GRUPO ESPÍRITA AGOSTINHO E TEREZA DE JESUS
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos; Como filosofia, compreende todas as consequências morais que faz brotar dessas mesmas relações. Podemos defini-lo assim: Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bom como de suas relações com o mundo corporal.
E ainda, o Espiritismo é uma ciência nova que vem revelar aos homens, por meios de provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e as suas relações com o mundo corpóreo. Ele nos mostra, não mais como coisa sobrenatural, porém ao contrário, como uma das forças vivas sem cessar atuantes da natureza, como fonte de uma imensidade de fenômenos até hoje incompreendidos e , por isso, relegados para o domínio do fantástico e do maravilhoso. É a essas relações que o Cristo refere-se em muitas circunstâncias e daí vem que muito do que Ele disse permaneceu obscuro ou falsamente interpretado.
O Espiritismo é a chave com o auxílio da qual tudo se explica de modo fácil.
Allan Kardec
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segunda-feira, 8 de abril de 2024
Quem somos
Reuniões, Campanhas, Doações e Eventos.
3ª Feira
OBS - ATIVIDADES TEMPORARIAMENTE SUSPENSAS
BRECHÓ BENEFICENTE
- 05, 06, 08, 10, 11, 12, 13, 15,
17 e 18 de Maio.
- Roupas e Calçados (Adulto e Infantil)
- Acessórios
- Utilidades
- Tecidos
-
Horário – Das 9h às 18h.
Juventude
“É possível que as tribulações do cotidiano, de quando em quando, te enevoem os olhos, com relação à senda em que a vida te situou.
Na escola da Terra, porém, a dificuldade é
a prova que assegura a lição, e a crise é a época de exame, na qual nos
assinalamos, quanto ao proveito no trato da experiência.
Imperioso não nos sintamos tomados de
pessimismo ou pressa, à frente dos empeços na tarefa a concretizar.
E que não haja de nossa parte qualquer
declaração de impossibilidade, no setor de tempo e limitação, porque o tempo
está incessantemente ao nosso dispor, e a limitação, na essência, não existe
nos domínios do espírito imperecível.
Muitas vezes, o rude aprendizado da
criatura na derradeira quadra da existência terrestre é o agente de base que
lhe garantirá o êxito na próxima reencarnação; e, com frequência, apenas depois
de numerosas tentativas, supostamente frustradas, é que obtemos a realização
que se objetiva.
Cada um de nós é um ser eterno vivendo no
Universo sem limites.
Pensa nisso, antes de qualquer
predisposição ao desânimo ou desespero.
Se trazes alguma enfermidade recidivante,
não descanses na assistência a ti mesmo, em demanda da cura necessária; se
sofres erros crônicos, reconsidera a própria orientação, adotando novo rumo; se
carrega desilusões, alija a carga de tristeza a que inconsequentemente te
submetes, contemplando horizontes mais altos, e, se fracassaste em alguma
iniciativa, refaze as próprias forças, empreendendo tarefas novas.
Recordemos: para sanar qualquer problema em que se nos encrava a marcha para diante, bastará sempre nos disponhamos a reagir construtivamente buscando a solução justa, trabalhando para isso, seja a começar ou recomeçar.”
Rumo Certo – 16.
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Deus te
abençoe, alma fraterna
Pela presença
amiga
Com que honras
a festa da bondade
No recinto de
luz que nos abriga!...
Certamente,
deixaste à retaguarda
Deveres que
transportas na lembrança,
Mas, mesmo
assim, trouxeste o teu concurso
Aos que choram nas filas
da esperança...
Deus te abençoe
a inteligência
Com que
enfeitaste de harmonia,
Arte,
renovação, cor e beleza
Esta noite de
paz e de alegria,
Talvez sentindo
o coração magoado,
Pelas
tribulações do mundo desatento,
Sem, no
entanto, esquecer os irmãos que vagueiam,
Entre a necessidade e o sofrimento.
Deus te abençoe
a frase generosa
Com que
extingues o mal, onde o mal se levante,
Para que a
chama da beneficência
Possa seguir
adiante...
Varando
incompreensões,
Tudo sabe
transpor,
Emoldurando as
pedras da jornada
Com pétalas de amor.
Deus te
abençoe, alma da caridade,
Que buscas, por
prazer,
Mostrar que
qualquer dor lembra a noite que passa
E o bem, onde
aparece, é sempre o amanhecer!...
Segue e não
temas!... Ama, crê e auxilia
Que prova
alguma te atordoe...
Por toda a luz
que espalhas, dia-a-dia,
Deus te guarde e
abençoe.
Alma e Vida – 26.
Revista Espírita - Realização Espiritual
“As comunicações que se obtêm dos Espíritos muito elevados ou dos que animaram grandes personagens da antiguidade são preciosas pelo alto ensinamento que encerram. Esses Espíritos adquiriram um grau de perfeição que lhes permite abranger uma esfera de ideias mais extensa, penetrar mistérios que ultrapassam o alcance vulgar da Humanidade e, em consequência, de iniciar-nos, melhor do que outros, em certas coisas. Daí não se segue que as comunicações de Espíritos de uma ordem menos elevada não tenham utilidade; longe disso: o observador haure nelas diversas instruções. Para conhecer os costumes de um povo, é preciso estudá-lo em todos os graus da escala. Quem só o tivesse visto sob uma face, conhecê-lo-ia mal. A história de um povo não é a de seus reis e das sumidades sociais; para julgá-lo é preciso vê-lo em sua vida íntima, em seus hábitos privados. Ora, os Espíritos superiores são as sumidades do mundo espírita; sua própria elevação os coloca de tal forma acima de nós que nos assustamos com a distância que nos separa deles. Espíritos mais burgueses – que nos permitam a expressão – tornam mais palpáveis as circunstâncias de sua nova existência. Neles, a ligação entre a vida corporal e a vida espiritual é mais íntima; nós a compreendemos melhor porque nos toca de mais perto. Aprendendo com eles mesmos em que se tornaram, o que pensam, o que experimentam as pessoas de todas as condições e de todos os caracteres, os homens de bem como os viciosos, os grandes e os pequenos, os felizes e os infelizes do século, numa palavra, os homens que viveram entre nós, que vimos e conhecemos, cuja vida real é conhecida, como suas virtudes e defeitos, compreendemos suas alegrias e seus sofrimentos. A eles nos associamos e neles haurimos um ensino moral tanto mais proveitoso quanto mais íntimas as relações entre eles e nós. Colocamo-nos mais facilmente no lugar de quem foi igual a nós, do que no daquele que vemos apenas através da miragem de uma glória celeste. Os Espíritos vulgares mostram-nos a aplicação prática das grandes e sublimes verdades, das quais os Espíritos superiores nos ensinam a teoria. Aliás, nada é inútil no estudo de uma ciência: Newton encontrou a lei das forças do Universo no mais simples dos fenômenos.
Essas comunicações têm outra vantagem: constatar a identidade dos Espíritos de maneira mais precisa. Quando nos diz um Espírito ter sido Sócrates ou Platão, somos obrigados a crer sob palavra, porquanto não traz consigo um certificado de autenticidade; podemos ver, em suas palavras, se desmente ou não a origem que ele se atribui: julgamo-lo Espírito elevado, eis tudo; em verdade, tenha sido Sócrates ou Platão, pouco importa. Mas, quando o Espírito de nossos parentes, de nossos amigos ou daqueles que conhecemos se nos manifesta, apresentam-se mil circunstâncias de detalhes íntimos nos quais a identidade não poderia ser posta em dúvida: de algum modo adquire-se a prova material. Pensamos, pois, que nos agradecerão, se fizermos, de vez em quando, algumas dessas evocações íntimas: é o romance de costumes da vida espírita, sem ficção.”
Revista Espírita 03/1858 - Utilidade de Certas Evocações Particulares.
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– Por enquanto, alimenta-se a sós -
esclareceu dona Laura -, a tolinha continua nervosa, abatida. Aqui, não
trazemos à mesa qualquer pessoa que se manifeste perturbada ou desgostosa. A neurastenia
e a inquietação emitem fluidos pesados e venenosos, que se misturam
automaticamente às substâncias alimentares. Minha neta demorou-se no Umbral quinze
dias, em forte sonolência, assistida por nós. Deveria ingressar nos pavilhões
hospitalares, mas, afinal, veio submeter-se aos meus cuidados diretos.
Manifestei desejo de visitar a
recém-chegada do planeta. Seria muito interessante ouvi-la. Há quanto tempo
estava sem notícias diretas da existência comum?
A senhora Laura não se fez rogada quando
lhe dei a conhecer meu desejo.
Demandamos um quarto confortável e muito
amplo. Uma jovem muito pálida repousava em cômoda poltrona. Surpreendeu-se vivamente
ao ver-me.
– Este amigo, Eloísa - explicou a genitora
de Lísias, indicando-me -, é um irmão nosso que voltou da esfera física, há
pouco tempo.
A moça fitou-me curiosa, embora os olhos
perdidos nas fundas olheiras traduzissem grande esforço para concentrar
atenção. Cumprimentou-me, esboçando vago sorriso, dando-me eu a conhecer, por
minha vez.
– Deve estar cansada - observei.
Antes, porém, que ela respondesse,
adiantou-se a senhora Laura, procurando subtraí-la a esforços sobreposse
fatigantes:
– Eloísa tem estado inquieta, aflita. Em
parte, justifica-se. A tuberculose foi longa e deixou-lhe traços profundos;
entretanto, não se pode prescindir, a tempo algum, do otimismo e da coragem.
Vi a jovem arregalar os olhos muito
negros, como a reter o pranto, mas em vão. O tórax começou a arfar-lhe
violentamente e, colando o lenço ao rosto, não conseguia conter os soluços
angustiosos.
– Tolinha! - disse a meiga senhora
abraçando-a - é necessário reagir contra isso. Estas impressões são os
resultados da educação religiosa deficiente, nada mais. Sabes que tua mãe não
se demorará e que não podes contar com a fidelidade do noivo, que, de modo
algum, está preparado a te oferecer uma sincera dedicação espiritual na Terra.
Ele ainda está longe do espírito sublime do amor iluminado. Naturalmente,
desposará outra e deves habituar-te a esta convicção. Nem seria justo
exigir-lhe a vinda brusca.
Sorrindo maternalmente, a senhora Laura
acrescentou:
– Admitamos que viesse, forçando a lei.
Não seria mais duro o sofrimento? Não pagarias caro a cooperação que houvesses desenvolvido
nesse particular? Não te faltarão amizades carinhosas, nem colaboração
fraternal, para que te equilibres aqui. E se amas, de fato, o rapaz, deves
procurar harmonia para beneficiá-lo mais tarde. Além disso, tua mãe não tarda a
chegar.
Penalizou-me o pranto copioso da jovem.
Procurei estabelecer novo rumo à conversação, tentando subtraí-la à crise de
lágrimas.
– Donde vem você, Eloísa? - interroguei.
A mãe de Lísias, agora calada, parecia
igualmente desejosa de vê-la desembaraçar-se.
Após longos
instantes em que enxugava os olhos lacrimosos, a moça respondeu:
– Do Rio de Janeiro.
– Mas não deve chorar assim - objetei.
Você é muito feliz. Desencarnou há poucos dias, está com os seus parentes e não
conheceu tempestades na grande viagem...
Ela pareceu reanimar-se, falando mais
calma:
– Não imagina, porém, quanto tenho
sofrido. Oito meses de luta com a tuberculose, não obstante os tratamentos... a
mágoa de haver transmitido a moléstia a minha carinhosa mãe... Além disso, o
que padeceu por minha causa o pobre noivo, é inenarrável...
– Ora, ora, não diga isso - observou a
senhora Laura a sorrir. Na Terra temos sempre a ilusão de que não há dor maior
que a nossa. Pura cegueira: há milhões de criaturas afrontando situações verdadeiramente
cruéis, comparadas às nossas experiências.
– Arnaldo, porém, vovó, ficou sem consolo,
desesperado. Tudo isso dá que pensar - acentuou contrafeita.
– E acreditas sinceramente nessa
impressão? - perguntou a matrona com inflexão de carinho. Observei teu
ex-noivo, diversas vezes, no curso da tua enfermidade. Era natural que ele se
comovesse tanto, vendo-te o corpo reduzido a frangalhos; mas não está preparado
para compreender um sentimento puro. Reconfortar-se-á muito depressa. Amor
iluminado não é para qualquer criatura humana. Conserva, portanto, o teu
otimismo. Poderás auxiliá-lo, sem dúvida, muitas vezes, mas no que concerne à
união conjugal, quando puderes excursionar às esferas do planeta, em nossa
companhia, já o encontrarás casado com outra.
Admirado por minha vez, notei a surpresa
dolorosa de Eloísa. Não sabia a convalescente como portar-se ante a serenidade
e o bom senso da avó.
– Será possível?
A genitora de Lísias esboçou um gesto
extremamente carinhoso e falou:
– Não sejas teimosa, nem tentes
desmentir-me.
Vendo que a enferma parecia tomar a
atitude íntima de quem deseja provas, a senhora Laura insistiu, muito meiga:
– Não te recordas da Maria da Luz, a
colega que te levava flores todos os domingos? Pois nota: quando o médico
anunciou, em caráter confidencial, a impossibilidade de restabelecer-te o corpo
físico, Arnaldo, embora muito magoado, começou a envolvê-la em vibrações
mentais diferentes. Agora que aqui estás, não demorarão muito as resoluções
novas.
Ah! que horror, vovó!
– Horror, por quê? É preciso te habituares
a considerar as necessidades alheias. Teu noivo é homem comum, não está
alertado para as belezas sublimes do amor espiritual. Não podes operar milagres
nele, por muito que o ames. A descoberta de si mesmo é apanágio de cada um. Arnaldo
conhecerá mais tarde a beleza do teu idealismo; mas, por agora, é preciso
entregá-lo às experiências de que necessita.
– Não me conformo! - clamou a jovem,
chorando – justamente Maria da Luz, a amiga que sempre julguei fidelíssima.
A senhora Laura, todavia, sorriu e falou,
cautelosa:
– Não será, porém, mais agradável
confiá-lo aos cuidados de uma criatura irmã? Maria da Luz será sempre tua amiga
espiritual, ao passo que outra mulher talvez te dificultasse, mais tarde, o acesso
ao coração dele.
Eu estava eminentemente surpreendido.
Eloísa prorrompera em soluços. A bondosa senhora percebeu-me a intranquilidade
e, no propósito talvez de orientar tanto a neta
quanto a mim, esclareceu sensatamente:
– Sei a causa do teu pranto, filhinha:
nasce da terra inculta do nosso milenário egoísmo, da nossa renitente vaidade
humana. Entretanto, a vovó não te fala para ferir, mas para acordar.
Enquanto Eloísa chorava, a mãe de Lísias
convidou-me novamente à sala de estar, considerando que a doente necessitava de
repouso.
Ao sentarmo-nos, falou em tom
confidencial:
– Minha neta chegou profundamente
fatigada. Prendeu o coração, demasiadamente, nas teias do amor-próprio. A
rigor, o lugar dela seria em qualquer dos nossos hospitais; entretanto, o Assistente
Couceiro julgou melhor situá-la junto ao nosso carinho. Isso, aliás, é muito do
meu agrado, porque minha querida Teresa, sua mãe, está a chegar. Um pouco de
paciência e atingiremos a solução justa. Questão de tempo e serenidade.”
Nosso Lar - 19.
O Que é o Espiritismo - LE
“Padre — Não podeis, entretanto, contestar que o Espiritismo não está, em todos os pontos, de acordo com a religião.
Allan Kardec — Ora, senhor
abade, todas as religiões dirão a mesma coisa: os protestantes, os judeus, os
muçulmanos, tanto quanto os católicos.
Se o Espiritismo negasse a existência de
Deus, da alma, da sua individualidade e imortalidade, das penas e recompensas
futuras, do livre-arbítrio do homem; se ele ensinasse que cada um só deve viver
para si, não pensar senão em si, não só seria contrário à religião católica,
como a todas as religiões do mundo; ele seria ainda a negação de todas as leis
morais, base das sociedades humanas.
Longe disso: os Espíritos proclamam um
Deus único, soberanamente justo e bom; eles dizem que o homem é livre e responsável
por seus atos, recompensado ou punido pelo bem ou pelo mal que houver feito;
colocam acima de todas as virtudes a caridade evangélica e a seguinte regra
sublime ensinada pelo Cristo: fazer aos outros como queremos que nos seja
feito.
Não são estes os fundamentos da religião?
Essa certeza do futuro, de se ir encontrar
aqueles a quem se amou, não será uma consolação?
Essa grandiosidade da vida espiritual, que
é a nossa essência, comparada às mesquinhas preocupações da vida terrena, não
será própria a elevar a nossa alma e a fortalecer-nos na prática do bem?”
O Que é o Espiritismo - 58.
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“Examinemos de outro ponto de vista a matéria e, abstraindo de qualquer intervenção dos Espíritos, deixemo-los de lado, por enquanto. Suponhamos que esta teoria nada tenha que ver com eles; suponhamos mesmo que jamais se haja cogitado de Espíritos. Coloquemo-nos, momentaneamente, num terreno neutro, admitindo o mesmo grau de probabilidade para ambas as hipóteses, isto é, a da pluralidade e a da unicidade das existências corpóreas, e vejamos para que lado a razão e o nosso próprio interesse nos farão pender.
Muitos repelem a ideia da reencarnação
pelo só motivo de ela não lhes convir. Dizem que uma existência já lhes chega
de sobra e que, portanto, não desejariam recomeçar outra semelhante. De alguns
sabemos que saltam em fúria só com o pensarem que tenham de voltar à Terra.
Perguntar-lhes-emos apenas se imaginam que Deus lhes pediu o parecer, ou
consultou os gostos, para regular o Universo. Uma de duas: ou a reencarnação
existe, ou não existe; se existe, nada importa que os contrarie; terão que a
sofrer, sem que para isso lhes peça Deus permissão. Afiguram-se-nos os que
assim falam um doente a dizer: Sofri hoje bastante, não quero sofrer mais
amanhã. Qualquer que seja o seu mau humor, não terá por isso que sofrer menos
no dia seguinte, nem nos que se sucederem, até que se ache curado. Conseguintemente,
se os que de tal maneira se externam tiverem que viver de novo, corporalmente,
tornarão a viver, reencarnarão. Nada lhes adiantará rebelarem-se, quais crianças
que não querem ir para o colégio, ou condenados, para a prisão. Passarão pelo
que têm de passar. São demasiado pueris semelhantes objeções, para merecerem
mais seriamente examinadas. Diremos, todavia, aos que as formulam que se tranquilizem,
que a Doutrina Espírita, no tocante à reencarnação, não é tão terrível como a
julgam; que, se a houvessem estudado a fundo, não se mostrariam tão
aterrorizados; saberiam que deles dependem as condições da nova existência, que
será feliz ou desgraçada, conforme ao que tiverem feito neste mundo.
Supomos dirigir-nos a pessoas que acreditam num futuro depois da morte e não aos que criam para si a perspectiva do nada, ou pretendem que suas almas se vão afogar num todo universal, onde perdem a individualidade, como os pingos da chuva no oceano, o que vem a dar quase no mesmo. Ora, pois: se credes num futuro qualquer, certo não admitis que ele seja idêntico para todos, porquanto, de outro modo, qual a utilidade do bem? Por que haveria o homem de constranger-se? Por que deixaria de satisfazer a todas as suas paixões, a todos os seus desejos, embora à custa de outrem, uma vez que por isso não ficaria sendo melhor, nem pior? Credes, ao contrário, que esse futuro será mais ou menos ditoso ou inditoso, conforme ao que houverdes feito durante a vida e então desejais que seja tão afortunado quanto possível, visto que há de durar pela eternidade, não? Mas, porventura, teríeis a pretensão de ser dos homens mais perfeitos que hajam existido na Terra e, pois, com direito a alcançardes de um salto a suprema felicidade dos eleitos? Não. Admitis então que há homens de valor maior do que o vosso e com direito a um lugar melhor, sem daí resultar que vos conteis entre os réprobos. Pois bem! Colocai-vos mentalmente, por um instante, nessa situação intermédia, que será a vossa, como acabastes de reconhecer, e imaginar que alguém vos venha dizer: Sofreis; não sois tão felizes quanto poderíeis ser, ao passo que diante de vós estão seres que gozam de completa ventura. Quereis mudar na deles a vossa posição? — Certamente, respondereis; que devemos fazer? — Quase nada: recomeçar o trabalho mal executado e executá-lo melhor. — Hesitaríeis em aceitar, ainda que a poder de muitas existências de provações? Façamos outra comparação mais prosaica. Figuremos que a um homem que, sem ter chegado à miséria extrema, sofre, no entanto, privações, por escassez de recursos, viessem dizer: Aqui está uma riqueza imensa de que podes gozar; para isto só é necessário que trabalhes arduamente durante um minuto. Fosse ele o mais preguiçoso da Terra, que sem hesitar diria: Trabalhemos um minuto, dois minutos, uma hora, um dia, se for preciso. Que importa isso, desde que me leve a acabar os meus dias na fartura? Ora, que é a duração da vida corpórea, em confronto com a eternidade? Menos que um minuto, menos que um segundo.
Temos visto algumas pessoas raciocinarem
deste modo: Não é possível que Deus, soberanamente bom como é, imponha ao homem
a obrigação de recomeçar uma série de misérias e tribulações. Acharão,
porventura, essas pessoas que há mais bondade em condenar Deus o homem a sofrer
perpetuamente, por motivo de alguns momentos de erro, do que em lhe facultar
meios de reparar suas faltas? “Dois industriais contrataram dois operários,
cada um dos quais podia aspirar a se tornar sócio do respectivo patrão.
Aconteceu que esses dois operários certa vez empregaram muito mal o seu dia,
merecendo ambos ser despedidos. Um dos industriais, não obstante as súplicas do
seu, o mandou embora e o pobre operário, não tendo achado mais trabalho, acabou
por morrer na miséria. O outro disse ao seu: Perdeste um dia; deves-me por isso
uma compensação. Executaste mal o teu trabalho; ficaste a me dever uma
reparação. Consinto que o recomeces. Trata de executá-lo bem, que te
conservarei ao meu serviço e poderás continuar aspirando à posição superior que
te prometi.” Será preciso perguntemos qual dos industriais foi mais humano? Dar-se-á
que Deus, que é a clemência mesma, seja mais inexorável do que um homem?
Alguma coisa de pungente há na ideia de
que a nossa sorte fique para sempre decidida, por efeito de alguns anos de
provações, ainda quando de nós não tenha dependido o atingirmos a perfeição, ao
passo que eminentemente consoladora é a ideia oposta, que nos permite a
esperança. Assim, sem nos pronunciarmos pró ou contra a pluralidade das
existências, sem preferirmos uma hipótese a outra, declaramos que, se aos
homens fosse dado escolher, ninguém quereria o julgamento sem apelação. Disse
um filósofo que, se Deus não existisse, fora mister inventá-lo, para felicidade
do gênero humano. Outro tanto se poderia dizer da pluralidade das existências.
Mas, conforme atrás ponderamos, Deus não nos pede permissão, nem consulta os nossos
gostos. Ou isto é, ou não é. Vejamos de que lado estão as probabilidades e
encaremos de outro ponto de vista o assunto, unicamente como estudo filosófico,
sempre abstraindo do ensino dos Espíritos.
Se não há reencarnação, só há,
evidentemente, uma existência corporal. Se a nossa atual existência corpórea é única,
a alma de cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento, a menos que se
admita a anterioridade da alma, caso em que caberia perguntar o que era ela
antes do nascimento e se o estado em que se achava não constituía uma
existência sob forma qualquer. Não há meio termo: ou a alma existia, ou não
existia antes do corpo. Se existia, qual a sua situação? Tinha, ou não,
consciência de si mesma? Se não tinha, é quase como se não existisse. Se tinha individualidade,
era progressiva, ou estacionária? Num e noutro caso, a que grau chegara ao
tomar o corpo? Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que vem a ser o mesmo, que,
antes de encarnar, só dispõe de faculdades negativas, perguntamos:
1º Por que mostra a alma aptidões tão
diversas e independentes das ideias que a educação lhe fez adquirir?
2º Donde vem a aptidão extranormal que
muitas crianças em tenra idade revelam, para esta ou aquela arte, para esta ou
aquela ciência, enquanto outras se conservam inferiores ou medíocres durante a
vida toda?
3º Donde, em uns, as ideias inatas ou
intuitivas, que noutros não existem?
4º Donde, em certas crianças, o instinto
precoce que revelam para os vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos
de dignidade ou de baixeza, contrastando com o meio em que elas nasceram?
5º Por que, abstraindo-se da educação, uns
homens são mais adiantados do que outros?
6º Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomardes de um menino hotentote recém-nascido e o educardes nos nossos melhores liceus, fareis dele algum dia um Laplace ou um Newton?”
LM - ESE - CI - AG - OP
“Falamos,
há pouco, do possível aumento de peso. Efetivamente, esse é um fenômeno que às
vezes se produz e que nada apresenta de mais anormal do que a prodigiosa resistência
da campânula, sob a pressão da coluna atmosférica. Têm-se visto, sob a
influência de certos médiuns, objetos muito leves oferecerem idêntica
resistência e, em seguida, cederem de repente ao menor esforço. Na experiência de
que acima tratamos, a campânula não se torna realmente mais nem menos pesada em
si mesma; mas, parece ter maior peso, por efeito da causa exterior que sobre ela
atua. O mesmo provavelmente se dá aqui. A mesa tem sempre o mesmo peso
intrínseco, porquanto sua massa não aumentou; porém, uma força estranha se lhe
opõe ao movimento e essa causa pode residir nos fluidos ambientes que a
penetram, como reside no ar a que aumenta ou diminui o peso aparente da
campânula. Fazei a experiência da campânula pneumática diante de um campônio ignorante,
incapaz de compreender que o que atua é o ar, que
ele não vê, e não vos será difícil persuadi-lo de que aquilo é obra do
diabo.
Dirão talvez que, sendo imponderável esse
fluido, um acúmulo dele não pode aumentar o peso de qualquer objeto. De acordo;
mas notai que, se nos servimos do termo acúmulo, foi por comparação, não por
que assimilemos em absoluto aquele fluido ao ar. Ele é imponderável: seja.
Entretanto, nada prova que o é. Desconhecemos a sua natureza íntima e estamos
longe de lhe conhecer todas as propriedades. Antes que se houvesse
experimentado a gravidade do ar, ninguém suspeitava dos efeitos dessa mesma gravidade.
Também a eletricidade se classifica entre os fluidos imponderáveis; no entanto,
um corpo pode ser fixado por uma corrente elétrica e oferecer grande
resistência a quem queira suspendê-lo. Tornou-se, assim, aparentemente mais
pesado. Fora ilógico afirmar-se que o suporte não existe, simplesmente por não
ser visível. O Espírito pode ter alavancas que nos sejam desconhecidas: a
Natureza nos prova todos os dias que o seu poder ultrapassa os limites do
testemunho dos sentidos.
Só por uma causa semelhante se pode
explicar o singular fenômeno, tantas vezes observado, de uma pessoa fraca e
delicada levantar com dois dedos, sem esforço e como se se tratasse de uma
pena, um homem forte e robusto, juntamente com a cadeira em que está assentado.
As intermitências da faculdade provam que a causa é estranha à pessoa que
produz o fenômeno.”
O Livro dos Médiuns - 81 .
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“Venho instruir e consolar os pobres
deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas,
que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas, que
esperem, pois que também a eles os anjos consoladores lhes virão enxugar as
lágrimas.
Obreiros, traçai o vosso sulco; recomeçai
no dia seguinte o afanoso labor da véspera; o trabalho das vossas mãos vos
fornece aos corpos o pão terrestre; vossas almas, porém, não estão esquecidas;
e eu, o jardineiro divino, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos.
Quando soar a hora do repouso, e a trama da vida se vos escapar das mãos e
vossos olhos se fecharem para a luz, sentireis que surge em vós e germina a
minha preciosa semente. Nada fica perdido no reino de nosso Pai e os vossos
suores e misérias formam o tesouro que
vos tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas e onde
o mais desnudo dentre todos vós será talvez o mais resplandecente.
Em verdade vos digo: os que carregam seus
fardos e assistem os seus irmãos são bem-amados meus. Instruí-vos na preciosa
doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da
provação humana. Assim como o vento varre a poeira, que também o sopro dos
Espíritos dissipe os vossos despeitos contra os ricos do mundo, que são, não
raro, muito miseráveis, porquanto se acham sujeitos a provas mais perigosas do
que as vossas. Estou convosco e meu apóstolo vos instrui. Bebei na fonte viva
do amor e preparai-vos, cativos da vida, a lançar-vos um dia, livres e alegres,
no seio d’Aquele que vos criou fracos para vos tornar perfectíveis e que quer
modeleis vós mesmos a vossa maleável argila, a fim de serdes os artífices da
vossa imortalidade.”
O
Espírito de Verdade
O Evangelho Segundo o Espiritismo 6 - 6.
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1. “Caro avô, podeis dizer-me como vos encontrais
no mundo dos Espíritos, dando-me quaisquer pormenores úteis ao nosso progresso?
—
R. Tudo que quiseres, querida filha. Eu expio a minha descrença; porém, grande
é a bondade de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias
imaginar: é o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra.
2.
Como?
Pois não vivestes sempre honestamente?
— R. Sim,
no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os homens
e a honestidade perante Deus. E uma vez que desejas instruir-te, procurarei
demonstrar-te a diferença. Aí, entre vós, é reputado honesto aquele que
respeita as leis do seu país, respeito arbitrário para muitos. Honesto é aquele
que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a
felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o
culpado hipócrita. Em podendo fazer gravar na pedra do túmulo um epitáfio de
virtude, julgam muitos terem pago sua dívida à Humanidade! Erro! Não basta,
para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso
antes de tudo não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus
será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao
progresso dos seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for
ativo na vida; ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e
exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações, sem
esquecer a condição de servo ao qual o Senhor pedirá contas, um dia, do emprego
do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.
Assim o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras
mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem,
muitas vezes cobrindo-o de ridículo. O homem honesto, segundo Deus, deve ter
sempre cerrado o coração a quaisquer germens de orgulho, de inveja, de ambição;
deve ser paciente e benévolo para com os que o agredirem; deve perdoar do fundo
d’alma, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda;
deve, enfim, praticar o preceito conciso e grandioso que se resume “no amor de
Deus sobre todas as coisas e do próximo como a si mesmo”.
Eis aí,
querida filha, aproximadamente o que deve ser o homem honesto perante Deus.
Pois bem: tê-lo-ia eu sido? Não. Confesso sem corar que faltei a muitos desses
deveres; que não tive a atividade necessária; que o esquecimento de Deus
impeliu-me a outras faltas, as quais, por não serem passíveis às leis humanas,
nem por isso deixam de ser atentatórias à lei de Deus. Compreendendo-o, muito
sofri, e assim é que hoje espero mais consolado a misericórdia desse Deus de
bondade, que perscruta o meu arrependimento. Transmite, cara filha, repete tudo
o que aí fica a quantos tiverem a consciência onerada, para que reparem suas
faltas à força de boas obras, a fim de que a misericórdia de Deus se estenda
por sobre eles. Seus olhos paternais lhes calcularão as provações. Sua mão
potente lhes apagará as faltas.”
Joseph Bré
O Céu e o Inferno (2ª) - 3.
__________________________________________
“A
Bíblia, evidentemente, encerra fatos que a razão, desenvolvida pela Ciência,
não poderia hoje aceitar e outros que parecem estranhos e derivam de costumes
que já não são os nossos. Mas, a par disso, haveria parcialidade em se não
reconhecer que ela guarda grandes e belas coisas. A alegoria ocupa ali
considerável espaço, ocultando sob o seu véu sublimes verdades, que se
patenteiam, desde que se desça ao âmago do pensamento, pois que logo desaparece
o absurdo.
Por que então não se lhe ergueu mais cedo
o véu? De um lado, por falta de luzes que só a Ciência e uma sã filosofia podiam
fornecer e, de outro lado, por efeito do princípio da imutabilidade absoluta da
fé, consequência de um respeito ultracego à letra, e, assim, pelo temor de
comprometer a estrutura das crenças, erguida sobre o sentido literal. Partindo,
tais crenças, de um ponto primitivo, houve o receio de que, se se rompesse o
primeiro anel da cadeia, todas as malhas da rede acabassem separando-se.
Fecharam-se então os olhos obstinadamente. Mas, fechar os olhos ao perigo não é
evitá-lo. Quando uma construção se afasta do prumo, não manda a prudência que
se substituam imediatamente as pedras ruins por pedras boas, em vez de se esperar,
pelo respeito que infunda a vetustez do edifício, que o mal se torne
irremediável e que se faça preciso reconstruí-lo de cima a baixo?
Levando suas investigações às entranhas da
Terra e às profundezas dos céus, demonstrou a Ciência, de maneira irrefragável,
os erros da Gênese moisaica tomada ao pé da letra e a impossibilidade material
de se terem as coisas passado como são ali textualmente referidas. Ora, assim
procedendo, a Ciência, do mesmo passo, fundo golpe desferiu em crenças
seculares. A fé ortodoxa se sobressaltou, porque julgou que lhe tiravam a pedra
fundamental. Mas, com quem havia de estar a razão: com a Ciência, que caminhava
prudente e progressivamente pelos terrenos sólidos dos algarismos e da
observação, sem nada afirmar antes de ter em mãos as provas, ou com uma
narrativa escrita quando faltavam absolutamente os meios de observação? No fim
de contas, quem há de levar a melhor: aquele que diz 2 e 2 fazem 5 e se nega a
verificar, ou aquele que diz que 2 e 2 fazem 4 e o prova?”
A Gênese 4 - 6 e 7.
9
de outubro de 1861
AUTO-DE-FÉ
EM BARCELONA
“Esta data ficará assinalada nos anais do
Espiritismo, por motivo do auto-de-fé praticado com os livros espíritas em
Barcelona. Eis aqui um extrato da ata da execução:
“Neste dia, nove de outubro de mil
oitocentos e sessenta e um, às dez horas e meia da manhã, na esplanada da
cidade de Barcelona, no local onde são executados os criminosos condenados ao
derradeiro suplício e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados
trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber: O
Livro dos Espíritos, por Allan Kardec, etc.”
Os principais jornais da Espanha deram
conta minuciosa do fato, que os órgãos da imprensa liberal do país muito justamente
profligaram. É de notar-se que na França os periódicos liberais se limitaram a
mencioná-lo sem comentários. O próprio Século,
tão ardoroso em estigmatizar os abusos do poder e os menores atos de
intolerância do clero, não achou uma palavra de reprovação para esse ato digno
da Idade Média. Alguns jornais da pequena imprensa acharam mesmo no caso motivo
para risota. Pondo de parte o que diz respeito à crença, havia ali uma questão de
princípio, de direito internacional, que interessava a todo o mundo, sobre a
qual não teriam tão levianamente guardado silêncio, se se tratasse de certas
outras obras. Eles não se furtam de censuras, quando está em causa a simples exigência
de uma estampilha para venda de um livro materialista; ora, o restaurar a
Inquisição as suas fogueiras com a solenidade de outrora, às portas da França,
apresentava bem maior gravidade. Por que, então, semelhante indiferença? É que
estava em jogo uma doutrina a cujos progressos a incredulidade assiste com
pavor. Reivindicar justiça para ela fora consagrar-lhe o direito à proteção da
autoridade e aumentar-lhe o crédito. Seja como for, o auto-de-fé em Barcelona
não deixou de produzir o esperado efeito, pela repercussão que teve na Espanha,
onde contribuiu fortemente para propagar as ideias espíritas. (Veja-se a Revista Espírita
de novembro de 1861, pág. 321.)
O acontecimento abriu ensejo a muitas
comunicações da parte dos Espíritos. A que se segue foi dada espontaneamente na
Sociedade de Paris, a 19 de outubro, quando regressei de Bordéus.
“Fazia-se mister alguma coisa que chocasse
com violência certos Espíritos encarnados, para que se decidissem a ocupar-se
com essa grande doutrina, que há de regenerar o mundo. Nada, para isto, se faz
inutilmente na Terra e nós bem sabíamos, que forçávamos um grande passo para
frente. Esse fato brutal, inaudito nos tempos atuais, se consumou tendo por fim
chamar a atenção dos jornalistas que se mantinham indiferentes diante dá
agitação profunda que abalava as cidades e os centros espíritas. Eles deixavam
que falassem e fizessem o que bem entendessem; mas, obstinavam-se em passar por
surdos e respondiam com o mutismo ao desejo de propaganda dos adeptos do Espiritismo.
De bom ou mau grado, hoje falam dele; uns, comprovando o histórico do fato de
Barcelona; outros, desmentindo-o, ensejaram uma polêmica que dará volta ao mundo,
de grande proveito para o Espiritismo. Essa a razão por que a retaguarda da
Inquisição fez hoje o seu último auto-de-fé”.
Um
Espírito
Obras
Póstumas
“Falamos, há pouco, do possível aumento de peso. Efetivamente, esse é um fenômeno que às vezes se produz e que nada apresenta de mais anormal do que a prodigiosa resistência da campânula, sob a pressão da coluna atmosférica. Têm-se visto, sob a influência de certos médiuns, objetos muito leves oferecerem idêntica resistência e, em seguida, cederem de repente ao menor esforço. Na experiência de que acima tratamos, a campânula não se torna realmente mais nem menos pesada em si mesma; mas, parece ter maior peso, por efeito da causa exterior que sobre ela atua. O mesmo provavelmente se dá aqui. A mesa tem sempre o mesmo peso intrínseco, porquanto sua massa não aumentou; porém, uma força estranha se lhe opõe ao movimento e essa causa pode residir nos fluidos ambientes que a penetram, como reside no ar a que aumenta ou diminui o peso aparente da campânula. Fazei a experiência da campânula pneumática diante de um campônio ignorante, incapaz de compreender que o que atua é o ar, que ele não vê, e não vos será difícil persuadi-lo de que aquilo é obra do diabo.
Dirão talvez que, sendo imponderável esse
fluido, um acúmulo dele não pode aumentar o peso de qualquer objeto. De acordo;
mas notai que, se nos servimos do termo acúmulo, foi por comparação, não por
que assimilemos em absoluto aquele fluido ao ar. Ele é imponderável: seja.
Entretanto, nada prova que o é. Desconhecemos a sua natureza íntima e estamos
longe de lhe conhecer todas as propriedades. Antes que se houvesse
experimentado a gravidade do ar, ninguém suspeitava dos efeitos dessa mesma gravidade.
Também a eletricidade se classifica entre os fluidos imponderáveis; no entanto,
um corpo pode ser fixado por uma corrente elétrica e oferecer grande
resistência a quem queira suspendê-lo. Tornou-se, assim, aparentemente mais
pesado. Fora ilógico afirmar-se que o suporte não existe, simplesmente por não
ser visível. O Espírito pode ter alavancas que nos sejam desconhecidas: a
Natureza nos prova todos os dias que o seu poder ultrapassa os limites do
testemunho dos sentidos.
Só por uma causa semelhante se pode
explicar o singular fenômeno, tantas vezes observado, de uma pessoa fraca e
delicada levantar com dois dedos, sem esforço e como se se tratasse de uma
pena, um homem forte e robusto, juntamente com a cadeira em que está assentado.
As intermitências da faculdade provam que a causa é estranha à pessoa que
produz o fenômeno.”
O Livro dos Médiuns - 81 .
“Venho instruir e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem a sua resignação ao nível de suas provas, que chorem, porquanto a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras; mas, que esperem, pois que também a eles os anjos consoladores lhes virão enxugar as lágrimas.
Obreiros, traçai o vosso sulco; recomeçai
no dia seguinte o afanoso labor da véspera; o trabalho das vossas mãos vos
fornece aos corpos o pão terrestre; vossas almas, porém, não estão esquecidas;
e eu, o jardineiro divino, as cultivo no silêncio dos vossos pensamentos.
Quando soar a hora do repouso, e a trama da vida se vos escapar das mãos e
vossos olhos se fecharem para a luz, sentireis que surge em vós e germina a
minha preciosa semente. Nada fica perdido no reino de nosso Pai e os vossos
suores e misérias formam o tesouro que
vos tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas e onde
o mais desnudo dentre todos vós será talvez o mais resplandecente.
Em verdade vos digo: os que carregam seus
fardos e assistem os seus irmãos são bem-amados meus. Instruí-vos na preciosa
doutrina que dissipa o erro das revoltas e vos mostra o sublime objetivo da
provação humana. Assim como o vento varre a poeira, que também o sopro dos
Espíritos dissipe os vossos despeitos contra os ricos do mundo, que são, não
raro, muito miseráveis, porquanto se acham sujeitos a provas mais perigosas do
que as vossas. Estou convosco e meu apóstolo vos instrui. Bebei na fonte viva
do amor e preparai-vos, cativos da vida, a lançar-vos um dia, livres e alegres,
no seio d’Aquele que vos criou fracos para vos tornar perfectíveis e que quer
modeleis vós mesmos a vossa maleável argila, a fim de serdes os artífices da
vossa imortalidade.”
O
Espírito de Verdade
O Evangelho Segundo o Espiritismo 6 - 6.
1. “Caro avô, podeis dizer-me como vos encontrais
no mundo dos Espíritos, dando-me quaisquer pormenores úteis ao nosso progresso?
—
R. Tudo que quiseres, querida filha. Eu expio a minha descrença; porém, grande
é a bondade de Deus, que atende às circunstâncias. Sofro, mas não como poderias
imaginar: é o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra.
2.
Como?
Pois não vivestes sempre honestamente?
— R. Sim,
no juízo dos homens; mas há um abismo entre a honestidade perante os homens
e a honestidade perante Deus. E uma vez que desejas instruir-te, procurarei
demonstrar-te a diferença. Aí, entre vós, é reputado honesto aquele que
respeita as leis do seu país, respeito arbitrário para muitos. Honesto é aquele
que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a
felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o
culpado hipócrita. Em podendo fazer gravar na pedra do túmulo um epitáfio de
virtude, julgam muitos terem pago sua dívida à Humanidade! Erro! Não basta,
para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso
antes de tudo não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus
será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao
progresso dos seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for
ativo na vida; ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e
exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações, sem
esquecer a condição de servo ao qual o Senhor pedirá contas, um dia, do emprego
do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.
Assim o homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras
mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem,
muitas vezes cobrindo-o de ridículo. O homem honesto, segundo Deus, deve ter
sempre cerrado o coração a quaisquer germens de orgulho, de inveja, de ambição;
deve ser paciente e benévolo para com os que o agredirem; deve perdoar do fundo
d’alma, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda;
deve, enfim, praticar o preceito conciso e grandioso que se resume “no amor de
Deus sobre todas as coisas e do próximo como a si mesmo”.
Eis aí,
querida filha, aproximadamente o que deve ser o homem honesto perante Deus.
Pois bem: tê-lo-ia eu sido? Não. Confesso sem corar que faltei a muitos desses
deveres; que não tive a atividade necessária; que o esquecimento de Deus
impeliu-me a outras faltas, as quais, por não serem passíveis às leis humanas,
nem por isso deixam de ser atentatórias à lei de Deus. Compreendendo-o, muito
sofri, e assim é que hoje espero mais consolado a misericórdia desse Deus de
bondade, que perscruta o meu arrependimento. Transmite, cara filha, repete tudo
o que aí fica a quantos tiverem a consciência onerada, para que reparem suas
faltas à força de boas obras, a fim de que a misericórdia de Deus se estenda
por sobre eles. Seus olhos paternais lhes calcularão as provações. Sua mão
potente lhes apagará as faltas.”
Joseph Bré
O Céu e o Inferno (2ª) - 3.
“A Bíblia, evidentemente, encerra fatos que a razão, desenvolvida pela Ciência, não poderia hoje aceitar e outros que parecem estranhos e derivam de costumes que já não são os nossos. Mas, a par disso, haveria parcialidade em se não reconhecer que ela guarda grandes e belas coisas. A alegoria ocupa ali considerável espaço, ocultando sob o seu véu sublimes verdades, que se patenteiam, desde que se desça ao âmago do pensamento, pois que logo desaparece o absurdo.
Por que então não se lhe ergueu mais cedo
o véu? De um lado, por falta de luzes que só a Ciência e uma sã filosofia podiam
fornecer e, de outro lado, por efeito do princípio da imutabilidade absoluta da
fé, consequência de um respeito ultracego à letra, e, assim, pelo temor de
comprometer a estrutura das crenças, erguida sobre o sentido literal. Partindo,
tais crenças, de um ponto primitivo, houve o receio de que, se se rompesse o
primeiro anel da cadeia, todas as malhas da rede acabassem separando-se.
Fecharam-se então os olhos obstinadamente. Mas, fechar os olhos ao perigo não é
evitá-lo. Quando uma construção se afasta do prumo, não manda a prudência que
se substituam imediatamente as pedras ruins por pedras boas, em vez de se esperar,
pelo respeito que infunda a vetustez do edifício, que o mal se torne
irremediável e que se faça preciso reconstruí-lo de cima a baixo?
Levando suas investigações às entranhas da
Terra e às profundezas dos céus, demonstrou a Ciência, de maneira irrefragável,
os erros da Gênese moisaica tomada ao pé da letra e a impossibilidade material
de se terem as coisas passado como são ali textualmente referidas. Ora, assim
procedendo, a Ciência, do mesmo passo, fundo golpe desferiu em crenças
seculares. A fé ortodoxa se sobressaltou, porque julgou que lhe tiravam a pedra
fundamental. Mas, com quem havia de estar a razão: com a Ciência, que caminhava
prudente e progressivamente pelos terrenos sólidos dos algarismos e da
observação, sem nada afirmar antes de ter em mãos as provas, ou com uma
narrativa escrita quando faltavam absolutamente os meios de observação? No fim
de contas, quem há de levar a melhor: aquele que diz 2 e 2 fazem 5 e se nega a
verificar, ou aquele que diz que 2 e 2 fazem 4 e o prova?”
A Gênese 4 - 6 e 7.
9
de outubro de 1861
AUTO-DE-FÉ
EM BARCELONA
“Esta data ficará assinalada nos anais do
Espiritismo, por motivo do auto-de-fé praticado com os livros espíritas em
Barcelona. Eis aqui um extrato da ata da execução:
“Neste dia, nove de outubro de mil
oitocentos e sessenta e um, às dez horas e meia da manhã, na esplanada da
cidade de Barcelona, no local onde são executados os criminosos condenados ao
derradeiro suplício e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados
trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber: O
Livro dos Espíritos, por Allan Kardec, etc.”
Os principais jornais da Espanha deram
conta minuciosa do fato, que os órgãos da imprensa liberal do país muito justamente
profligaram. É de notar-se que na França os periódicos liberais se limitaram a
mencioná-lo sem comentários. O próprio Século,
tão ardoroso em estigmatizar os abusos do poder e os menores atos de
intolerância do clero, não achou uma palavra de reprovação para esse ato digno
da Idade Média. Alguns jornais da pequena imprensa acharam mesmo no caso motivo
para risota. Pondo de parte o que diz respeito à crença, havia ali uma questão de
princípio, de direito internacional, que interessava a todo o mundo, sobre a
qual não teriam tão levianamente guardado silêncio, se se tratasse de certas
outras obras. Eles não se furtam de censuras, quando está em causa a simples exigência
de uma estampilha para venda de um livro materialista; ora, o restaurar a
Inquisição as suas fogueiras com a solenidade de outrora, às portas da França,
apresentava bem maior gravidade. Por que, então, semelhante indiferença? É que
estava em jogo uma doutrina a cujos progressos a incredulidade assiste com
pavor. Reivindicar justiça para ela fora consagrar-lhe o direito à proteção da
autoridade e aumentar-lhe o crédito. Seja como for, o auto-de-fé em Barcelona
não deixou de produzir o esperado efeito, pela repercussão que teve na Espanha,
onde contribuiu fortemente para propagar as ideias espíritas. (Veja-se a Revista Espírita
de novembro de 1861, pág. 321.)
O acontecimento abriu ensejo a muitas
comunicações da parte dos Espíritos. A que se segue foi dada espontaneamente na
Sociedade de Paris, a 19 de outubro, quando regressei de Bordéus.
“Fazia-se mister alguma coisa que chocasse
com violência certos Espíritos encarnados, para que se decidissem a ocupar-se
com essa grande doutrina, que há de regenerar o mundo. Nada, para isto, se faz
inutilmente na Terra e nós bem sabíamos, que forçávamos um grande passo para
frente. Esse fato brutal, inaudito nos tempos atuais, se consumou tendo por fim
chamar a atenção dos jornalistas que se mantinham indiferentes diante dá
agitação profunda que abalava as cidades e os centros espíritas. Eles deixavam
que falassem e fizessem o que bem entendessem; mas, obstinavam-se em passar por
surdos e respondiam com o mutismo ao desejo de propaganda dos adeptos do Espiritismo.
De bom ou mau grado, hoje falam dele; uns, comprovando o histórico do fato de
Barcelona; outros, desmentindo-o, ensejaram uma polêmica que dará volta ao mundo,
de grande proveito para o Espiritismo. Essa a razão por que a retaguarda da
Inquisição fez hoje o seu último auto-de-fé”.
Um
Espírito
Obras
Póstumas