“Tais fatos
assumem, não raro, o caráter de verdadeiras perseguições. Conhecemos seis irmãs
que moravam juntas e que, durante muitos anos, todas as manhãs encontravam suas
roupas espalhadas, rasgadas e cortadas em pedaços, por mais que tomassem a precaução
de guardá-las à chave. A muitas pessoas tem acontecido que, estando deitadas, mas completamente
acordadas,
lhes sacudam os cortinados da cama, tirem com violência as cobertas, levantem os
travesseiros e mesmo as joguem fora do leito. Fatos destes são muito mais frequentes
do que se pensa; porém, as mais das vezes, os que deles são vítimas nada ousam
dizer, de medo do ridículo. Somos sabedores de que, por causa desses fatos, se
tem pretendido curar, como atacados de alucinações, alguns indivíduos, submetendo-os
ao tratamento a que se sujeitam os alienados, o que os torna realmente loucos.
A Medicina não pode compreender estas coisas, por não admitir, entre as causas
que as determinam, senão o elemento material; donde, erros frequentemente funestos.
A história descreverá um dia certos tratamentos em uso no século dezenove, como
se narram hoje certos processos de cura da Idade Média.
Admitimos perfeitamente que alguns casos
são obra da malícia ou da malvadez. Porém, se tudo bem averiguado, provado ficar
que não resultam da ação do homem, dever-se-á convir em que são obra, ou do
diabo, como dirão uns, ou dos Espíritos, como dizemos nós. Mas de que
Espíritos?
Os Espíritos superiores, do mesmo modo
que, entre nós, os homens retos e sérios, não se divertem a fazer charivaris.
Temos por diversas vezes chamado aqueles Espíritos, para lhes perguntar por que
motivo perturbam assim a tranquilidade dos outros. Na sua maioria, fazem-no apenas
para se divertirem. São mais levianos do que maus, que se riem dos terrores que
causam e das pesquisas inúteis que se empreendem para a descoberta da causa do
tumulto. Agarram-se com frequência a um indivíduo, comprazendo-se em o
atormentarem e perseguirem de casa em casa. Doutras vezes, apegam-se a um
lugar, por mero capricho. Também, não raro, exercem por essa forma uma vingança,
como teremos ocasião de ver.
Em alguns casos, mais louvável é a
intenção a que cedem: procuram chamar a atenção e pôr-se em comunicação com
certas pessoas, quer para lhes darem um aviso proveitoso, quer com o fim de
lhes pedirem qualquer coisa para si mesmos. Muitos temos visto que pedem
preces; outros que solicitam o cumprimento, em nome deles, de votos que não
puderam cumprir; outros, ainda, que desejam, no interesse do próprio repouso,
reparar uma ação má que praticaram quando vivos.
Em geral, é um erro ter-se medo. A
presença desses Espíritos pode ser importuna, porém, não perigosa. Concebe-se,
aliás, que toda gente deseja ver-se livre deles; mas, geralmente, as que isso
desejam fazem o contrário do que deveriam fazer para consegui-lo. Se se trata
de Espíritos que se divertem, quanto mais ao sério se tomarem as coisas, tanto
mais eles persistirão, como crianças travessas, que tanto mais molestam as
pessoas, quanto mais estas se impacientam, e que metem medo aos poltrões. Se
todos tomassem o alvitre sensato de rir das suas partidas, eles acabariam por
se cansar e ficar quietos. Conhecemos alguém que, longe de se irritar, os
excitava, desafiando-os a fazerem tal ou tal coisa, de modo que, ao cabo de
poucos dias, não mais voltaram.
Porém, como dissemos acima, alguns há que
assim procedem por motivo menos frívolo. Daí vem que é sempre bom saber-se o
que querem. Se pedem qualquer coisa, pode-se estar certo de que, satisfeitos os
seus desejos, não renovarão as visitas. O melhor meio de nos informarmos a tal respeito
consiste em evocarmos o Espírito, por um bom médium escrevente. Pelas suas
respostas, veremos imediatamente com quem estamos às voltas e obraremos de
conformidade com o esclarecimento colhido. Se se trata de um Espírito infeliz,
manda a caridade que lhe dispensemos as atenções que mereça. Se é um engraçado
de mau gosto, podemos proceder desembaraçadamente com ele. Se um malvado,
devemos rogar a Deus que o torne melhor. Qualquer que seja o caso, a prece
nunca deixa de dar bom resultado. As fórmulas graves de exorcismo, essas os
fazem rir; nenhuma importância lhes ligam. Sendo possível entrar em comunicação
com eles, deve-se sempre desconfiar dos qualificativos burlescos, ou apavorantes,
que dão a si mesmos, para se divertirem com a credulidade dos que acolhem como
verdadeiros tais qualificativos.
Nos capítulos referentes aos lugares
assombrados e às obsessões, consideraremos com mais pormenores este assunto e as causas da
ineficácia das preces em muitos casos.”
O Livro dos Médiuns - 89 e 90 .
__________________________________________
“Por essa ocasião, os discípulos se
aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: “Quem é o maior no reino dos céus?” –
Jesus, chamando a si um menino, o colocou no meio deles e respondeu: “Digo-vos,
em verdade, que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não
entrareis no reino dos céus. – Aquele, portanto, que se humilhar e se
tornar pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus – e aquele que recebe
em meu nome a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe.”
(S. MATEUS, 18:1
a 5.)
Então, a mãe dos filhos de Zebedeu
se aproximou dele com seus dois filhos e o adorou, dando a entender que lhe queria pedir alguma coisa. – Disse-lhe
ele: “Que queres?” “Manda, disse ela, que estes meus dois filhos tenham assento
no teu reino, um à tua direita e o outro à tua esquerda.”– Mas, Jesus lhe
respondeu: “Não sobes o que pedes; podeis vós ambos beber o cálice que eu vou
beber?” Eles responderam: “Podemos.” – Jesus lhes replicou: “É certo que
bebereis o cálice que eu beber; mas, pelo que respeita a vos sentardes à minha
direita ou à minha esquerda, não me cabe a mim vo-lo conceder; isso será para aqueles
a quem meu Pai o tem preparado.”– Ouvindo isso, os dez outros apóstolos se
encheram de indignação contra os dois irmãos. – Jesus, chamando-os para perto
de si, lhes disse: “Sabeis que os príncipes das nações as dominam e que os
grandes as tratam com império. – Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que quiser
tornar-se o maior, seja vosso servo; – e aquele que quiser ser o primeiro entre
vós seja
vosso
escravo; –
do mesmo modo que o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e
dar a vida pela redenção de muitos.”
(S. MATEUS, 20:20
a 28.)
Jesus entrou em dia de sábado na casa de um
dos principais fariseus para aí fazer a sua refeição. Os que lá estavam o
observaram. – Então, notando que os convidados escolhiam os primeiros lugares,
propôs-lhes uma parábola, dizendo: “Quando
fordes convidados para bodas, não tomeis o primeiro lugar, para que não suceda
que, havendo entre os convidados uma pessoa mais considerada do que vós, aquele
que vos haja convidado venha a dizer-vos: dai o vosso lugar a este, e vos vejais
constrangidos a ocupar, cheios de vergonha, o último lugar. – Quando fordes
convidados, ide colocar-vos no último lugar, a fim de que, quando aquele que
vos convidou chegar, vos diga: meu amigo, venha mais para cima. Isso então será
para vós um motivo de glória, diante de todos os que estiverem convosco à mesa;
– porquanto
todo aquele que se eleva será rebaixado e todo aquele que se abaixa será
elevado.”
(S. Lucas, 14:1 e
7 a 11.)
“Estas máximas decorrem do princípio de
humildade que Jesus não cessa de apresentar como condição essencial da felicidade
prometida aos eleitos do Senhor e que ele formulou assim: “Bem-aventurados os
pobres de espírito, pois que o reino dos céus lhes pertence.” Ele toma uma
criança como tipo da simplicidade de coração e diz: “Será o maior no reino dos
céus aquele que se humilhar e se fizer pequeno como uma criança, isto é, que nenhuma
pretensão alimentar à superioridade ou à infalibilidade.
A mesma ideia fundamental se nos depara
nesta outra máxima: Seja vosso servidor aquele que quiser tornar-se o maior, e nesta outra: Aquele que se
humilhar será exalçado e aquele que se elevar será rebaixado.
O Espiritismo sanciona pelo exemplo a
teoria, mostrando-nos na posição de grandes no mundo dos Espíritos os que eram
pequenos na Terra; e bem pequenos, muitas vezes, os que na Terra eram os
maiores e os mais poderosos. E que os primeiros, ao morrerem, levaram consigo
aquilo que faz a verdadeira grandeza no céu e que não se perde nunca: as
virtudes, ao passo que os outros tiveram de deixar aqui o que lhes constituía a
grandeza terrena e que se não leva para a outra vida: a riqueza, os títulos, a
glória, a nobreza do nascimento. Nada mais possuindo senão isso chegam ao outro
mundo privados de tudo, como náufragos que tudo perderam, até as próprias
roupas. Conservaram apenas o orgulho que mais humilhante lhes torna a nova posição,
porquanto veem colocados acima de si e resplandecentes de glória os que eles na
Terra espezinharam.
O Espiritismo aponta-nos outra aplicação
do mesmo princípio nas encarnações sucessivas, mediante as quais os que, numa
existência, ocuparam as mais elevadas posições, descem, em existência seguinte,
às mais ínfimas condições, desde que os tenham dominado o orgulho e a ambição. Não
procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos
outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar
mais humilde e mais modesto, porquanto Deus saberá dar-vos um mais elevado no
céu, se o merecerdes.”
O Evangelho Segundo o Espiritismo 7 - 3 a 6.
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_____________________
5. “Logo após o
definitivo desprendimento reconhecestes o vosso estado? — R. Não; eu só me
reconheci durante a transição que o meu Espírito experimentou para percorrer a etérea
região. Isto, porém, não ocorreu imediatamente, sendo-me precisos alguns dias
para o meu despertar.
Deus concedera-me uma graça, em razão do
que vos vou explicar: A minha primitiva descrença não mais existia; tornara-me
crente antes da morte, depois de haver cientificamente
sondado com gravidade a matéria que me atormentava, de não haver encontrado ao
fim das razões terrestres senão a razão divina, que me inspirou e consolou, dando-me
coragem mais forte que a dor. Assim, bendizia o que amaldiçoara, encarava a
morte como uma libertação. A ideia de Deus é grande como o mundo! Oh! que supremo
consolo na prece, que nos enternece e comove: ela é o elemento mais positivo da
nossa natureza imaterial; foi por ela que compreendi, que cri firme,
soberanamente, e, por isso, Deus, levando em conta os meus atos, houve por bem
recompensar-me antes do termo da minha encarnação.
6. Poder-se-ia dizer que estivestes morto
nessa primeira crise? — R. Sim e não: tendo o Espírito abandonado o corpo, naturalmente
a carne extinguia-se; entretanto, retomando posse da morada terrena, a vida
voltou ao corpo, que passou por uma transição, por um sono.
7. E sentíeis então os laços que vos
prendiam ao corpo? — R. Sem dúvida; o Espírito tem um grilhão fortíssimo a prendê-lo,
e não entra na vida natural antes que dê o último estremecimento da carne.
8. Como, pois, na vossa morte aparente e
durante alguns minutos, pôde o vosso Espírito desprender-se súbita e imperturbavelmente,
ao passo que o desprendimento efetivo se fez acompanhar da perturbação por
alguns dias? Parece-nos que no primeiro caso, os laços entre corpo e Espírito subsistindo
mais que no segundo, o desprendimento deverá ser mais lento, ao contrário justamente do que
se deu. — R. Tendes muitas vezes evocado um Espírito encarnado, recebendo
respostas exatas; eu estava nas condições desses tais, porque Deus me chamava e
os seus servidores me diziam: — “Vem...” Obedeci, agradecendo-lhe o favor especial
que houve por bem conceder-me para que pudesse entrever, compreendendo-a, a sua
infinita grandeza. Obrigado a vós, que antes da morte real me permitistes
doutrinar os meus, para que façam boas e justas encarnações.
9. Donde provinham as belas palavras que
após o despertar dirigistes à vossa família? — R. Eram o reflexo do que tinha
visto e ouvido; os bons Espíritos inspiravam-me a linguagem e davam fulgor à
minha fisionomia.
10. Que impressão julgais ter a vossa
revelação produzido nos assistentes, notadamente nos vossos filhos? — R.
Surpreendente, profunda; a morte não é mentirosa; os filhos, por mais ingratos
que possam ser, curvam-se sempre à encarnação que termina. Se pudéssemos
penetrar o coração dos filhos, junto de um túmulo entreaberto, vê-lo-íamos
apenas palpitar de sentimentos verdadeiros, sinceros, tocados pela mão secreta
dos Espíritos, que dizem em todos os pensamentos: Tremei se duvidais; a morte é
a reparação, a justiça de Deus, e eu vos asseguro, em que pese aos incrédulos,
que a minha família e os amigos creram nas palavras por mim pronunciadas antes
da morte. Eu era, ao demais, intérprete de um outro mundo.
11. Dizendo não gozardes da felicidade
entrevista, pode inferir-se que sejais infeliz? — R. Não, uma vez que me tornei
crente antes da morte, e isto de coração
e consciência. A dor acabrunha nesse mundo, mas fortalece sob o ponto de vista
do futuro espiritual. Notai que Deus teve em conta as minhas preces e a crença
nEle depositada em absoluto; estou firme no caminho da perfeição, e chegarei ao
fim que me foi permitido lobrigar. Orai, meus amigos, por este mundo invisível
que preside aos vossos destinos; esta permuta fraternal é de caridade; é a
alavanca que põe em comunhão os Espíritos de todos os mundos.
12. Acaso quereríeis dirigir algumas palavras
à vossa mulher e filhos? — R. Peço a todos os meus que acreditem no Deus
poderoso, justo, imutável; na prece que consola e alivia; na caridade que é a
mais pura prática da encarnação humana; peço-lhes que se lembrem que do pouco
também se pode dar, pois o óbolo do pobre é o mais meritório aos olhos de Deus,
desse Deus que sabe que muito dá um pobre, mesmo que dê pouco.
“O rico precisa dar muito, e
repetidamente, para merecer outro tanto. O futuro é a caridade, a benevolência
em todos os atos; é considerar que todos os Espíritos são irmãos, sem se
preocupar jamais com as mil pueris vaidades da Terra.
“Tereis rudes provações, querida, amada
família; aceitaias, porém, corajosamente, lembrando-vos de que Deus as vê.
Repeti amiúde esta prece: — “Deus de amor e bondade, que tudo faculta e sempre,
dá-nos força superior a todas as vicissitudes, torna-nos bons, humildes e caridosos,
pequenos pela fortuna e grandes de coração. Permite seja espírita o nosso
Espírito na Terra, a fim de melhor te compreendermos e te amarmos.
“Seja teu nome emblema de liberdade, oh!
meu Deus! — O consolador de todos os oprimidos, de todos os que necessitam
amar, perdoar e crer.”
Cardon
O Céu e o Inferno 2ª - 3.
__________________________________________
“Dessas
divergências no tocante ao futuro do homem nasceram a dúvida e a incredulidade.
Entretanto, a incredulidade dá lugar a um penoso vácuo. O homem encara com
ansiedade o desconhecido em que tem
fatalmente de penetrar. Gela-o a ideia do nada. Diz-lhe a consciência que alguma
coisa lhe está reservada para além do presente. Que será? Sua razão, com o
desenvolvimento que alcançou, já lhe não permite admitir as histórias com que o
acalentaram na infância, nem aceitar como realidade a alegoria. Qual o sentido
dessa alegoria? A Ciência lhe rasgou um canto do véu; não lhe revelou, porém, o
que mais lhe importa saber. Ele interroga em vão, nada lhe responde ela de maneira
peremptória e apropriada a lhe acalmar as apreensões. Por toda parte depara com
a afirmação a se chocar com a negação, sem que de um lado ou de outro se apresentem
provas positivas. Daí a incerteza, e a incerteza sobre o que
concerne à vida futura faz que o homem se atire, tomado de uma
espécie de frenesi, para as coisas da vida material.
Esse o inevitável efeito das épocas de
transição: rui o edifício do passado, sem que ainda o do futuro se ache construído.
O homem se assemelha ao adolescente que, já não tendo a crença ingênua dos seus
primeiros anos, ainda não possui os conhecimentos próprios da maturidade. Apenas
sente vagas aspirações, que não sabe definir.
Se a questão do homem espiritual
permaneceu, até aos dias atuais, em estado de teoria, é que faltavam os meios de
observação direta, existentes para comprovar o estado do mundo material,
conservando-se, portanto, aberto o campo às concepções do espírito humano.
Enquanto o homem não conheceu as leis que regem a matéria e não pôde aplicar o
método experimental, andou a errar de sistema em sistema, no tocante ao
mecanismo do Universo e à formação da
Terra. O que se deu na ordem física, deu-se também na ordem moral. Para fixar
as ideias, faltou o elemento essencial: o conhecimento das leis a que se acha
sujeito o princípio espiritual. Estava reservado à nossa época esse conhecimento,
como o esteve aos dois últimos séculos o das leis da matéria.
Até ao presente, o estudo do princípio
espiritual, compreendido na Metafísica, foi puramente especulativo e teórico. No
Espiritismo, é inteiramente experimental. Com o auxílio da faculdade mediúnica,
mais desenvolvida presentemente e, sobretudo, generalizada e mais bem estudada,
o homem se achou de posse de um novo instrumento de observação. A mediunidade
foi, para o mundo espiritual, o que o telescópio foi para o mundo astral e o
microscópio para o dos infinitamente pequenos. Permitiu se explorassem, estudassem,
por assim dizer, de visu, as relações daquele mundo com o mundo corpóreo; que, no
homem vivo, se destacasse do ser material o ser inteligente e que se
observassem os dois a atuar separadamente. Uma vez estabelecidas relações com
os habitantes do mundo espiritual, possível se tornou ao homem seguir a alma em
sua marcha ascendente, em suas migrações, em suas transformações. Pode-se,
enfim, estudar o elemento espiritual. Eis aí o de que careciam os anteriores
comentadores da Gênese, para a compreenderem e lhe retificarem os erros.
Estando o mundo espiritual e o mundo
material em incessante contacto, os dois são solidários; ambos têm a sua parcela
de ação na Gênese. Sem o conhecimento das leis que regem o primeiro, tão
impossível seria constituir-se uma Gênese completa, quanto a um estatuário dar
vida a uma estátua. Somente agora, conquanto nem a Ciência material, nem a
Ciência espiritual hajam dito a última palavra, possui o homem os dois
elementos próprios a lançar luz sobre esse imenso problema. Eram-lhe
absolutamente indispensáveis essas duas chaves para chegar a uma solução,
embora aproximativa.”
A Gênese 4 - 14 a 17.
“A Terra freme de
alegria; aproxima-se o dia do Senhor; todos os que entre nós estão à frente
disputam porfiadamente por entrar na liça. Já o Espírito de algumas valorosas almas
encarnadas agitam seus corpos até quase despedaçá-los. A carne interdita não
sabe o que há de pensar, desconhecido fogo a devora. Elas serão libertadas,
porque chegaram os tempos. Uma eternidade está a ponto de expirar, uma
eternidade gloriosa vai despontar em breve e Deus conta seus filhos.
O reinado do ouro cederá lugar a um
reinado mais puro; o pensamento será dentro em pouco soberano e os Espíritos de
escol, que hão vindo desde remotas eras iluminar os séculos em que viveram e
servir de balizas aos séculos vindouros, encarnarão entre vós. Que digo? Muitos
se acham encarnados. A sábia palavra deles será uma chama destruidora, que
causará devastações irreparáveis no seio dos velhos abusos. Quantos prejuízos
antigos vão desmoronar em bloco, quando o Espírito, como uma acha de duplo
gume, vier decepá-los pelos fundamentos.
Sim, os pais do progresso do espírito
humano deixaram, uns, as suas moradas radiosas; outros, grandes trabalhos, em
que a felicidade se junta ao prazer de instruir-se, para retomarem o bastão de
peregrinos, que apenas haviam deposto no limiar do templo da Ciência, e daqui a
pouco, dos quatro cantos do globo, os sábios oficiais ouvirão, apavorados,
jovens imberbes a lhes retorquir, numa linguagem profunda, aos argumentos que
eles julgavam irrefutáveis. O sorriso zombeteiro já não constituirá um escudo
que valha e, sob pena de desmoralização, forçoso será responder. Então, o
círculo vicioso em que se metem os mestres da vã filosofia mostrar-se-á
completamente, porquanto os novos campeões levam consigo não só um facho, que é
a inteligência desimpedida dos véus grosseiros, senão também muitos dentre eles
gozarão desse estado particular, que é privilégio das grandes almas, como
Jesus, e que dá o poder de curar e de operar essas maravilhas chamadas milagres.
Diante dos fatos materiais, em que o Espírito se mostra tão superior à matéria, como negar
os Espíritos? O materialismo será abatido em seus discursos por uma palavra
mais eloquente do que a sua e pelo fato patente, positivo e averiguado por
todos, visto que grandes e pequenos, novos Tomés, poderão tocar com o dedo.
O velho mundo carcomido estala por toda
parte; o velho mundo acaba e com ele todos esses velhos dogmas, que só reluzem
ainda pelo dourado que os cobre. Espíritos valorosos, cabe-vos a tarefa de
raspar esse ouro falso. Para trás, vós que em vão quereis escorar o velho
ídolo. Atingido de todos os lados, ele vai ruir e vos arrastará na sua queda.
Para trás, todos vós negadores do
progresso; para trás, com as vossas crenças de uma época que se foi. Por que negais
o progresso e vos esforçais por detê-lo? É que, desejando sobrepujar,
sobrepujar ainda e sempre, condensastes o vosso pensamento em artigos de fé,
clamando para a Humanidade: “Serás sempre criança e nós que temos a iluminação do
alto, estamos destinados a conduzir-te.”
Mas, já tendes visto ficar-vos nas mãos as
andadeiras da infância; e a criança salta diante de vós e ainda negais que ela
possa caminhar sozinha! Será chicoteando-a com as andadeiras destinadas a
sustentá-la que provareis a autoridade dos vossos argumentos? Não, e bem o
sentis; mas, é tão agradável, a quem se diz infalível, crer que os outros ainda
depositam fé nessa infalibilidade, em que nem vós mesmos acreditais!
Ah! que de gemidos não se soltam no
santuário! É aí que, prestando-se ouvido atento, se escutam os cochichos dolorosos.
Que dizeis, então, pobres obstinados? Que a mão de Deus se abate sobre a sua
Igreja? Que por toda parte a imprensa livre vos ataca e pulveriza os vossos
argumentos? Onde estará o novo Crisóstomo, cuja potente palavra reduzirá a nada
esse dilúvio de raciocinadores? Em vão o esperais; nada mais podem as vossas
mais vigorosas e mais conceituadas penas. Elas se obstinam em agarrar-se ao passado
que se vai, quando a nova geração, num impulso irresistível que a impele para a
frente, exclama: Não, nada de passado; a nós o futuro; nova aurora se ergue e é
para lá que tendem as nossas aspirações!
Avante! diz ela; alargai a estrada, os
irmãos nos seguem. Ide com a onda que nos arrasta; necessitamos do movimento,
que é vida, ao passo que vós nos apresentais a imobilidade, que é a morte. Os
vossos santos mártires absolutamente não estão mortos, para que lhes
imobilizeis o presente. Eles entreviram a nossa época e se lançaram à morte
como à estrada que havia de conduzi-los lá. A cada época o seu gênio. Queremos
lançar-nos à vida, porquanto os séculos vindouros, que divisamos, têm horror à
morte.
Eis aí, meus amigos, o que os valorosos
Espíritos que presentemente encarnam vão tornar compreensível. Este século não
terminará sem que muitos destroços junquem o solo. A guerra mortífera e
fratricida desaparecerá em breve diante da discussão; o espírito substituirá a
força brutal. Depois que todas essas almas generosas houverem combatido, voltarão
ao vosso mundo espiritual, para receberem a coroa do
vencedor.
Aí está a meta, meus amigos. Por demais
aguerridos são os campeões, para que seja duvidoso o êxito. Deus escolheu a
nata dos seus combatentes e a vitória é alcançada para a Humanidade.
Rejubilai-vos, pois, todos vós que
aspirais à felicidade e que desejais participem dela os vossos irmãos, como vós
mesmos: o dia chegou! A Terra trepida de alegria, porquanto vai assistir ao
começo do reinado da paz que o Cristo, o divino Mestre, prometeu, reinado cujos
fundamentos ele desceu a assentar.
Um Espírito
Lyon, 30 de
janeiro de 1866.
Obras Póstumas – A Nova Geração.
“Tais fatos assumem, não raro, o caráter de verdadeiras perseguições. Conhecemos seis irmãs que moravam juntas e que, durante muitos anos, todas as manhãs encontravam suas roupas espalhadas, rasgadas e cortadas em pedaços, por mais que tomassem a precaução de guardá-las à chave. A muitas pessoas tem acontecido que, estando deitadas, mas completamente acordadas, lhes sacudam os cortinados da cama, tirem com violência as cobertas, levantem os travesseiros e mesmo as joguem fora do leito. Fatos destes são muito mais frequentes do que se pensa; porém, as mais das vezes, os que deles são vítimas nada ousam dizer, de medo do ridículo. Somos sabedores de que, por causa desses fatos, se tem pretendido curar, como atacados de alucinações, alguns indivíduos, submetendo-os ao tratamento a que se sujeitam os alienados, o que os torna realmente loucos. A Medicina não pode compreender estas coisas, por não admitir, entre as causas que as determinam, senão o elemento material; donde, erros frequentemente funestos. A história descreverá um dia certos tratamentos em uso no século dezenove, como se narram hoje certos processos de cura da Idade Média.
Admitimos perfeitamente que alguns casos
são obra da malícia ou da malvadez. Porém, se tudo bem averiguado, provado ficar
que não resultam da ação do homem, dever-se-á convir em que são obra, ou do
diabo, como dirão uns, ou dos Espíritos, como dizemos nós. Mas de que
Espíritos?
Os Espíritos superiores, do mesmo modo
que, entre nós, os homens retos e sérios, não se divertem a fazer charivaris.
Temos por diversas vezes chamado aqueles Espíritos, para lhes perguntar por que
motivo perturbam assim a tranquilidade dos outros. Na sua maioria, fazem-no apenas
para se divertirem. São mais levianos do que maus, que se riem dos terrores que
causam e das pesquisas inúteis que se empreendem para a descoberta da causa do
tumulto. Agarram-se com frequência a um indivíduo, comprazendo-se em o
atormentarem e perseguirem de casa em casa. Doutras vezes, apegam-se a um
lugar, por mero capricho. Também, não raro, exercem por essa forma uma vingança,
como teremos ocasião de ver.
Em alguns casos, mais louvável é a
intenção a que cedem: procuram chamar a atenção e pôr-se em comunicação com
certas pessoas, quer para lhes darem um aviso proveitoso, quer com o fim de
lhes pedirem qualquer coisa para si mesmos. Muitos temos visto que pedem
preces; outros que solicitam o cumprimento, em nome deles, de votos que não
puderam cumprir; outros, ainda, que desejam, no interesse do próprio repouso,
reparar uma ação má que praticaram quando vivos.
Em geral, é um erro ter-se medo. A
presença desses Espíritos pode ser importuna, porém, não perigosa. Concebe-se,
aliás, que toda gente deseja ver-se livre deles; mas, geralmente, as que isso
desejam fazem o contrário do que deveriam fazer para consegui-lo. Se se trata
de Espíritos que se divertem, quanto mais ao sério se tomarem as coisas, tanto
mais eles persistirão, como crianças travessas, que tanto mais molestam as
pessoas, quanto mais estas se impacientam, e que metem medo aos poltrões. Se
todos tomassem o alvitre sensato de rir das suas partidas, eles acabariam por
se cansar e ficar quietos. Conhecemos alguém que, longe de se irritar, os
excitava, desafiando-os a fazerem tal ou tal coisa, de modo que, ao cabo de
poucos dias, não mais voltaram.
Porém, como dissemos acima, alguns há que
assim procedem por motivo menos frívolo. Daí vem que é sempre bom saber-se o
que querem. Se pedem qualquer coisa, pode-se estar certo de que, satisfeitos os
seus desejos, não renovarão as visitas. O melhor meio de nos informarmos a tal respeito
consiste em evocarmos o Espírito, por um bom médium escrevente. Pelas suas
respostas, veremos imediatamente com quem estamos às voltas e obraremos de
conformidade com o esclarecimento colhido. Se se trata de um Espírito infeliz,
manda a caridade que lhe dispensemos as atenções que mereça. Se é um engraçado
de mau gosto, podemos proceder desembaraçadamente com ele. Se um malvado,
devemos rogar a Deus que o torne melhor. Qualquer que seja o caso, a prece
nunca deixa de dar bom resultado. As fórmulas graves de exorcismo, essas os
fazem rir; nenhuma importância lhes ligam. Sendo possível entrar em comunicação
com eles, deve-se sempre desconfiar dos qualificativos burlescos, ou apavorantes,
que dão a si mesmos, para se divertirem com a credulidade dos que acolhem como
verdadeiros tais qualificativos.
Nos capítulos referentes aos lugares
assombrados e às obsessões, consideraremos com mais pormenores este assunto e as causas da
ineficácia das preces em muitos casos.”
O Livro dos Médiuns - 89 e 90 .
“Por essa ocasião, os discípulos se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram: “Quem é o maior no reino dos céus?” – Jesus, chamando a si um menino, o colocou no meio deles e respondeu: “Digo-vos, em verdade, que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus. – Aquele, portanto, que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus – e aquele que recebe em meu nome a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe.”
(S. MATEUS, 18:1
a 5.)
Então, a mãe dos filhos de Zebedeu
se aproximou dele com seus dois filhos e o adorou, dando a entender que lhe queria pedir alguma coisa. – Disse-lhe
ele: “Que queres?” “Manda, disse ela, que estes meus dois filhos tenham assento
no teu reino, um à tua direita e o outro à tua esquerda.”– Mas, Jesus lhe
respondeu: “Não sobes o que pedes; podeis vós ambos beber o cálice que eu vou
beber?” Eles responderam: “Podemos.” – Jesus lhes replicou: “É certo que
bebereis o cálice que eu beber; mas, pelo que respeita a vos sentardes à minha
direita ou à minha esquerda, não me cabe a mim vo-lo conceder; isso será para aqueles
a quem meu Pai o tem preparado.”– Ouvindo isso, os dez outros apóstolos se
encheram de indignação contra os dois irmãos. – Jesus, chamando-os para perto
de si, lhes disse: “Sabeis que os príncipes das nações as dominam e que os
grandes as tratam com império. – Assim não deve ser entre vós; ao contrário, aquele que quiser
tornar-se o maior, seja vosso servo; – e aquele que quiser ser o primeiro entre
vós seja
vosso
escravo; –
do mesmo modo que o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e
dar a vida pela redenção de muitos.”
(S. MATEUS, 20:20
a 28.)
Jesus entrou em dia de sábado na casa de um
dos principais fariseus para aí fazer a sua refeição. Os que lá estavam o
observaram. – Então, notando que os convidados escolhiam os primeiros lugares,
propôs-lhes uma parábola, dizendo: “Quando
fordes convidados para bodas, não tomeis o primeiro lugar, para que não suceda
que, havendo entre os convidados uma pessoa mais considerada do que vós, aquele
que vos haja convidado venha a dizer-vos: dai o vosso lugar a este, e vos vejais
constrangidos a ocupar, cheios de vergonha, o último lugar. – Quando fordes
convidados, ide colocar-vos no último lugar, a fim de que, quando aquele que
vos convidou chegar, vos diga: meu amigo, venha mais para cima. Isso então será
para vós um motivo de glória, diante de todos os que estiverem convosco à mesa;
– porquanto
todo aquele que se eleva será rebaixado e todo aquele que se abaixa será
elevado.”
(S. Lucas, 14:1 e
7 a 11.)
“Estas máximas decorrem do princípio de
humildade que Jesus não cessa de apresentar como condição essencial da felicidade
prometida aos eleitos do Senhor e que ele formulou assim: “Bem-aventurados os
pobres de espírito, pois que o reino dos céus lhes pertence.” Ele toma uma
criança como tipo da simplicidade de coração e diz: “Será o maior no reino dos
céus aquele que se humilhar e se fizer pequeno como uma criança, isto é, que nenhuma
pretensão alimentar à superioridade ou à infalibilidade.
A mesma ideia fundamental se nos depara
nesta outra máxima: Seja vosso servidor aquele que quiser tornar-se o maior, e nesta outra: Aquele que se
humilhar será exalçado e aquele que se elevar será rebaixado.
O Espiritismo sanciona pelo exemplo a
teoria, mostrando-nos na posição de grandes no mundo dos Espíritos os que eram
pequenos na Terra; e bem pequenos, muitas vezes, os que na Terra eram os
maiores e os mais poderosos. E que os primeiros, ao morrerem, levaram consigo
aquilo que faz a verdadeira grandeza no céu e que não se perde nunca: as
virtudes, ao passo que os outros tiveram de deixar aqui o que lhes constituía a
grandeza terrena e que se não leva para a outra vida: a riqueza, os títulos, a
glória, a nobreza do nascimento. Nada mais possuindo senão isso chegam ao outro
mundo privados de tudo, como náufragos que tudo perderam, até as próprias
roupas. Conservaram apenas o orgulho que mais humilhante lhes torna a nova posição,
porquanto veem colocados acima de si e resplandecentes de glória os que eles na
Terra espezinharam.
O Espiritismo aponta-nos outra aplicação
do mesmo princípio nas encarnações sucessivas, mediante as quais os que, numa
existência, ocuparam as mais elevadas posições, descem, em existência seguinte,
às mais ínfimas condições, desde que os tenham dominado o orgulho e a ambição. Não
procureis, pois, na Terra, os primeiros lugares, nem vos colocar acima dos
outros, se não quiserdes ser obrigados a descer. Buscai, ao contrário, o lugar
mais humilde e mais modesto, porquanto Deus saberá dar-vos um mais elevado no
céu, se o merecerdes.”
O Evangelho Segundo o Espiritismo 7 - 3 a 6.
5. “Logo após o definitivo desprendimento reconhecestes o vosso estado? — R. Não; eu só me reconheci durante a transição que o meu Espírito experimentou para percorrer a etérea região. Isto, porém, não ocorreu imediatamente, sendo-me precisos alguns dias para o meu despertar.
Deus concedera-me uma graça, em razão do
que vos vou explicar: A minha primitiva descrença não mais existia; tornara-me
crente antes da morte, depois de haver cientificamente
sondado com gravidade a matéria que me atormentava, de não haver encontrado ao
fim das razões terrestres senão a razão divina, que me inspirou e consolou, dando-me
coragem mais forte que a dor. Assim, bendizia o que amaldiçoara, encarava a
morte como uma libertação. A ideia de Deus é grande como o mundo! Oh! que supremo
consolo na prece, que nos enternece e comove: ela é o elemento mais positivo da
nossa natureza imaterial; foi por ela que compreendi, que cri firme,
soberanamente, e, por isso, Deus, levando em conta os meus atos, houve por bem
recompensar-me antes do termo da minha encarnação.
6. Poder-se-ia dizer que estivestes morto
nessa primeira crise? — R. Sim e não: tendo o Espírito abandonado o corpo, naturalmente
a carne extinguia-se; entretanto, retomando posse da morada terrena, a vida
voltou ao corpo, que passou por uma transição, por um sono.
7. E sentíeis então os laços que vos
prendiam ao corpo? — R. Sem dúvida; o Espírito tem um grilhão fortíssimo a prendê-lo,
e não entra na vida natural antes que dê o último estremecimento da carne.
8. Como, pois, na vossa morte aparente e
durante alguns minutos, pôde o vosso Espírito desprender-se súbita e imperturbavelmente,
ao passo que o desprendimento efetivo se fez acompanhar da perturbação por
alguns dias? Parece-nos que no primeiro caso, os laços entre corpo e Espírito subsistindo
mais que no segundo, o desprendimento deverá ser mais lento, ao contrário justamente do que
se deu. — R. Tendes muitas vezes evocado um Espírito encarnado, recebendo
respostas exatas; eu estava nas condições desses tais, porque Deus me chamava e
os seus servidores me diziam: — “Vem...” Obedeci, agradecendo-lhe o favor especial
que houve por bem conceder-me para que pudesse entrever, compreendendo-a, a sua
infinita grandeza. Obrigado a vós, que antes da morte real me permitistes
doutrinar os meus, para que façam boas e justas encarnações.
9. Donde provinham as belas palavras que
após o despertar dirigistes à vossa família? — R. Eram o reflexo do que tinha
visto e ouvido; os bons Espíritos inspiravam-me a linguagem e davam fulgor à
minha fisionomia.
10. Que impressão julgais ter a vossa
revelação produzido nos assistentes, notadamente nos vossos filhos? — R.
Surpreendente, profunda; a morte não é mentirosa; os filhos, por mais ingratos
que possam ser, curvam-se sempre à encarnação que termina. Se pudéssemos
penetrar o coração dos filhos, junto de um túmulo entreaberto, vê-lo-íamos
apenas palpitar de sentimentos verdadeiros, sinceros, tocados pela mão secreta
dos Espíritos, que dizem em todos os pensamentos: Tremei se duvidais; a morte é
a reparação, a justiça de Deus, e eu vos asseguro, em que pese aos incrédulos,
que a minha família e os amigos creram nas palavras por mim pronunciadas antes
da morte. Eu era, ao demais, intérprete de um outro mundo.
11. Dizendo não gozardes da felicidade
entrevista, pode inferir-se que sejais infeliz? — R. Não, uma vez que me tornei
crente antes da morte, e isto de coração
e consciência. A dor acabrunha nesse mundo, mas fortalece sob o ponto de vista
do futuro espiritual. Notai que Deus teve em conta as minhas preces e a crença
nEle depositada em absoluto; estou firme no caminho da perfeição, e chegarei ao
fim que me foi permitido lobrigar. Orai, meus amigos, por este mundo invisível
que preside aos vossos destinos; esta permuta fraternal é de caridade; é a
alavanca que põe em comunhão os Espíritos de todos os mundos.
12. Acaso quereríeis dirigir algumas palavras
à vossa mulher e filhos? — R. Peço a todos os meus que acreditem no Deus
poderoso, justo, imutável; na prece que consola e alivia; na caridade que é a
mais pura prática da encarnação humana; peço-lhes que se lembrem que do pouco
também se pode dar, pois o óbolo do pobre é o mais meritório aos olhos de Deus,
desse Deus que sabe que muito dá um pobre, mesmo que dê pouco.
“O rico precisa dar muito, e
repetidamente, para merecer outro tanto. O futuro é a caridade, a benevolência
em todos os atos; é considerar que todos os Espíritos são irmãos, sem se
preocupar jamais com as mil pueris vaidades da Terra.
“Tereis rudes provações, querida, amada
família; aceitaias, porém, corajosamente, lembrando-vos de que Deus as vê.
Repeti amiúde esta prece: — “Deus de amor e bondade, que tudo faculta e sempre,
dá-nos força superior a todas as vicissitudes, torna-nos bons, humildes e caridosos,
pequenos pela fortuna e grandes de coração. Permite seja espírita o nosso
Espírito na Terra, a fim de melhor te compreendermos e te amarmos.
“Seja teu nome emblema de liberdade, oh!
meu Deus! — O consolador de todos os oprimidos, de todos os que necessitam
amar, perdoar e crer.”
Cardon
O Céu e o Inferno 2ª - 3.
“Dessas divergências no tocante ao futuro do homem nasceram a dúvida e a incredulidade. Entretanto, a incredulidade dá lugar a um penoso vácuo. O homem encara com ansiedade o desconhecido em que tem fatalmente de penetrar. Gela-o a ideia do nada. Diz-lhe a consciência que alguma coisa lhe está reservada para além do presente. Que será? Sua razão, com o desenvolvimento que alcançou, já lhe não permite admitir as histórias com que o acalentaram na infância, nem aceitar como realidade a alegoria. Qual o sentido dessa alegoria? A Ciência lhe rasgou um canto do véu; não lhe revelou, porém, o que mais lhe importa saber. Ele interroga em vão, nada lhe responde ela de maneira peremptória e apropriada a lhe acalmar as apreensões. Por toda parte depara com a afirmação a se chocar com a negação, sem que de um lado ou de outro se apresentem provas positivas. Daí a incerteza, e a incerteza sobre o que concerne à vida futura faz que o homem se atire, tomado de uma espécie de frenesi, para as coisas da vida material.
Esse o inevitável efeito das épocas de
transição: rui o edifício do passado, sem que ainda o do futuro se ache construído.
O homem se assemelha ao adolescente que, já não tendo a crença ingênua dos seus
primeiros anos, ainda não possui os conhecimentos próprios da maturidade. Apenas
sente vagas aspirações, que não sabe definir.
Se a questão do homem espiritual
permaneceu, até aos dias atuais, em estado de teoria, é que faltavam os meios de
observação direta, existentes para comprovar o estado do mundo material,
conservando-se, portanto, aberto o campo às concepções do espírito humano.
Enquanto o homem não conheceu as leis que regem a matéria e não pôde aplicar o
método experimental, andou a errar de sistema em sistema, no tocante ao
mecanismo do Universo e à formação da
Terra. O que se deu na ordem física, deu-se também na ordem moral. Para fixar
as ideias, faltou o elemento essencial: o conhecimento das leis a que se acha
sujeito o princípio espiritual. Estava reservado à nossa época esse conhecimento,
como o esteve aos dois últimos séculos o das leis da matéria.
Até ao presente, o estudo do princípio
espiritual, compreendido na Metafísica, foi puramente especulativo e teórico. No
Espiritismo, é inteiramente experimental. Com o auxílio da faculdade mediúnica,
mais desenvolvida presentemente e, sobretudo, generalizada e mais bem estudada,
o homem se achou de posse de um novo instrumento de observação. A mediunidade
foi, para o mundo espiritual, o que o telescópio foi para o mundo astral e o
microscópio para o dos infinitamente pequenos. Permitiu se explorassem, estudassem,
por assim dizer, de visu, as relações daquele mundo com o mundo corpóreo; que, no
homem vivo, se destacasse do ser material o ser inteligente e que se
observassem os dois a atuar separadamente. Uma vez estabelecidas relações com
os habitantes do mundo espiritual, possível se tornou ao homem seguir a alma em
sua marcha ascendente, em suas migrações, em suas transformações. Pode-se,
enfim, estudar o elemento espiritual. Eis aí o de que careciam os anteriores
comentadores da Gênese, para a compreenderem e lhe retificarem os erros.
Estando o mundo espiritual e o mundo
material em incessante contacto, os dois são solidários; ambos têm a sua parcela
de ação na Gênese. Sem o conhecimento das leis que regem o primeiro, tão
impossível seria constituir-se uma Gênese completa, quanto a um estatuário dar
vida a uma estátua. Somente agora, conquanto nem a Ciência material, nem a
Ciência espiritual hajam dito a última palavra, possui o homem os dois
elementos próprios a lançar luz sobre esse imenso problema. Eram-lhe
absolutamente indispensáveis essas duas chaves para chegar a uma solução,
embora aproximativa.”
A Gênese 4 - 14 a 17.
“A Terra freme de alegria; aproxima-se o dia do Senhor; todos os que entre nós estão à frente disputam porfiadamente por entrar na liça. Já o Espírito de algumas valorosas almas encarnadas agitam seus corpos até quase despedaçá-los. A carne interdita não sabe o que há de pensar, desconhecido fogo a devora. Elas serão libertadas, porque chegaram os tempos. Uma eternidade está a ponto de expirar, uma eternidade gloriosa vai despontar em breve e Deus conta seus filhos.
O reinado do ouro cederá lugar a um
reinado mais puro; o pensamento será dentro em pouco soberano e os Espíritos de
escol, que hão vindo desde remotas eras iluminar os séculos em que viveram e
servir de balizas aos séculos vindouros, encarnarão entre vós. Que digo? Muitos
se acham encarnados. A sábia palavra deles será uma chama destruidora, que
causará devastações irreparáveis no seio dos velhos abusos. Quantos prejuízos
antigos vão desmoronar em bloco, quando o Espírito, como uma acha de duplo
gume, vier decepá-los pelos fundamentos.
Sim, os pais do progresso do espírito
humano deixaram, uns, as suas moradas radiosas; outros, grandes trabalhos, em
que a felicidade se junta ao prazer de instruir-se, para retomarem o bastão de
peregrinos, que apenas haviam deposto no limiar do templo da Ciência, e daqui a
pouco, dos quatro cantos do globo, os sábios oficiais ouvirão, apavorados,
jovens imberbes a lhes retorquir, numa linguagem profunda, aos argumentos que
eles julgavam irrefutáveis. O sorriso zombeteiro já não constituirá um escudo
que valha e, sob pena de desmoralização, forçoso será responder. Então, o
círculo vicioso em que se metem os mestres da vã filosofia mostrar-se-á
completamente, porquanto os novos campeões levam consigo não só um facho, que é
a inteligência desimpedida dos véus grosseiros, senão também muitos dentre eles
gozarão desse estado particular, que é privilégio das grandes almas, como
Jesus, e que dá o poder de curar e de operar essas maravilhas chamadas milagres.
Diante dos fatos materiais, em que o Espírito se mostra tão superior à matéria, como negar
os Espíritos? O materialismo será abatido em seus discursos por uma palavra
mais eloquente do que a sua e pelo fato patente, positivo e averiguado por
todos, visto que grandes e pequenos, novos Tomés, poderão tocar com o dedo.
O velho mundo carcomido estala por toda
parte; o velho mundo acaba e com ele todos esses velhos dogmas, que só reluzem
ainda pelo dourado que os cobre. Espíritos valorosos, cabe-vos a tarefa de
raspar esse ouro falso. Para trás, vós que em vão quereis escorar o velho
ídolo. Atingido de todos os lados, ele vai ruir e vos arrastará na sua queda.
Para trás, todos vós negadores do
progresso; para trás, com as vossas crenças de uma época que se foi. Por que negais
o progresso e vos esforçais por detê-lo? É que, desejando sobrepujar,
sobrepujar ainda e sempre, condensastes o vosso pensamento em artigos de fé,
clamando para a Humanidade: “Serás sempre criança e nós que temos a iluminação do
alto, estamos destinados a conduzir-te.”
Mas, já tendes visto ficar-vos nas mãos as
andadeiras da infância; e a criança salta diante de vós e ainda negais que ela
possa caminhar sozinha! Será chicoteando-a com as andadeiras destinadas a
sustentá-la que provareis a autoridade dos vossos argumentos? Não, e bem o
sentis; mas, é tão agradável, a quem se diz infalível, crer que os outros ainda
depositam fé nessa infalibilidade, em que nem vós mesmos acreditais!
Ah! que de gemidos não se soltam no
santuário! É aí que, prestando-se ouvido atento, se escutam os cochichos dolorosos.
Que dizeis, então, pobres obstinados? Que a mão de Deus se abate sobre a sua
Igreja? Que por toda parte a imprensa livre vos ataca e pulveriza os vossos
argumentos? Onde estará o novo Crisóstomo, cuja potente palavra reduzirá a nada
esse dilúvio de raciocinadores? Em vão o esperais; nada mais podem as vossas
mais vigorosas e mais conceituadas penas. Elas se obstinam em agarrar-se ao passado
que se vai, quando a nova geração, num impulso irresistível que a impele para a
frente, exclama: Não, nada de passado; a nós o futuro; nova aurora se ergue e é
para lá que tendem as nossas aspirações!
Avante! diz ela; alargai a estrada, os
irmãos nos seguem. Ide com a onda que nos arrasta; necessitamos do movimento,
que é vida, ao passo que vós nos apresentais a imobilidade, que é a morte. Os
vossos santos mártires absolutamente não estão mortos, para que lhes
imobilizeis o presente. Eles entreviram a nossa época e se lançaram à morte
como à estrada que havia de conduzi-los lá. A cada época o seu gênio. Queremos
lançar-nos à vida, porquanto os séculos vindouros, que divisamos, têm horror à
morte.
Eis aí, meus amigos, o que os valorosos Espíritos que presentemente encarnam vão tornar compreensível. Este século não terminará sem que muitos destroços junquem o solo. A guerra mortífera e fratricida desaparecerá em breve diante da discussão; o espírito substituirá a força brutal. Depois que todas essas almas generosas houverem combatido, voltarão ao vosso mundo espiritual, para receberem a coroa do vencedor.
Aí está a meta, meus amigos. Por demais
aguerridos são os campeões, para que seja duvidoso o êxito. Deus escolheu a
nata dos seus combatentes e a vitória é alcançada para a Humanidade.
Rejubilai-vos, pois, todos vós que
aspirais à felicidade e que desejais participem dela os vossos irmãos, como vós
mesmos: o dia chegou! A Terra trepida de alegria, porquanto vai assistir ao
começo do reinado da paz que o Cristo, o divino Mestre, prometeu, reinado cujos
fundamentos ele desceu a assentar.
Um Espírito
Lyon, 30 de
janeiro de 1866.
Obras Póstumas – A Nova Geração.
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