“Quando se produz o vácuo na
campânula da máquina pneumática, essa campânula adere com força tal ao seu suporte,
que impossível se torna suspendê-la, devido ao peso da coluna de ar que sobre
ela faz pressão. Deixe-se entrar o ar e a campânula pode ser levantada com a
maior facilidade, porque o ar que lhe fica por baixo contrabalança o ar que,
pela parte exterior, a comprime. Contudo, se ninguém lhe tocar, ela permanecerá
assente no suporte, por efeito da lei de gravidade. Agora, comprima-se-lhe o ar
no interior, dê-se-lhe densidade maior que a do que está por fora, e a
campânula se erguerá, apesar da gravidade. Se a corrente de ar for violenta e
rápida, a mesma campânula se manterá suspensa no espaço, sem nenhum ponto visível de
apoio, à guisa desses bonecos que se fazem rodopiar em cima de um repuxo d’água.
Por que então o fluido universal, que é o elemento de toda a
Natureza, acumulado em torno da mesa, não poderia ter a propriedade de
lhe diminuir ou aumentar o peso específico relativo, como faz o ar com
a campânula da máquina pneumática, como faz o gás hidrogênio com os balões, sem
que para isso seja necessária a derrogação da lei de gravidade? Conheceis,
porventura, todas as propriedades e todo o poder desse fluido? Não. Pois,
então, não negueis a realidade de um fato, apenas por não o poderdes explicar.
Voltemos à teoria do movimento da mesa.
Se, pelo meio indicado, o Espírito pode suspender uma mesa, também pode
suspender qualquer outra coisa: uma poltrona, por exemplo. Se pode levantar uma
poltrona, também pode, tendo força suficiente, levantá-la com uma pessoa
assentada nela. Aí está a explicação do fenômeno que o Sr. Home produziu
inúmeras vezes consigo mesmo e com outras pessoas. Repetiu-o durante uma viagem
a Londres e, para provar que os espectadores não eram joguetes de uma ilusão de
ótica, fez no forro, enquanto suspenso, uma marca a lápis e que muitas pessoas
lhe passassem por baixo. Sabe-se que o Sr. Home é um médium de efeitos físicos.
Naquele caso, era ao mesmo tempo a causa eficiente e o objeto.”
O Livro dos Médiuns - 79 e 80 .
__________________________________________
“Venho,
como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar
as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem
de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom,
o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a
doutrina divinal. Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da
Humanidade e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis.”
Mas, ingratos, os homens afastaram-se do
caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas
sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que,
ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne,
porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não
mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a
clamar: Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova
buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se
desenvolverão como o cedro.
Homens fracos, que compreendeis as trevas
das vossas inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o caminho
e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.
Sinto-me por demais tomado de compaixão
pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão
socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do
erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis
o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.
Espíritas! amai-vos, este o primeiro
ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as
verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do
além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: “Irmãos! nada perece.
Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade.”
O
Espírito de Verdade
O Evangelho Segundo o Espiritismo 6 - 5.
_____________________
_____________________
A SRA. ANAIS GOURDON
“Era
muito jovem e notável pela doçura do caráter e de eminentes qualidades morais
que a distinguiam, tendo falecido em novembro de 1860. Pertencia a uma família
de mineiros dos arredores de Saint-Étienne, circunstância que torna
interessante sua posição espiritual.
Evocação: — R. Presente.
— P. Vosso pai e vosso marido pediram-me
para evocar-vos, e felizes se julgariam se obtivessem uma comunicação.
— R. Eu também sou feliz em dá-la.
— P. Por que tão cedo vos furtastes aos
carinhos da família?
— R. Porque terminei as provações
terrenas.
— P. Podeis ver algumas vezes os vossos
parentes?
— R. Oh! estou sempre ao lado deles.
— P. Sois feliz como Espírito?
— R. Sou feliz. Amo e espero. Os céus não
me infundem temor, e cheia de confiança aguardo que asas brancas me alcem até
eles.
— P. Que entendeis por asas brancas?
— R. Tornar-me Espírito puro, resplandecer
como os mensageiros celestes que me ofuscam.
As asas dos anjos, arcanjos, serafins, que
não passam de Espíritos puros, são evidentemente apenas um atributo pelos
homens imaginado para dar ideia da rapidez com que se transportam, visto como a
sua natureza etérea os dispensa de qualquer amparo para fender os espaços.
Contudo, eles podem aparecer aos homens com tal acessório para lhes
corresponderem ao pensamento, assim como os Espíritos se revestem da aparência terrestre
a fim de se fazerem cognoscíveis.
— P. Podem os vossos parentes fazer algo
em vosso favor?
— R. Podem, caros irmãos, não mais me
entristecendo com as suas lamentações, pois sabem que não estou perdida de todo
para eles. Desejo que a recordação de meu ser lhes seja suave e doce. Passei
qual flor sobre a Terra, e nada de pesaroso deve subsistir dessa passagem.
— P. Como pode ser tão poética a vossa
linguagem, e tão pouco em harmonia com a posição que tivestes na Terra?
— R. É que a minha alma é quem fala. Sim,
eu tinha conhecimentos adquiridos e Deus permite muitas vezes que Espíritos
delicados encarnem entre os homens mais rústicos, para fazer-lhes pressentir as
delicadezas ao seu alcance, que compreenderão mais tarde.
Sem esta explicação tão lógica,
consentânea com a solicitude de Deus para com as criaturas, dificilmente se
compreenderia o que à primeira vista parecerá anomalia. De fato, que pode haver
de mais belo, poético e gracioso que a linguagem desta jovem educada entre
rudes operários? Dá-se o contrário muitas vezes: — Espíritos inferiores encarnam entre os mais
adiantados homens, porém, com fito oposto. É visando o seu próprio adiantamento
que Deus os põe em contacto com um meio esclarecido, e, às vezes, também como
instrumento de provação desse mundo. Que outra filosofia pode resolver tais
problemas?”
O Céu e o Inferno 2ª Parte - 2.
__________________________________________
“No ponto a que chegou em o século
dezenove, venceu a Ciência todas as dificuldades do problema da Gênese?
Não, decerto; mas, não há contestar que
destruiu, sem remissão, todos os erros capitais e lhe lançou os fundamentos essenciais
sobre dados irrecusáveis. Os pontos ainda duvidosos não passam, a bem dizer, de
questões de minúcias, cuja solução, qualquer que venha a ser no futuro, não
poderá prejudicar o conjunto. Ao demais, malgrado aos recursos que ela há tido
à sua disposição, faltou-lhe, até agora, um elemento importante, sem o qual
jamais a obra poderia completar-se.
De todas as Gêneses antigas, a que mais se
aproxima dos modernos dados científicos, sem embargo dos erros que contém,
postos hoje em evidência, é incontestavelmente a de Moisés. Alguns desses erros
são mesmo mais aparentes do que reais e provêm, ou de falsa interpretação
atribuída a certos termos, cuja primitiva significação se perdeu, ao passarem
de língua em língua pela tradução, ou cuja acepção mudou com os costumes dos povos, ou, também, decorrem
da forma alegórica peculiar ao estilo oriental e que foi tomada ao pé da letra,
em vez de se lhe procurar o espírito.”
A Gênese 4 - 4 e 5.
__________________________________________
21
de setembro de 1861
“A pedido do Sr. Lachâtre, então residente
em Barcelona, eu lhe enviara certa quantidade de O
Livro dos Espíritos, de O Livro dos Médiuns,
das coleções da Revista Espírita,
além de diversas obras e brochuras espíritas, perfazendo um total de cerca de
300 volumes. A expedição da encomenda fora regularmente feita pelo seu
correspondente em Paris, num caixão que continha outras mercadorias e sem a
menor infração da legalidade. À chegada dos livros, fizeram que o destinatário
pagasse os direitos de entrada, mas, antes de os entregarem, houve que ser
entregue uma relação das obras ao bispo, pois, naquele país, a polícia de
livraria competia à autoridade eclesiástica. O bispo se achava então em Madri.
Ao regressar, tomando conhecimento da relação dos livros, ordenou que eles
fossem apreendidos e queimados em praça pública pela mão do carrasco. A
execução da sentença foi marcada para 9 de outubro de 1861.
Se se houvesse tentado introduzir aquelas
obras como contrabando, a autoridade espanhola teria o direito de dispor delas
à sua vontade; mas, desde que absolutamente não havia fraude, nem surpresa,
como o provava o pagamento espontâneo dos direitos, fora de rigorosa justiça
que se ordenasse a reexportação dos volumes, uma vez que não convinha se lhes
admitisse a entrada. Ficaram, porém, sem resultado as reclamações apresentadas
por intermédio do Cônsul francês em Barcelona. O Sr. Lachâtre me perguntou se
valeria a pena recorrer à autoridade superior. Opinei por que se deixasse
consumar o ato arbitrário; entendi, porém, acertado ouvir a opinião do meu guia
espiritual.
Pergunta (à
Verdade) — Não ignoras, sem dúvida, o que acaba de passar-se em Barcelona, com
algumas obras espíritas. Quererás ter a bondade de dizer-me se convirá
prosseguir na reclamação para restituição delas?
Resposta — Por
direito, podes reclamá-las e conseguirias que te fossem restituídas, se te
dirigisses ao Ministro de Estrangeiros da França. Mas, ao meu parecer, desse
auto-de-fé resultará maior bem do que o
que adviria da leitura de alguns volumes. A perda material nada é, a par da
repercussão que semelhante fato produzirá em favor da Doutrina. Deves
compreender quanto uma perseguição tão ridícula, quanto atrasada, poderá fazer
a bem do progresso do Espiritismo na Espanha. A queima dos livros determinará
uma grande expansão das ideias espíritas e uma procura febricitante das obras
dessa doutrina. As ideias se disseminarão lá com maior rapidez e as obras serão
procuradas com maior avidez, desde que as tenham queimado. Tudo vai bem.
P. — Convirá que eu
escreva a respeito um artigo para o próximo número da Revista?
R. —
Espera o auto-de-fé.”
Obras
Póstumas – AUTO-DE-FÉ EM BARCELONA. APREENSÃO DOS LIVROS
“Quando se produz o vácuo na campânula da máquina pneumática, essa campânula adere com força tal ao seu suporte, que impossível se torna suspendê-la, devido ao peso da coluna de ar que sobre ela faz pressão. Deixe-se entrar o ar e a campânula pode ser levantada com a maior facilidade, porque o ar que lhe fica por baixo contrabalança o ar que, pela parte exterior, a comprime. Contudo, se ninguém lhe tocar, ela permanecerá assente no suporte, por efeito da lei de gravidade. Agora, comprima-se-lhe o ar no interior, dê-se-lhe densidade maior que a do que está por fora, e a campânula se erguerá, apesar da gravidade. Se a corrente de ar for violenta e rápida, a mesma campânula se manterá suspensa no espaço, sem nenhum ponto visível de apoio, à guisa desses bonecos que se fazem rodopiar em cima de um repuxo d’água. Por que então o fluido universal, que é o elemento de toda a Natureza, acumulado em torno da mesa, não poderia ter a propriedade de lhe diminuir ou aumentar o peso específico relativo, como faz o ar com a campânula da máquina pneumática, como faz o gás hidrogênio com os balões, sem que para isso seja necessária a derrogação da lei de gravidade? Conheceis, porventura, todas as propriedades e todo o poder desse fluido? Não. Pois, então, não negueis a realidade de um fato, apenas por não o poderdes explicar.
Voltemos à teoria do movimento da mesa.
Se, pelo meio indicado, o Espírito pode suspender uma mesa, também pode
suspender qualquer outra coisa: uma poltrona, por exemplo. Se pode levantar uma
poltrona, também pode, tendo força suficiente, levantá-la com uma pessoa
assentada nela. Aí está a explicação do fenômeno que o Sr. Home produziu
inúmeras vezes consigo mesmo e com outras pessoas. Repetiu-o durante uma viagem
a Londres e, para provar que os espectadores não eram joguetes de uma ilusão de
ótica, fez no forro, enquanto suspenso, uma marca a lápis e que muitas pessoas
lhe passassem por baixo. Sabe-se que o Sr. Home é um médium de efeitos físicos.
Naquele caso, era ao mesmo tempo a causa eficiente e o objeto.”
O Livro dos Médiuns - 79 e 80 .
“Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel, trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro, reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis.”
Mas, ingratos, os homens afastaram-se do
caminho reto e largo que conduz ao reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas
sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana; quer que,
ajudando-vos uns aos outros, mortos e vivos, isto é, mortos segundo a carne,
porquanto não existe a morte, vos socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não
mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a
clamar: Orai e crede! pois que a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova
buscada e durante a qual as virtudes que houverdes cultivado crescerão e se
desenvolverão como o cedro.
Homens fracos, que compreendeis as trevas
das vossas inteligências, não afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o caminho
e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai.
Sinto-me por demais tomado de compaixão
pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa, para deixar de estender mão
socorredora aos infelizes transviados que, vendo o céu, caem nos abismos do
erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são reveladas; não mistureis
o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.
Espíritas! amai-vos, este o primeiro
ensinamento; instruí-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as
verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Eis que do
além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos clamam: “Irmãos! nada perece.
Jesus-Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade.”
O
Espírito de Verdade
O Evangelho Segundo o Espiritismo 6 - 5.
A SRA. ANAIS GOURDON
“Era
muito jovem e notável pela doçura do caráter e de eminentes qualidades morais
que a distinguiam, tendo falecido em novembro de 1860. Pertencia a uma família
de mineiros dos arredores de Saint-Étienne, circunstância que torna
interessante sua posição espiritual.
Evocação: — R. Presente.
— P. Vosso pai e vosso marido pediram-me
para evocar-vos, e felizes se julgariam se obtivessem uma comunicação.
— R. Eu também sou feliz em dá-la.
— P. Por que tão cedo vos furtastes aos
carinhos da família?
— R. Porque terminei as provações
terrenas.
— P. Podeis ver algumas vezes os vossos
parentes?
— R. Oh! estou sempre ao lado deles.
— P. Sois feliz como Espírito?
— R. Sou feliz. Amo e espero. Os céus não
me infundem temor, e cheia de confiança aguardo que asas brancas me alcem até
eles.
— P. Que entendeis por asas brancas?
— R. Tornar-me Espírito puro, resplandecer
como os mensageiros celestes que me ofuscam.
As asas dos anjos, arcanjos, serafins, que
não passam de Espíritos puros, são evidentemente apenas um atributo pelos
homens imaginado para dar ideia da rapidez com que se transportam, visto como a
sua natureza etérea os dispensa de qualquer amparo para fender os espaços.
Contudo, eles podem aparecer aos homens com tal acessório para lhes
corresponderem ao pensamento, assim como os Espíritos se revestem da aparência terrestre
a fim de se fazerem cognoscíveis.
— P. Podem os vossos parentes fazer algo
em vosso favor?
— R. Podem, caros irmãos, não mais me
entristecendo com as suas lamentações, pois sabem que não estou perdida de todo
para eles. Desejo que a recordação de meu ser lhes seja suave e doce. Passei
qual flor sobre a Terra, e nada de pesaroso deve subsistir dessa passagem.
— P. Como pode ser tão poética a vossa
linguagem, e tão pouco em harmonia com a posição que tivestes na Terra?
— R. É que a minha alma é quem fala. Sim,
eu tinha conhecimentos adquiridos e Deus permite muitas vezes que Espíritos
delicados encarnem entre os homens mais rústicos, para fazer-lhes pressentir as
delicadezas ao seu alcance, que compreenderão mais tarde.
Sem esta explicação tão lógica,
consentânea com a solicitude de Deus para com as criaturas, dificilmente se
compreenderia o que à primeira vista parecerá anomalia. De fato, que pode haver
de mais belo, poético e gracioso que a linguagem desta jovem educada entre
rudes operários? Dá-se o contrário muitas vezes: — Espíritos inferiores encarnam entre os mais
adiantados homens, porém, com fito oposto. É visando o seu próprio adiantamento
que Deus os põe em contacto com um meio esclarecido, e, às vezes, também como
instrumento de provação desse mundo. Que outra filosofia pode resolver tais
problemas?”
O Céu e o Inferno 2ª Parte - 2.
“No ponto a que chegou em o século
dezenove, venceu a Ciência todas as dificuldades do problema da Gênese?
Não, decerto; mas, não há contestar que
destruiu, sem remissão, todos os erros capitais e lhe lançou os fundamentos essenciais
sobre dados irrecusáveis. Os pontos ainda duvidosos não passam, a bem dizer, de
questões de minúcias, cuja solução, qualquer que venha a ser no futuro, não
poderá prejudicar o conjunto. Ao demais, malgrado aos recursos que ela há tido
à sua disposição, faltou-lhe, até agora, um elemento importante, sem o qual
jamais a obra poderia completar-se.
De todas as Gêneses antigas, a que mais se
aproxima dos modernos dados científicos, sem embargo dos erros que contém,
postos hoje em evidência, é incontestavelmente a de Moisés. Alguns desses erros
são mesmo mais aparentes do que reais e provêm, ou de falsa interpretação
atribuída a certos termos, cuja primitiva significação se perdeu, ao passarem
de língua em língua pela tradução, ou cuja acepção mudou com os costumes dos povos, ou, também, decorrem
da forma alegórica peculiar ao estilo oriental e que foi tomada ao pé da letra,
em vez de se lhe procurar o espírito.”
A Gênese 4 - 4 e 5.
21
de setembro de 1861
“A pedido do Sr. Lachâtre, então residente
em Barcelona, eu lhe enviara certa quantidade de O
Livro dos Espíritos, de O Livro dos Médiuns,
das coleções da Revista Espírita,
além de diversas obras e brochuras espíritas, perfazendo um total de cerca de
300 volumes. A expedição da encomenda fora regularmente feita pelo seu
correspondente em Paris, num caixão que continha outras mercadorias e sem a
menor infração da legalidade. À chegada dos livros, fizeram que o destinatário
pagasse os direitos de entrada, mas, antes de os entregarem, houve que ser
entregue uma relação das obras ao bispo, pois, naquele país, a polícia de
livraria competia à autoridade eclesiástica. O bispo se achava então em Madri.
Ao regressar, tomando conhecimento da relação dos livros, ordenou que eles
fossem apreendidos e queimados em praça pública pela mão do carrasco. A
execução da sentença foi marcada para 9 de outubro de 1861.
Se se houvesse tentado introduzir aquelas
obras como contrabando, a autoridade espanhola teria o direito de dispor delas
à sua vontade; mas, desde que absolutamente não havia fraude, nem surpresa,
como o provava o pagamento espontâneo dos direitos, fora de rigorosa justiça
que se ordenasse a reexportação dos volumes, uma vez que não convinha se lhes
admitisse a entrada. Ficaram, porém, sem resultado as reclamações apresentadas
por intermédio do Cônsul francês em Barcelona. O Sr. Lachâtre me perguntou se
valeria a pena recorrer à autoridade superior. Opinei por que se deixasse
consumar o ato arbitrário; entendi, porém, acertado ouvir a opinião do meu guia
espiritual.
Pergunta (à
Verdade) — Não ignoras, sem dúvida, o que acaba de passar-se em Barcelona, com
algumas obras espíritas. Quererás ter a bondade de dizer-me se convirá
prosseguir na reclamação para restituição delas?
Resposta — Por
direito, podes reclamá-las e conseguirias que te fossem restituídas, se te
dirigisses ao Ministro de Estrangeiros da França. Mas, ao meu parecer, desse
auto-de-fé resultará maior bem do que o
que adviria da leitura de alguns volumes. A perda material nada é, a par da
repercussão que semelhante fato produzirá em favor da Doutrina. Deves
compreender quanto uma perseguição tão ridícula, quanto atrasada, poderá fazer
a bem do progresso do Espiritismo na Espanha. A queima dos livros determinará
uma grande expansão das ideias espíritas e uma procura febricitante das obras
dessa doutrina. As ideias se disseminarão lá com maior rapidez e as obras serão
procuradas com maior avidez, desde que as tenham queimado. Tudo vai bem.
P. — Convirá que eu
escreva a respeito um artigo para o próximo número da Revista?
R. —
Espera o auto-de-fé.”
Obras
Póstumas – AUTO-DE-FÉ EM BARCELONA. APREENSÃO DOS LIVROS
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