“São provocados os fenômenos
de que acabamos de falar. Sucede, porém, às vezes, produzirem-se
espontaneamente, sem intervenção da vontade, até mesmo contra a vontade, pois
que frequentemente se tornam muito importunos. Além disso, para excluir a
suposição de que possam ser efeito de imaginação sobreexcitada pelas ideias
espíritas, há a circunstância de que se produzem entre pessoas que nunca
ouviram falar disso e exatamente quando menos por semelhante coisa esperavam.
Tais fenômenos, a que se poderia dar o
nome de Espiritismo prático natural, são muito importantes, por não permitirem a
suspeita de conivência. Por isso mesmo, recomendamos, às pessoas que se ocupam
com os fatos espíritas, que registrem todos os desse gênero, que lhes cheguem
ao conhecimento, mas, sobretudo, que lhes verifiquem cuidadosamente a
realidade, mediante pormenorizado estudo
das circunstâncias, a fim de adquirirem a certeza de que não são joguetes de
uma ilusão, ou de uma mistificação.
De todas as manifestações espíritas, as
mais simples e mais frequentes são os ruídos e as pancadas. Neste caso, principalmente,
é que se deve temer a ilusão, porquanto uma infinidade de causas naturais pode
produzi-los: o vento que sibila ou que agita um objeto, um corpo que se move por
si mesmo sem que ninguém perceba, um efeito acústico, um animal escondido, um
inseto, etc., até mesmo a malícia dos brincalhões de mau gosto. Aliás, os
ruídos espíritas apresentam um caráter especial, revelando intensidade e
timbre muito variado, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem
sejam confundidos com os estalidos da madeira, com as crepitações do fogo, ou
com o tique-taque monótono do relógio. São pancadas secas, ora surdas, fracas e
leves, ora claras, distintas, às vezes retumbantes, que mudam de lugar e se
repetem sem nenhuma regularidade mecânica. De todos os meios de verificação, o mais
eficaz, o que não pode deixar dúvida quanto à origem do fenômeno, é a
obediência deste à vontade de quem o observa. Se as pancadas se fizerem ouvir
num lugar determinado, se responderem, pelo seu número, ou pela sua intensidade,
ao pensamento, não se lhes pode deixar de reconhecer uma causa inteligente.
Todavia, a falta de obediência nem sempre constitui prova em contrário.”
O Livro dos Médiuns - 82 e 83 .
__________________________________________
“Sou
o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de curar. Os
fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho
salvá-los. Vinde, pois, a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis
aliviados e consolados. Não busqueis alhures a força e a consolação, pois que o
mundo é impotente para dá-las. Deus dirige um supremo apelo aos vossos
corações, por meio do Espiritismo. Escutai-o. Extirpados sejam de vossas almas
doloridas a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade. São monstros que
sugam o vosso mais puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais.
Que, no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua lei divina.
Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo de vossos corações.
Ele, então, vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer estas
boas palavras: Eis-me aqui; venho até vós, porque me chamastes.”
O
Espírito de Verdade
O Evangelho Segundo o Espiritismo 6 - 7.
_____________________
_____________________
“Jovem de 25
anos, falecida subitamente no lar, sem sofrimentos, sem causa previamente conhecida.
Rica e um tanto frívola, a leviandade de caráter predispunha-a mais para as
futilidades da vida do que para as coisas sérias. Não obstante, possuía um
coração bondoso e era dócil, afetuosa e caritativa.
Evocada três dias após a morte por pessoas conhecidas, exprimia-se
assim:
“Não sei onde estou... que turbação me cerca! Chamaste-me, e eu vim. Não
compreendo por que não estou em minha casa; lamentam a minha ausência quando
presente estou, sem poder fazer-me reconhecida. Meu corpo não mais me pertence,
e no entanto eu lhe sinto a algidez... Quero deixá-lo e mais a ele me prendo,
sempre... Sou como que duas personalidades... Oh! quando chegarei a compreender
o que comigo se passa? É necessário que vá lá ainda... meu outro ‘eu’, que lhe
sucederá na minha ausência?
Adeus.”
O
sentimento da dualidade que não está ainda destruído por uma completa
separação, é aqui evidente. Caráter volúvel, permitindo-lhe a posição e a
fortuna a satisfação de todos os caprichos, deveria igualmente favorecer as
tendências de leviandade. Não admira, pois, tenha sido lento o seu
desprendimento, a ponto de, três dias após a morte, sentir-se ainda ligada ao
invólucro corporal. Mas, como não possuísse vícios sérios e fosse de boa
índole, essa situação nada tinha de penosa e não deveria prolongar-se por muito
tempo. Evocada novamente depois de alguns dias, as suas ideias estavam já muito
modificadas. Eis o que disse:
“Obrigada por haverdes orado por mim. Reconheço a bondade de Deus, que
me subtraiu aos sofrimentos e apreensões consequentes ao desligamento do meu
Espírito. À minha pobre mãe será dificílimo resignar-se; entretanto será
confortada, e o que a seus olhos constitui sensível desgraça, era fatal e
indispensável para que as coisas do Céu se lhe tornassem no que devem ser:
tudo. Estarei ao seu lado até o fim da sua provação terrestre, ajudando-a a
suportá-la.
“Não sou infeliz, porém, muito tenho ainda a fazer para aproximar-me da
situação dos bem-aventurados. Pedirei a Deus me conceda voltar a essa Terra
para reparação do tempo que aí perdi nesta última existência.
‘A
fé vos ampare, meus amigos; confiai na eficácia da prece, mormente quando
partida do coração. Deus é bom.’
—
P. Levastes muito tempo a reconhecer-vos?
—
R. Compreendi a morte no mesmo dia que por mim orastes.
—
P. Era doloroso o estado de perturbação?
—
R. Não, eu não sofria, acreditava sonhar e aguardava o despertar. Minha vida
não foi isenta de dores, mas todo ser encarnado nesse mundo deve sofrer.
Resignando-me à vontade de Deus, a minha resignação foi por Ele levada em
conta. Grata vos sou pelas preces que me auxiliaram no reconhecimento de mim
mesma. Obrigada; voltarei sempre com prazer. Adeus.”
Hélène
O Céu e o Inferno (2ª) - 3.
__________________________________________
“Mas,
objetam, se a Bíblia é uma revelação divina, então Deus se enganou. Se não é
uma revelação divina, carece de autoridade e a religião desmorona, à falta de
base.
Uma de duas: ou a Ciência está em erro, ou
tem razão. Se tem razão, não pode fazer seja verdadeira uma opinião que lhe é
contrária. Não há revelação que se possa sobrepor à autoridade dos fatos.
Incontestavelmente, não é possível que
Deus, sendo todo verdade, induza os homens em erro, nem ciente, nem inscientemente,
pois, do contrário, não seria Deus. Logo, se os fatos contradizem as palavras
que lhe são atribuídas, o que se deve logicamente concluir é que ele não as
pronunciou, ou que tais palavras foram entendidas em sentido oposto ao que lhes
é próprio.
Se, com semelhantes contradições, a
religião sofre dano, a culpa não é da Ciência, que não pode fazer que o que é deixe
de ser; mas, dos homens, por haverem, prematuramente, estabelecido dogmas
absolutos, de cujo prevalecimento hão feito questão de vida ou de morte, sobre
hipóteses suscetíveis de serem desmentidas pela experiência.
Há coisas com cujo sacrifício temos de
resignar-nos, bom ou mau grado, quando não consigamos evitá-lo. Desde que o
mundo marcha, sem que a vontade de alguns possa detê-lo, o mais sensato é que o
acompanhemos e nos acomodemos com o novo estado de coisas, em vez de nos
agarrarmos ao passado que se esboroa, com o risco de sermos arrastados na
queda.
Por guardar respeito aos Textos Sagrados,
dever-se-ia obrigar a Ciência a calar-se? Fora tão impossível isso, como impedir
que a Terra gire. As religiões, sejam quais forem, jamais ganharam coisa alguma
em sustentar erros manifestos. A Ciência tem por missão descobrir as leis da
Natureza. Ora, sendo essas leis obra de Deus, não podem ser contrárias a
religiões que se baseiem na verdade. Lançar anátema ao progresso, por
atentatório à religião, é lançá-lo à própria obra de Deus. É ao demais,
trabalho inútil, porquanto nem todos os anátemas do mundo seriam capazes de
obstar a que a Ciência avance e a que a verdade abra caminho. Se
a Religião se nega a avançar com a Ciência, esta
avançará sozinha.”
A Gênese 4 - 8 e 9.
“Tendo uma conversação com os Espíritos
levado a falar do meu sucessor na direção do Espiritismo, formulei a questão
seguinte:
Pergunta — Entre
os adeptos, muitos há que se preocupam com o que virá a ser do Espiritismo
depois de mim e perguntam quem me substituirá quando eu partir, uma vez que não
se vê aparecer ninguém, de modo notório, para lhe tomar as rédeas.
Respondo que não nutro a pretensão de ser
indispensável; que Deus é extremamente sábio para não fazer que uma doutrina
destinada a regenerar o mundo assente sobre a vida de um homem; que, ao demais,
sempre me avisaram que a minha tarefa é a de constituir a Doutrina e que para
isso tempo necessário me será concedido. A do meu sucessor será, pois, mais
fácil, porquanto já achará traçado o caminho, bastando que o siga. Entretanto,
se os Espíritos julgassem oportuno dizer-me a respeito alguma coisa de mais
positivo, eu muito grato lhes ficaria.
Resposta — Tudo
isso é rigorosamente exato — eis o que se nos permite dizer-te a mais.
Tens razão em afirmar que não és
indispensável; só o és ao ver dos homens, porque era necessário que o trabalho de
organização se concentrasse nas mãos de um só, para que houvesse unidade; não o
és, porém, aos olhos de Deus. Foste escolhido e por isso é que te vês só; mas,
não és, como, aliás, bem o sabes, a única entidade capaz de desempenhar essa missão. Se o seu desempenho
se interrompesse por uma causa qualquer, não faltariam a Deus outros que te
substituíssem. Assim, aconteça o que acontecer, o Espiritismo não periclitará.
Enquanto o trabalho de elaboração não
estiver concluído, é, pois, necessário sejas o único em evidência: fazia-se
mister uma bandeira em torno da qual pudessem as gentes agrupar-se. Era preciso
que te considerassem indispensável, para que a obra que te sair das mãos tenha
mais autoridade no presente e no futuro; era preciso mesmo que temessem pelas
consequências da tua partida.
Se aquele que te há de substituir fosse
designado de antemão, a obra, ainda não acabada, poderia sofrer entraves; formar-se-iam
contra ti oposições suscitadas pelo ciúme; discuti-lo-iam, antes que ele desse
provas de si; os inimigos da Doutrina procurariam barrar-lhe o caminho, resultando
daí cismas e separações. Ele, portanto, se revelará, quando chegar o
momento.
Sua tarefa será assim facilitada, porque,
como dizes, o caminho estará todo traçado; se ele daí se afastasse,
perder-se-ia a si próprio, como já se perderam os que hão querido atravessar-se
na estrada. A referida tarefa, porém, será mais penosa noutro sentido, visto
que ele terá de sustentar lutas mais rudes. A ti te incumbe o encargo da
concepção, a ele o da execução, pelo que terá de ser homem de energia e de ação.
Admira aqui a sabedoria de Deus na escolha de seus mandatários: tu possuis as
qualidades que eram necessárias
ao trabalho que tens de realizar, porém não possuis as que serão necessárias ao
teu sucessor. Tu precisas da calma, da tranquilidade do escritor que amadurece
as ideias no silêncio da meditação; ele precisará da força do capitão que
comanda um navio segundo as regras da Ciência. Exonerado do trabalho de criação
da obra sob cujo peso teu corpo sucumbirá, ele terá mais liberdade para aplicar
todas as suas faculdades ao desenvolvimento e à consolidação do edifício.
P. —
Poderás dizer-me se a escolha do meu sucessor já está feita?
R. — Está, sem o estar, dado
que o homem, dispondo do livre-arbítrio, pode no último momento recuar diante
da tarefa que ele próprio elegeu. É também indispensável que dê provas de si,
de capacidade, de devotamento, de desinteresse e de abnegação. Se se deixasse
levar apenas pela ambição e pelo desejo de primar, seria certamente posto de lado.
P. — Frequentemente se há dito
que muitos Espíritos encarnariam para ajudar o movimento.
R. — Sem dúvida, muitos
Espíritos terão essa missão, mas cada um na sua especialidade, para agir, pela
sua posição, sobre tal ou tal parte na sociedade. Todos se revelarão por suas
obras e nenhum por qualquer pretensão à supremacia.”
Obras
Póstumas – Meu Sucessor.
“São provocados os fenômenos de que acabamos de falar. Sucede, porém, às vezes, produzirem-se espontaneamente, sem intervenção da vontade, até mesmo contra a vontade, pois que frequentemente se tornam muito importunos. Além disso, para excluir a suposição de que possam ser efeito de imaginação sobreexcitada pelas ideias espíritas, há a circunstância de que se produzem entre pessoas que nunca ouviram falar disso e exatamente quando menos por semelhante coisa esperavam.
Tais fenômenos, a que se poderia dar o
nome de Espiritismo prático natural, são muito importantes, por não permitirem a
suspeita de conivência. Por isso mesmo, recomendamos, às pessoas que se ocupam
com os fatos espíritas, que registrem todos os desse gênero, que lhes cheguem
ao conhecimento, mas, sobretudo, que lhes verifiquem cuidadosamente a
realidade, mediante pormenorizado estudo
das circunstâncias, a fim de adquirirem a certeza de que não são joguetes de
uma ilusão, ou de uma mistificação.
De todas as manifestações espíritas, as mais simples e mais frequentes são os ruídos e as pancadas. Neste caso, principalmente, é que se deve temer a ilusão, porquanto uma infinidade de causas naturais pode produzi-los: o vento que sibila ou que agita um objeto, um corpo que se move por si mesmo sem que ninguém perceba, um efeito acústico, um animal escondido, um inseto, etc., até mesmo a malícia dos brincalhões de mau gosto. Aliás, os ruídos espíritas apresentam um caráter especial, revelando intensidade e timbre muito variado, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem sejam confundidos com os estalidos da madeira, com as crepitações do fogo, ou com o tique-taque monótono do relógio. São pancadas secas, ora surdas, fracas e leves, ora claras, distintas, às vezes retumbantes, que mudam de lugar e se repetem sem nenhuma regularidade mecânica. De todos os meios de verificação, o mais eficaz, o que não pode deixar dúvida quanto à origem do fenômeno, é a obediência deste à vontade de quem o observa. Se as pancadas se fizerem ouvir num lugar determinado, se responderem, pelo seu número, ou pela sua intensidade, ao pensamento, não se lhes pode deixar de reconhecer uma causa inteligente. Todavia, a falta de obediência nem sempre constitui prova em contrário.”
O Livro dos Médiuns - 82 e 83 .
“Sou o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de curar. Os fracos, os sofredores e os enfermos são os meus filhos prediletos. Venho salvá-los. Vinde, pois, a mim, vós que sofreis e vos achais oprimidos, e sereis aliviados e consolados. Não busqueis alhures a força e a consolação, pois que o mundo é impotente para dá-las. Deus dirige um supremo apelo aos vossos corações, por meio do Espiritismo. Escutai-o. Extirpados sejam de vossas almas doloridas a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade. São monstros que sugam o vosso mais puro sangue e que vos abrem chagas quase sempre mortais. Que, no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiqueis a sua lei divina. Amai e orai; sede dóceis aos Espíritos do Senhor; invocai-o do fundo de vossos corações. Ele, então, vos enviará o seu Filho bem-amado, para vos instruir e dizer estas boas palavras: Eis-me aqui; venho até vós, porque me chamastes.”
O
Espírito de Verdade
O Evangelho Segundo o Espiritismo 6 - 7.
“Jovem de 25 anos, falecida subitamente no lar, sem sofrimentos, sem causa previamente conhecida. Rica e um tanto frívola, a leviandade de caráter predispunha-a mais para as futilidades da vida do que para as coisas sérias. Não obstante, possuía um coração bondoso e era dócil, afetuosa e caritativa.
Evocada três dias após a morte por pessoas conhecidas, exprimia-se
assim:
“Não sei onde estou... que turbação me cerca! Chamaste-me, e eu vim. Não
compreendo por que não estou em minha casa; lamentam a minha ausência quando
presente estou, sem poder fazer-me reconhecida. Meu corpo não mais me pertence,
e no entanto eu lhe sinto a algidez... Quero deixá-lo e mais a ele me prendo,
sempre... Sou como que duas personalidades... Oh! quando chegarei a compreender
o que comigo se passa? É necessário que vá lá ainda... meu outro ‘eu’, que lhe
sucederá na minha ausência?
Adeus.”
O
sentimento da dualidade que não está ainda destruído por uma completa
separação, é aqui evidente. Caráter volúvel, permitindo-lhe a posição e a
fortuna a satisfação de todos os caprichos, deveria igualmente favorecer as
tendências de leviandade. Não admira, pois, tenha sido lento o seu
desprendimento, a ponto de, três dias após a morte, sentir-se ainda ligada ao
invólucro corporal. Mas, como não possuísse vícios sérios e fosse de boa
índole, essa situação nada tinha de penosa e não deveria prolongar-se por muito
tempo. Evocada novamente depois de alguns dias, as suas ideias estavam já muito
modificadas. Eis o que disse:
“Obrigada por haverdes orado por mim. Reconheço a bondade de Deus, que me subtraiu aos sofrimentos e apreensões consequentes ao desligamento do meu Espírito. À minha pobre mãe será dificílimo resignar-se; entretanto será confortada, e o que a seus olhos constitui sensível desgraça, era fatal e indispensável para que as coisas do Céu se lhe tornassem no que devem ser: tudo. Estarei ao seu lado até o fim da sua provação terrestre, ajudando-a a suportá-la.
“Não sou infeliz, porém, muito tenho ainda a fazer para aproximar-me da
situação dos bem-aventurados. Pedirei a Deus me conceda voltar a essa Terra
para reparação do tempo que aí perdi nesta última existência.
‘A
fé vos ampare, meus amigos; confiai na eficácia da prece, mormente quando
partida do coração. Deus é bom.’
—
P. Levastes muito tempo a reconhecer-vos?
—
R. Compreendi a morte no mesmo dia que por mim orastes.
—
P. Era doloroso o estado de perturbação?
—
R. Não, eu não sofria, acreditava sonhar e aguardava o despertar. Minha vida
não foi isenta de dores, mas todo ser encarnado nesse mundo deve sofrer.
Resignando-me à vontade de Deus, a minha resignação foi por Ele levada em
conta. Grata vos sou pelas preces que me auxiliaram no reconhecimento de mim
mesma. Obrigada; voltarei sempre com prazer. Adeus.”
Hélène
O Céu e o Inferno (2ª) - 3.
“Mas, objetam, se a Bíblia é uma revelação divina, então Deus se enganou. Se não é uma revelação divina, carece de autoridade e a religião desmorona, à falta de base.
Uma de duas: ou a Ciência está em erro, ou
tem razão. Se tem razão, não pode fazer seja verdadeira uma opinião que lhe é
contrária. Não há revelação que se possa sobrepor à autoridade dos fatos.
Incontestavelmente, não é possível que
Deus, sendo todo verdade, induza os homens em erro, nem ciente, nem inscientemente,
pois, do contrário, não seria Deus. Logo, se os fatos contradizem as palavras
que lhe são atribuídas, o que se deve logicamente concluir é que ele não as
pronunciou, ou que tais palavras foram entendidas em sentido oposto ao que lhes
é próprio.
Se, com semelhantes contradições, a
religião sofre dano, a culpa não é da Ciência, que não pode fazer que o que é deixe
de ser; mas, dos homens, por haverem, prematuramente, estabelecido dogmas
absolutos, de cujo prevalecimento hão feito questão de vida ou de morte, sobre
hipóteses suscetíveis de serem desmentidas pela experiência.
Há coisas com cujo sacrifício temos de
resignar-nos, bom ou mau grado, quando não consigamos evitá-lo. Desde que o
mundo marcha, sem que a vontade de alguns possa detê-lo, o mais sensato é que o
acompanhemos e nos acomodemos com o novo estado de coisas, em vez de nos
agarrarmos ao passado que se esboroa, com o risco de sermos arrastados na
queda.
Por guardar respeito aos Textos Sagrados,
dever-se-ia obrigar a Ciência a calar-se? Fora tão impossível isso, como impedir
que a Terra gire. As religiões, sejam quais forem, jamais ganharam coisa alguma
em sustentar erros manifestos. A Ciência tem por missão descobrir as leis da
Natureza. Ora, sendo essas leis obra de Deus, não podem ser contrárias a
religiões que se baseiem na verdade. Lançar anátema ao progresso, por
atentatório à religião, é lançá-lo à própria obra de Deus. É ao demais,
trabalho inútil, porquanto nem todos os anátemas do mundo seriam capazes de
obstar a que a Ciência avance e a que a verdade abra caminho. Se
a Religião se nega a avançar com a Ciência, esta
avançará sozinha.”
A Gênese 4 - 8 e 9.
“Tendo uma conversação com os Espíritos
levado a falar do meu sucessor na direção do Espiritismo, formulei a questão
seguinte:
Pergunta — Entre
os adeptos, muitos há que se preocupam com o que virá a ser do Espiritismo
depois de mim e perguntam quem me substituirá quando eu partir, uma vez que não
se vê aparecer ninguém, de modo notório, para lhe tomar as rédeas.
Respondo que não nutro a pretensão de ser
indispensável; que Deus é extremamente sábio para não fazer que uma doutrina
destinada a regenerar o mundo assente sobre a vida de um homem; que, ao demais,
sempre me avisaram que a minha tarefa é a de constituir a Doutrina e que para
isso tempo necessário me será concedido. A do meu sucessor será, pois, mais
fácil, porquanto já achará traçado o caminho, bastando que o siga. Entretanto,
se os Espíritos julgassem oportuno dizer-me a respeito alguma coisa de mais
positivo, eu muito grato lhes ficaria.
Resposta — Tudo
isso é rigorosamente exato — eis o que se nos permite dizer-te a mais.
Tens razão em afirmar que não és
indispensável; só o és ao ver dos homens, porque era necessário que o trabalho de
organização se concentrasse nas mãos de um só, para que houvesse unidade; não o
és, porém, aos olhos de Deus. Foste escolhido e por isso é que te vês só; mas,
não és, como, aliás, bem o sabes, a única entidade capaz de desempenhar essa missão. Se o seu desempenho
se interrompesse por uma causa qualquer, não faltariam a Deus outros que te
substituíssem. Assim, aconteça o que acontecer, o Espiritismo não periclitará.
Enquanto o trabalho de elaboração não
estiver concluído, é, pois, necessário sejas o único em evidência: fazia-se
mister uma bandeira em torno da qual pudessem as gentes agrupar-se. Era preciso
que te considerassem indispensável, para que a obra que te sair das mãos tenha
mais autoridade no presente e no futuro; era preciso mesmo que temessem pelas
consequências da tua partida.
Se aquele que te há de substituir fosse
designado de antemão, a obra, ainda não acabada, poderia sofrer entraves; formar-se-iam
contra ti oposições suscitadas pelo ciúme; discuti-lo-iam, antes que ele desse
provas de si; os inimigos da Doutrina procurariam barrar-lhe o caminho, resultando
daí cismas e separações. Ele, portanto, se revelará, quando chegar o
momento.
Sua tarefa será assim facilitada, porque, como dizes, o caminho estará todo traçado; se ele daí se afastasse, perder-se-ia a si próprio, como já se perderam os que hão querido atravessar-se na estrada. A referida tarefa, porém, será mais penosa noutro sentido, visto que ele terá de sustentar lutas mais rudes. A ti te incumbe o encargo da concepção, a ele o da execução, pelo que terá de ser homem de energia e de ação. Admira aqui a sabedoria de Deus na escolha de seus mandatários: tu possuis as qualidades que eram necessárias ao trabalho que tens de realizar, porém não possuis as que serão necessárias ao teu sucessor. Tu precisas da calma, da tranquilidade do escritor que amadurece as ideias no silêncio da meditação; ele precisará da força do capitão que comanda um navio segundo as regras da Ciência. Exonerado do trabalho de criação da obra sob cujo peso teu corpo sucumbirá, ele terá mais liberdade para aplicar todas as suas faculdades ao desenvolvimento e à consolidação do edifício.
P. —
Poderás dizer-me se a escolha do meu sucessor já está feita?
R. — Está, sem o estar, dado
que o homem, dispondo do livre-arbítrio, pode no último momento recuar diante
da tarefa que ele próprio elegeu. É também indispensável que dê provas de si,
de capacidade, de devotamento, de desinteresse e de abnegação. Se se deixasse
levar apenas pela ambição e pelo desejo de primar, seria certamente posto de lado.
P. — Frequentemente se há dito
que muitos Espíritos encarnariam para ajudar o movimento.
R. — Sem dúvida, muitos
Espíritos terão essa missão, mas cada um na sua especialidade, para agir, pela
sua posição, sobre tal ou tal parte na sociedade. Todos se revelarão por suas
obras e nenhum por qualquer pretensão à supremacia.”
Obras
Póstumas – Meu Sucessor.
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