam confundidos com os estalidos da madeira, com as crepitações do fogo, ou
com o tique-taque monótono do relógio. São pancadas secas, ora surdas, fracas e
leves, ora claras, distintas, às vezes retumbantes, que mudam de lugar e se
repetem sem nenhuma regularidade mecânica. De todos os meios de verificação, o mais
eficaz, o que não pode deixar dúvida quanto à origem do fenômeno, é a
obediência deste à vontade de quem o observa. Se as pancadas se fizerem ouvir
num lugar determinado, se responderem, pelo seu número, ou pela sua intensidade,
ao pensamento, não se lhes pode deixar de reconhecer uma causa inteligente.
Todavia, a falta de obediência nem sempre constitui prova em contrário.”
O Livro dos Médiuns - 82 e 83 .
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“Sou
o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de curar. Os
fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho
salvá-los. Vinde, pois, a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis
aliviados e consolados. Não busqueis alhures a força e a consolação, pois que o
mundo é impotente para dá-las. Deus dirige um supremo apelo aos vossos
corações, por meio do Espiritismo. Escutai-o. Extirpados sejam de vossas almas
doloridas a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade. São monstros que
sugam o vosso mais puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais.
Que, no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua lei divina.
Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo de vossos corações.
Ele, então, vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer estas
boas palavras: Eis-me aqui; venho até vós, porque me chamastes.”
O
Espírito de Verdade
O Evangelho Segundo o Espiritismo 6 - 7.
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“Jovem de 25
anos, falecida subitamente no lar, sem sofrimentos, sem causa previamente conhecida.
Rica e um tanto frívola, a leviandade de caráter predispunha-a mais para as
futilidades da vida do que para as coisas sérias. Não obstante, possuía um
coração bondoso e era dócil, afetuosa e caritativa.
Evocada três dias após a morte por pessoas conhecidas, exprimia-se
assim:
“Não sei onde estou... que turbação me cerca! Chamaste-me, e eu vim. Não
compreendo por que não estou em minha casa; lamentam a minha ausência quando
presente estou, sem poder fazer-me reconhecida. Meu corpo não mais me pertence,
e no entanto eu lhe sinto a algidez... Quero deixá-lo e mais a ele me prendo,
sempre... Sou como que duas personalidades... Oh! quando chegarei a compreender
o que comigo se passa? É necessário que vá lá ainda... meu outro ‘eu’, que lhe
sucederá na minha ausência?
Adeus.”
O
sentimento da dualidade que não está ainda destruído por uma completa
separação, é aqui evidente. Caráter volúvel, permitindo-lhe a posição e a
fortuna a satisfação de todos os caprichos, deveria igualmente favorecer as
tendências de leviandade. Não admira, pois, tenha sido lento o seu
desprendimento, a ponto de, três dias após a morte, sentir-se ainda ligada ao
invólucro corporal. Mas, como não possuísse vícios sérios e fosse de boa
índole, essa situação nada tinha de penosa e não deveria prolongar-se por muito
tempo. Evocada novamente depois de alguns dias, as suas ideias estavam já muito
modificadas. Eis o que disse:
“Obrigada por haverdes orado por mim. Reconheço a bondade de Deus, que
me subtraiu aos sofrimentos e apreensões consequentes ao desligamento do meu
Espírito. À minha pobre mãe será dificílimo resignar-se; entretanto será
confortada, e o que a seus olhos constitui sensível desgraça, era fatal e
indispensável para que as coisas do Céu se lhe tornassem no que devem ser:
tudo. Estarei ao seu lado até o fim da sua provação terrestre, ajudando-a a
suportá-la.
“Não sou infeliz, porém, muito tenho ainda a fazer para aproximar-me da
situação dos bem-aventurados. Pedirei a Deus me conceda voltar a essa Terra
para reparação do tempo que aí perdi nesta última existência.
‘A
fé vos ampare, meus amigos; confiai na eficácia da prece, mormente quando
partida do coração. Deus é bom.’
—
P. Levastes muito tempo a reconhecer-vos?
—
R. Compreendi a morte no mesmo dia que por mim orastes.
—
P. Era doloroso o estado de perturbação?
—
R. Não, eu não sofria, acreditava sonhar e aguardava o despertar. Minha vida
não foi isenta de dores, mas todo ser encarnado nesse mundo deve sofrer.
Resignando-me à vontade de Deus, a minha resignação foi por Ele levada em
conta. Grata vos sou pelas preces que me auxiliaram no reconhecimento de mim
mesma. Obrigada; voltarei sempre com prazer. Adeus.”
Hélène
O Céu e o Inferno (2ª) - 3.
__________________________________________
“Mas,
objetam, se a Bíblia é uma revelação divina, então Deus se enganou. Se não é
uma revelação divina, carece de autoridade e a religião desmorona, à falta de
base.
Uma de duas: ou a Ciência está em erro, ou
tem razão. Se tem razão, não pode fazer seja verdadeira uma opinião que lhe é
contrária. Não há revelação que se possa sobrepor à autoridade dos fatos.
Incontestavelmente, não é possível que
Deus, sendo todo verdade, induza os homens em erro, nem ciente, nem inscientemente,
pois, do contrário, não seria Deus. Logo, se os fatos contradizem as palavras
que lhe são atribuídas, o que se deve logicamente concluir é que ele não as
pronunciou, ou que tais palavras foram entendidas em sentido oposto ao que lhes
é próprio.
Se, com semelhantes contradições, a
religião sofre dano, a culpa não é da Ciência, que não pode fazer que o que é deixe
de ser; mas, dos homens, por haverem, prematuramente, estabelecido dogmas
absolutos, de cujo prevalecimento hão feito questão de vida ou de morte, sobre
hipóteses suscetíveis de serem desmentidas pela experiência.
Há coisas com cujo sacrifício temos de
resignar-nos, bom ou mau grado, quando não consigamos evitá-lo. Desde que o
mundo marcha, sem que a vontade de alguns possa detê-lo, o mais sensato é que o
acompanhemos e nos acomodemos com o novo estado de coisas, em vez de nos
agarrarmos ao passado que se esboroa, com o risco de sermos arrastados na
queda.
Por guardar respeito aos Textos Sagrados,
dever-se-ia obrigar a Ciência a calar-se? Fora tão impossível isso, como impedir
que a Terra gire. As religiões, sejam quais forem, jamais ganharam coisa alguma
em sustentar erros manifestos. A Ciência tem por missão descobrir as leis da
Natureza. Ora, sendo essas leis obra de Deus, não podem ser contrárias a
religiões que se baseiem na verdade. Lançar anátema ao progresso, por
atentatório à religião, é lançá-lo à própria obra de Deus. É ao demais,
trabalho inútil, porquanto nem todos os anátemas do mundo seriam capazes de
obstar a que a Ciência avance e a que a verdade abra caminho. Se
a Religião se nega a avançar com a Ciência, esta
avançará sozinha.”
A Gênese 4 - 8 e 9.
“Tendo uma conversação com os Espíritos
levado a falar do meu sucessor na direção do Espiritismo, formulei a questão
seguinte:
Pergunta — Entre
os adeptos, muitos há que se preocupam com o que virá a ser do Espiritismo
depois de mim e perguntam quem me substituirá quando eu partir, uma vez que não
se vê aparecer ninguém, de modo notório, para lhe tomar as rédeas.
Respondo que não nutro a pretensão de ser
indispensável; que Deus é extremamente sábio para não fazer que uma doutrina
destinada a regenerar o mundo assente sobre a vida de um homem; que, ao demais,
sempre me avisaram que a minha tarefa é a de constituir a Doutrina e que para
isso tempo necessário me será concedido. A do meu sucessor será, pois, mais
fácil, porquanto já achará traçado o caminho, bastando que o siga. Entretanto,
se os Espíritos julgassem oportuno dizer-me a respeito alguma coisa de mais
positivo, eu muito grato lhes ficaria.
Resposta — Tudo
isso é rigorosamente exato — eis o que se nos permite dizer-te a mais.
Tens razão em afirmar que não és
indispensável; só o és ao ver dos homens, porque era necessário que o trabalho de
organização se concentrasse nas mãos de um só, para que houvesse unidade; não o
és, porém, aos olhos de Deus. Foste escolhido e por isso é que te vês só; mas,
não és, como, aliás, bem o sabes, a única entidade capaz de desempenhar essa missão. Se o seu desempenho
se interrompesse por uma causa qualquer, não faltariam a Deus outros que te
substituíssem. Assim, aconteça o que acontecer, o Espiritismo não periclitará.
Enquanto o trabalho de elaboração não
estiver concluído, é, pois, necessário sejas o único em evidência: fazia-se
mister uma bandeira em torno da qual pudessem as gentes agrupar-se. Era preciso
que te considerassem indispensável, para que a obra que te sair das mãos tenha
mais autoridade no presente e no futuro; era preciso mesmo que temessem pelas
consequências da tua partida.
Se aquele que te há de substituir fosse
designado de antemão, a obra, ainda não acabada, poderia sofrer entraves; formar-se-iam
contra ti oposições suscitadas pelo ciúme; discuti-lo-iam, antes que ele desse
provas de si; os inimigos da Doutrina procurariam barrar-lhe o caminho, resultando
daí cismas e separações. Ele, portanto, se revelará, quando chegar o
momento.
Sua tarefa será assim facilitada, porque,
como dizes, o caminho estará todo traçado; se ele daí se afastasse,
perder-se-ia a si próprio, como já se perderam os que hão querido atravessar-se
na estrada. A referida tarefa, porém, será mais penosa noutro sentido, visto
que ele terá de sustentar lutas mais rudes. A ti te incumbe o encargo da
concepção, a ele o da execução, pelo que terá de ser homem de energia e de ação.
Admira aqui a sabedoria de Deus na escolha de seus mandatários: tu possuis as
qualidades que eram necessárias
ao trabalho que tens de realizar, porém não possuis as que serão necessárias ao
teu sucessor. Tu precisas da calma, da tranquilidade do escritor que amadurece
as ideias no silêncio da meditação; ele precisará da força do capitão que
comanda um navio segundo as regras da Ciência. Exonerado do trabalho de criação
da obra sob cujo peso teu corpo sucumbirá, ele terá mais liberdade para aplicar
todas as suas faculdades ao desenvolvimento e à consolidação do edifício.
P. —
Poderás dizer-me se a escolha do meu sucessor já está feita?
R. — Está, sem o estar, dado
que o homem, dispondo do livre-arbítrio, pode no último momento recuar diante
da tarefa que ele próprio elegeu. É também indispensável que dê provas de si,
de capacidade, de devotamento, de desinteresse e de abnegação. Se se deixasse
levar apenas pela ambição e pelo desejo de primar, seria certamente posto de lado.
P. — Frequentemente se há dito
que muitos Espíritos encarnariam para ajudar o movimento.
R. — Sem dúvida, muitos
Espíritos terão essa missão, mas cada um na sua especialidade, para agir, pela
sua posição, sobre tal ou tal parte na sociedade. Todos se revelarão por suas
obras e nenhum por qualquer pretensão à supremacia.”
Obras
Póstumas – Meu Sucessor.
“São provocados os fenômenos de que acabamos de falar. Sucede, porém, às vezes, produzirem-se espontaneamente, sem intervenção da vontade, até mesmo contra a vontade, pois que frequentemente se tornam muito importunos. Além disso, para excluir a suposição de que possam ser efeito de imaginação sobreexcitada pelas ideias espíritas, há a circunstância de que se produzem entre pessoas que nunca ouviram falar disso e exatamente quando menos por semelhante coisa esperavam.
Tais fenômenos, a que se poderia dar o
nome de Espiritismo prático natural, são muito importantes, por não permitirem a
suspeita de conivência. Por isso mesmo, recomendamos, às pessoas que se ocupam
com os fatos espíritas, que registrem todos os desse gênero, que lhes cheguem
ao conhecimento, mas, sobretudo, que lhes verifiquem cuidadosamente a
realidade, mediante pormenorizado estudo
das circunstâncias, a fim de adquirirem a certeza de que não são joguetes de
uma ilusão, ou de uma mistificação.
De todas as manifestações espíritas, as mais simples e mais frequentes são os ruídos e as pancadas. Neste caso, principalmente, é que se deve temer a ilusão, porquanto uma infinidade de causas naturais pode produzi-los: o vento que sibila ou que agita um objeto, um corpo que se move por si mesmo sem que ninguém perceba, um efeito acústico, um animal escondido, um inseto, etc., até mesmo a malícia dos brincalhões de mau gosto. Aliás, os ruídos espíritas apresentam um caráter especial, revelando intensidade e timbre muito variado, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem sejam confundidos com os estalidos da madeira, com as crepitações do fogo, ou com o tique-taque monótono do relógio. São pancadas secas, ora surdas, fracas e leves, ora claras, distintas, às vezes retumbantes, que mudam de lugar e se repetem sem nenhuma regularidade mecânica. De todos os meios de verificação, o mais eficaz, o que não pode deixar dúvida quanto à origem do fenômeno, é a obediência deste à vontade de quem o observa. Se as pancadas se fizerem ouvir num lugar determinado, se responderem, pelo seu número, ou pela sua intensidade, ao pensamento, não se lhes pode deixar de reconhecer uma causa inteligente. Todavia, a falta de obediência nem sempre constitui prova em contrário.”
O Livro dos Médiuns - 82 e 83 .
“Sou o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados. Não busqueis alhures a força e a consolação, pois que o mundo é impotente para dá-las. Deus dirige um supremo apelo aos vossos corações, por meio do Espiritismo. Escutai-o. Extirpados sejam de vossas almas doloridas a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade. São monstros que sugam o vosso mais puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais. Que, no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua lei divina. Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo de vossos corações. Ele, então, vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer estas boas palavras: Eis-me aqui; venho até vós, porque me chamastes.”
O
Espírito de Verdade
O Evangelho Segundo o Espiritismo 6 - 7.
“Jovem de 25 anos, falecida subitamente no lar, sem sofrimentos, sem causa previamente conhecida. Rica e um tanto frívola, a leviandade de caráter predispunha-a mais para as futilidades da vida do que para as coisas sérias. Não obstante, possuía um coração bondoso e era dócil, afetuosa e caritativa.
Evocada três dias após a morte por pessoas conhecidas, exprimia-se
assim:
“Não sei onde estou... que turbação me cerca! Chamaste-me, e eu vim. Não
compreendo por que não estou em minha casa; lamentam a minha ausência quando
presente estou, sem poder fazer-me reconhecida. Meu corpo não mais me pertence,
e no entanto eu lhe sinto a algidez... Quero deixá-lo e mais a ele me prendo,
sempre... Sou como que duas personalidades... Oh! quando chegarei a compreender
o que comigo se passa? É necessário que vá lá ainda... meu outro ‘eu’, que lhe
sucederá na minha ausência?
Adeus.”
O
sentimento da dualidade que não está ainda destruído por uma completa
separação, é aqui evidente. Caráter volúvel, permitindo-lhe a posição e a
fortuna a satisfação de todos os caprichos, deveria igualmente favorecer as
tendências de leviandade. Não admira, pois, tenha sido lento o seu
desprendimento, a ponto de, três dias após a morte, sentir-se ainda ligada ao
invólucro corporal. Mas, como não possuísse vícios sérios e fosse de boa
índole, essa situação nada tinha de penosa e não deveria prolongar-se por muito
tempo. Evocada novamente depois de alguns dias, as suas ideias estavam já muito
modificadas. Eis o que disse:
“Obrigada por haverdes orado por mim. Reconheço a bondade de Deus, que me subtraiu aos sofrimentos e apreensões consequentes ao desligamento do meu Espírito. À minha pobre mãe será dificílimo resignar-se; entretanto será confortada, e o que a seus olhos constitui sensível desgraça, era fatal e indispensável para que as coisas do Céu se lhe tornassem no que devem ser: tudo. Estarei ao seu lado até o fim da sua provação terrestre, ajudando-a a suportá-la.
“Não sou infeliz, porém, muito tenho ainda a fazer para aproximar-me da
situação dos bem-aventurados. Pedirei a Deus me conceda voltar a essa Terra
para reparação do tempo que aí perdi nesta última existência.
‘A
fé vos ampare, meus amigos; confiai na eficácia da prece, mormente quando
partida do coração. Deus é bom.’
—
P. Levastes muito tempo a reconhecer-vos?
—
R. Compreendi a morte no mesmo dia que por mim orastes.
—
P. Era doloroso o estado de perturbação?
—
R. Não, eu não sofria, acreditava sonhar e aguardava o despertar. Minha vida
não foi isenta de dores, mas todo ser encarnado nesse mundo deve sofrer.
Resignando-me à vontade de Deus, a minha resignação foi por Ele levada em
conta. Grata vos sou pelas preces que me auxiliaram no reconhecimento de mim
mesma. Obrigada; voltarei sempre com prazer. Adeus.”
Hélène
O Céu e o Inferno (2ª) - 3.
“Mas, objetam, se a Bíblia é uma revelação divina, então Deus se enganou. Se não é uma revelação divina, carece de autoridade e a religião desmorona, à falta de base.
Uma de duas: ou a Ciência está em erro, ou
tem razão. Se tem razão, não pode fazer seja verdadeira uma opinião que lhe é
contrária. Não há revelação que se possa sobrepor à autoridade dos fatos.
Incontestavelmente, não é possível que
Deus, sendo todo verdade, induza os homens em erro, nem ciente, nem inscientemente,
pois, do contrário, não seria Deus. Logo, se os fatos contradizem as palavras
que lhe são atribuídas, o que se deve logicamente concluir é que ele não as
pronunciou, ou que tais palavras foram entendidas em sentido oposto ao que lhes
é próprio.
Se, com semelhantes contradições, a
religião sofre dano, a culpa não é da Ciência, que não pode fazer que o que é deixe
de ser; mas, dos homens, por haverem, prematuramente, estabelecido dogmas
absolutos, de cujo prevalecimento hão feito questão de vida ou de morte, sobre
hipóteses suscetíveis de serem desmentidas pela experiência.
Há coisas com cujo sacrifício temos de
resignar-nos, bom ou mau grado, quando não consigamos evitá-lo. Desde que o
mundo marcha, sem que a vontade de alguns possa detê-lo, o mais sensato é que o
acompanhemos e nos acomodemos com o novo estado de coisas, em vez de nos
agarrarmos ao passado que se esboroa, com o risco de sermos arrastados na
queda.
Por guardar respeito aos Textos Sagrados,
dever-se-ia obrigar a Ciência a calar-se? Fora tão impossível isso, como impedir
que a Terra gire. As religiões, sejam quais forem, jamais ganharam coisa alguma
em sustentar erros manifestos. A Ciência tem por missão descobrir as leis da
Natureza. Ora, sendo essas leis obra de Deus, não podem ser contrárias a
religiões que se baseiem na verdade. Lançar anátema ao progresso, por
atentatório à religião, é lançá-lo à própria obra de Deus. É ao demais,
trabalho inútil, porquanto nem todos os anátemas do mundo seriam capazes de
obstar a que a Ciência avance e a que a verdade abra caminho. Se
a Religião se nega a avançar com a Ciência, esta
avançará sozinha.”
A Gênese 4 - 8 e 9.
“Tendo uma conversação com os Espíritos
levado a falar do meu sucessor na direção do Espiritismo, formulei a questão
seguinte:
Pergunta — Entre
os adeptos, muitos há que se preocupam com o que virá a ser do Espiritismo
depois de mim e perguntam quem me substituirá quando eu partir, uma vez que não
se vê aparecer ninguém, de modo notório, para lhe tomar as rédeas.
Respondo que não nutro a pretensão de ser
indispensável; que Deus é extremamente sábio para não fazer que uma doutrina
destinada a regenerar o mundo assente sobre a vida de um homem; que, ao demais,
sempre me avisaram que a minha tarefa é a de constituir a Doutrina e que para
isso tempo necessário me será concedido. A do meu sucessor será, pois, mais
fácil, porquanto já achará traçado o caminho, bastando que o siga. Entretanto,
se os Espíritos julgassem oportuno dizer-me a respeito alguma coisa de mais
positivo, eu muito grato lhes ficaria.
Resposta — Tudo
isso é rigorosamente exato — eis o que se nos permite dizer-te a mais.
Tens razão em afirmar que não és
indispensável; só o és ao ver dos homens, porque era necessário que o trabalho de
organização se concentrasse nas mãos de um só, para que houvesse unidade; não o
és, porém, aos olhos de Deus. Foste escolhido e por isso é que te vês só; mas,
não és, como, aliás, bem o sabes, a única entidade capaz de desempenhar essa missão. Se o seu desempenho
se interrompesse por uma causa qualquer, não faltariam a Deus outros que te
substituíssem. Assim, aconteça o que acontecer, o Espiritismo não periclitará.
Enquanto o trabalho de elaboração não
estiver concluído, é, pois, necessário sejas o único em evidência: fazia-se
mister uma bandeira em torno da qual pudessem as gentes agrupar-se. Era preciso
que te considerassem indispensável, para que a obra que te sair das mãos tenha
mais autoridade no presente e no futuro; era preciso mesmo que temessem pelas
consequências da tua partida.
Se aquele que te há de substituir fosse
designado de antemão, a obra, ainda não acabada, poderia sofrer entraves; formar-se-iam
contra ti oposições suscitadas pelo ciúme; discuti-lo-iam, antes que ele desse
provas de si; os inimigos da Doutrina procurariam barrar-lhe o caminho, resultando
daí cismas e separações. Ele, portanto, se revelará, quando chegar o
momento.
Sua tarefa será assim facilitada, porque, como dizes, o caminho estará todo traçado; se ele daí se afastasse, perder-se-ia a si próprio, como já se perderam os que hão querido atravessar-se na estrada. A referida tarefa, porém, será mais penosa noutro sentido, visto que ele terá de sustentar lutas mais rudes. A ti te incumbe o encargo da concepção, a ele o da execução, pelo que terá de ser homem de energia e de ação. Admira aqui a sabedoria de Deus na escolha de seus mandatários: tu possuis as qualidades que eram necessárias ao trabalho que tens de realizar, porém não possuis as que serão necessárias ao teu sucessor. Tu precisas da calma, da tranquilidade do escritor que amadurece as ideias no silêncio da meditação; ele precisará da força do capitão que comanda um navio segundo as regras da Ciência. Exonerado do trabalho de criação da obra sob cujo peso teu corpo sucumbirá, ele terá mais liberdade para aplicar todas as suas faculdades ao desenvolvimento e à consolidação do edifício.
P. —
Poderás dizer-me se a escolha do meu sucessor já está feita?
R. — Está, sem o estar, dado
que o homem, dispondo do livre-arbítrio, pode no último momento recuar diante
da tarefa que ele próprio elegeu. É também indispensável que dê provas de si,
de capacidade, de devotamento, de desinteresse e de abnegação. Se se deixasse
levar apenas pela ambição e pelo desejo de primar, seria certamente posto de lado.
P. — Frequentemente se há dito
que muitos Espíritos encarnariam para ajudar o movimento.
R. — Sem dúvida, muitos
Espíritos terão essa missão, mas cada um na sua especialidade, para agir, pela
sua posição, sobre tal ou tal parte na sociedade. Todos se revelarão por suas
obras e nenhum por qualquer pretensão à supremacia.”
Obras
Póstumas – Meu Sucessor.