“Em resumo, sobre esse ponto capital da teologia cristã, assim como Deus, em seu poder Criador, tira as almas do nada, as tríades não se pronunciam de maneira precisa. Depois de terem revelado Deus em sua esfera eterna e inacessível, elas mostram simplesmente as almas originando-se nas camadas mais profundas do Universo, no abismo (annoufn); daí passam para o círculo das migrações (abred), onde seu destino é determinado através de uma série de existências, conforme o bom ou mau uso que hajam feito de sua liberdade; e, por fim, elevam-se ao círculo supremo (gwynfyd), onde as migrações cessam, onde não mais se morre e onde a vida transcorre em completa felicidade, em tudo conservando sua atividade perpétua e a plena consciência de sua individualidade. Seria preciso, com efeito, que o druidismo caísse no erro das teologias orientais, que levam o homem a ser finalmente absorvido no seio imutável da Divindade, porquanto, ao contrário, distingue um círculo especial, o círculo do vazio ou do infinito (ceugant), que forma o privilégio incomunicável do Ser supremo e no qual nenhum ser, seja qual for o seu grau de santidade, jamais poderá penetrar. É o ponto mais elevado da religião, visto marcar o limite fixado ao progresso das criaturas.
“O traço mais característico dessa
teologia, se bem seja um traço puramente negativo, consiste na ausência de um
círculo particular, tal qual o Tártaro da Antiguidade pagã, destinado à punição
sem fim das almas criminosas. Entre os druidas, o inferno propriamente dito não
existe. A
seus olhos, a distribuição dos castigos efetua-se, no círculo das migrações, pelo
comprometimento das almas em condições de existência mais ou menos infelizes, onde,
sempre senhoras de sua liberdade, expiam suas faltas pelo sofrimento e se
predispõem, pela reforma de seus vícios, a um futuro melhor. Em certos casos pode
mesmo acontecer que as almas retrogradem até aquela região do annoufn, onde se originam e à
qual quase não se pode dar outro significado senão o da animalidade. Por esse
lado perigoso (a retrogradação), que nada justifica, visto que a diversidade
das condições de existência no círculo da Humanidade é perfeitamente suficiente
à penalidade de todos os graus, o druidismo teria, então, chegado a resvalar
até a metempsicose. Mas esse extremo deplorável, ao qual não conduz nenhuma necessidade
da doutrina do
desenvolvimento
das almas pela vida das migrações, como se verá pela série de tríades relativas
ao regime do círculo de abred, parece ter ocupado, no sistema da religião, apenas um lugar
secundário.
“Salvo algumas obscuridades, que talvez resultem de uma língua cujas sutilezas metafísicas não nos são ainda bem conhecidas, as declarações das tríades relativas às condições inerentes ao círculo de abred espargem as mais vivas luzes sobre o conjunto da religião druídica. Respira-se aí um sopro de superior originalidade. O mistério que oferece à nossa inteligência o espetáculo de nossa existência atual adquire nela uma feição singular, que não se encontra em parte alguma; dir-se-ia que um grande véu, rompendo-se antes e depois da vida, permite à alma navegar, de repente, com uma força inesperada, através de uma extensão indefinida de que ela própria jamais suspeitou, em virtude de seu encarceramento entre as espessas portas do nascimento e da morte. Seja qual for o julgamento a que cheguemos, quanto à verdade dessa doutrina, não podemos deixar de convir que é poderosa. Refletindo sobre o efeito que esses princípios inevitavelmente deviam produzir sobre as almas ingênuas, sua origem e seu destino, é fácil dar-se conta da imensa influência que os druidas haviam naturalmente adquirido sobre o espírito de nossos antepassados. Em meio às trevas da Antiguidade, esses ministros sagrados não podiam deixar de aparecer, aos olhos das populações, como os reveladores do Céu e da Terra.”
Revista Espírita 04/1858 – O Espiritismo entre os Druidas.
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– Entretanto - objetei -, seria
interessante colher notícias dos nossos amados em trânsito na Terra. Não daria
isso mais tranquilidade à alma?
Lísias, que permanecia junto ao receptor,
sem ligá-lo, como interessado em me fornecer explicações mais amplas,
acrescentou:
– Observe a si mesmo, a fim de ver se
valeria a pena. Está preparado, por exemplo, para manter a precisa serenidade,
esperando com fé e agindo com os preceitos divinos, em sabendo que um filho de
seu coração está caluniado ou caluniando? Se alguém o informasse, agora, de que
um dos seus irmãos consanguíneos foi hoje encarcerado como criminoso, teria
bastante força para conservar-se tranquilo?
Sorri, desapontado.
– Não devemos procurar notícias dos planos
inferiores - prosseguiu, solícito - senão para levar auxílios justos.
Convenhamos, porém, que a criatura alguma auxiliará com justiça, experimentando
desequilíbrios do sentimento e do raciocínio. Por isso, é indispensável a
preparação conveniente, antes de novos contatos com os parentes terrenos. Se
eles oferecessem campo adequado ao amor espiritual, o intercâmbio seria
desejável; mas esmagadora porcentagem de encarnados não alcançou, ainda, nem
mesmo o domínio próprio e vive às tontas, nos altos e baixos das flutuações de
ordem material. Precisamos, embora as dificuldades sentimentais, evitar a queda
nos círculos vibratórios inferiores.
Contudo, evidenciando minha teimosia
caprichosa, indaguei:
– Mas, Lísias, você que tem um amigo
encarnado, qual seu pai, não gostaria de comunicar-se com ele?
– Sem dúvida - respondeu bondosamente -,
quando merecemos essa alegria, visitamo-lo em sua nova forma, verificando-se o mesmo,
quando se trata de qualquer expressão de intercâmbio entre ele e nós. Não
devemos esquecer, entretanto, que somos criaturas falíveis. Necessitamos, pois,
recorrer aos órgãos competentes, que determinem a oportunidade ou o merecimento
exigidos. Para esse fim, temos o Ministério da Comunicação. Acresce notar que,
da esfera superior, é possível descer à inferior com mais facilidade. Existem,
contudo, certas leis que mandam compreender devidamente os que se encontram nas
zonas mais baixas. É tão importante saber falar como saber ouvir. "Nosso
Lar" vivia em perturbações porque, não sabendo ouvir, não podia auxiliar com
êxito e a colônia transformava-se, frequentemente, em campo de confusão.”
Nosso Lar - 23.
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